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Alemanha, motor econômico da Europa, começa a falhar

Embora o governo alemão tenha demonstrado habilidade para superar crises no passado, a questão agora é se pode seguir uma estratégia sustentável

Décadas de política energética falha, o fim dos carros com motor a combustão e uma transição lenta para novas tecnologias convergem para representar a ameaça mais fundamental à prosperidade da Alemanha desde a reunificação (Stefan Sauer/picture alliance via Getty Images/Getty Images)

Décadas de política energética falha, o fim dos carros com motor a combustão e uma transição lenta para novas tecnologias convergem para representar a ameaça mais fundamental à prosperidade da Alemanha desde a reunificação (Stefan Sauer/picture alliance via Getty Images/Getty Images)

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Agência de notícias

Publicado em 26 de maio de 2023 às 17h30.

Última atualização em 26 de maio de 2023 às 18h04.

A Alemanha tem sido o motor econômico da Europa há décadas ao resgatar a região de uma crise após a outra. Mas essa resiliência começa a desmoronar e envia um sinal de perigo para todo o continente.

Décadas de política energética falha, o fim dos carros com motor a combustão e uma transição lenta para novas tecnologias convergem para representar a ameaça mais fundamental à prosperidade da nação desde a reunificação. Mas, ao contrário de 1990, a classe política carece de liderança para enfrentar as questões estruturais que corroem o cerne da competitividade do país.

“Temos sido ingênuos como sociedade, porque tudo parece bem”, disse o CEO da Basf, Martin Brudermüller, em entrevista à Bloomberg. “Esses problemas que temos na Alemanha estão se acumulando. Temos um período de mudança pela frente; não sei se todos percebem isso.”

Embora o governo alemão tenha demonstrado habilidade para superar as crises no passado, a questão agora é se pode seguir uma estratégia sustentável. A perspectiva parece remota. Assim que os riscos de escassez de energia diminuíram, a coalizão improvisada do chanceler Olaf Scholz se voltou a disputas internas em diversas áreas, como dívidas e gastos, bombas de calor e limites de velocidade.

Mas os sinais de alerta já são difíceis de ignorar. Apesar de Scholz ter dito à Bloomberg em janeiro que a Alemanha superaria a crise de energia da Rússia sem uma recessão este ano, dados publicados na quinta-feira mostram que a economia está de fato em retração desde outubro e se expandiu apenas duas vezes nos últimos cinco trimestres.

Economistas veem o crescimento do PIB alemão abaixo do restante da região nos próximos anos, e o Fundo Monetário Internacional estima que a Alemanha terá o pior desempenho da economia do G7 este ano. No entanto, Scholz novamente parecia otimista.

“As perspectivas para a economia alemã são muito boas”, disse a repórteres em Berlim após os últimos dados econômicos. Ao desbloquear as forças do mercado e reduzir a burocracia, “estamos resolvendo os desafios que enfrentamos”.

O risco é que os números mais recentes não sejam pontuais, mas o sinal do que está por vir.

A Alemanha não está preparada para atender de forma sustentável às necessidades energéticas de sua base industrial; excessivamente dependente da engenharia tradicional; e com falta de agilidade política e comercial para se concentrar em setores de crescimento mais rápido. A gama de desafios estruturais aponta um frio despertar para o centro do poder europeu, acostumado à opulência ininterrupta.

A questão mais premente para a Alemanha é colocar sua transição energética nos trilhos. Energia acessível é uma pré-condição fundamental para a competitividade industrial e, mesmo antes do fim do fornecimento do gás russo, a Alemanha tinha um dos custos de eletricidade mais altos da Europa. O fracasso em estabilizar a situação pode levar alguns fabricantes para outro lugar em debandada.

Estímulo à inovação

A potência econômica da Europa parece ter um sistema bem financiado e estabelecido para gerar ideias e manter sua economia na vanguarda. O gasto com pesquisa e desenvolvimento é o quarto maior do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Japão. Cerca de um terço das patentes registradas na Europa vêm da Alemanha, segundo dados do Escritório Mundial de Patentes.

Grande parte do poder de inovação, porém, está embutida em grandes empresas como Siemens e Volkswagen e focada em indústrias bem estabelecidas. Embora os pequenos fabricantes ainda prosperem, o número de novas startups tem diminuído na Alemanha – em contraste com o crescimento observado em outras economias desenvolvidas, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A BYD recentemente ultrapassou a Volkswagen como maior vendedora de carros na China (Qilai Shen/Bloomberg)

As razões incluem o excesso de burocracia – os registros de empresas muitas vezes ocorrem em papel – e uma aversão cultural ao risco. O financiamento também é um problema. O investimento de venture capital na Alemanha totalizou US$ 11,7 bilhões em 2022, em comparação com US$ 234,5 bilhões nos EUA, de acordo com a DealRoom. A Alemanha também trabalha sob um sistema acadêmico lento e não tem uma única universidade entre as 25 melhores do ranking mais recente da Times Higher Education.

Em relatório recente, a OCDE colocou a escala dos desafios de forma clara: “Nenhuma grande economia industrializada jamais teve a própria base de sua competitividade e resiliência tão sistematicamente desafiada por mudanças nas pressões sociais, ambientais e regulatórias”.

Isso, por sua vez, vai se espalhar por todo o continente, de acordo com Dana Allin, professor da SAIS Europe. “A saúde da economia alemã é crucial para a economia europeia em geral e para a harmonia e solidariedade do bloco”, disse.

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