EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2014 às 17h36.
Berlim - A Alemanha relembra nesta segunda-feira a barbárie nazista no aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz e o fim do assédio que as tropas alemãs submeteram à cidade russa de Leningrado, onde aconteceu uma das batalhas mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial.
A cidade soviética suportou desde 8 de setembro de 1941, e durante 871 dias, o assédio das tropas enviadas por Adolf Hitler com o objetivo de acabar com o governo de Josef Stalin em uma estratégia que pretendia estender o domínio nazista à Europa Oriental a costa da outra grande potência continental.
No entanto, o frio e a resistência das tropas e população russas provocaram um desastre cujas consequências marcaram o princípio do fim da expansão nazista no continente e o início da contraofensiva dos aliados.
Em 27 de janeiro de 1944, os soldados soviéticos conseguiam finalmente romper o cerco nazista e acabar com um assédio que tinha custado a vida de mais de um milhão de pessoas, causadas pelas bombas e balas, mas, principalmente, pelo frio e a fome que castigaram à cidade do oeste russo.
O retrocesso do Terceiro Reich levou a que exatamente um ano depois, em 27 de janeiro de 1945, as tropas soviéticas libertassem o complexo de campos de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau, no território da Polônia.
Acabava assim uma história de crueldade e selvageria que tinha começado com a construção do campo em 1940 e que causou a morte de mais de um milhão de pessoas, principalmente judeus, mas também homossexuais, insurgentes poloneses, sacerdotes católicos e ciganos.
Para lembrar ambos os eventos, o Bundestag alemão realizou hoje uma sessão especial em homenagem às vítimas do nacional-socialismo à qual também assistiram alguns sobreviventes do assédio a Leningrado.
O escritor russo Daniil Granin, que lutou do lado soviético no Cerco em Leningrado, explicou que "naquela guerra a morte era alguém que fazia silenciosamente seu trabalho".
"Durante muito tempo, não pude perdoar os alemães", disse Granin que, perante a chanceler Angela Merkel, relembrou a fome, o frio e as necessidades que assolaram Leningrado durante quase três anos por culpa do bloqueio nazista.
Por sua vez, o presidente do Bundestag, Norbert Lammert, lembrou que ambos os desastres, o acontecido no campo de batalha russo e o ocorrido nos campos de extermínio, "têm suas raízes na ideologia racial dos nacionalistas que desprezavam o homem".
"Hoje já não é tolerável a intolerância" disse Lammert, que também advertiu que "ainda permanece a responsabilidade que temos os alemães".
O presidente alemão, Joachim Gauck, enviou um escrito ao presidente russo, Vladimir Putin, no qual também garantia que a Alemanha não esquece sua responsabilidade pelo prejuízo causado em Leningrado.
"Só posso pensar com profunda tristeza e vergonha na guerra de aniquilação conduzida pela Alemanha nazista contra a União Soviética", escreveu Gauck.
No último fim de semana, o semanário alemão "Die Welt" trouxe 700 cartas íntimas, encontradas em Israel, de Heinrich Himmler, "reichsführer" (comandante) das SS, um dos grandes responsáveis pela perseguição e morte de cerca de seis milhões de judeus.
As mensagens eram dirigidas para sua mulher, Margarete Himmler, e sua filha, Gudrun, e cobrem o período que vai de 1927 até 23 de maio de 1945, cinco semanas antes da morte de Himmler, quando, após ser preso por tropas britânicas, se matou ao morder uma cápsula de cianureto escondida entre os dentes.
Em um dos escritos sua mulher se queixava dos incômodos que os judeus causavam a sua vida familiar.
"Quando abandonaremos toda essa ralé de judeus? Assim sua vida também poderia ser feliz", perguntava ela ao comandante nazista em um texto de novembro de 1938.
No entanto, Himmler não fez qualquer menção ao horror dos campos de concentração em suas cartas.
"Nos próximos dias estarei na Província de Lublin, Zamosc, Auschwitz, Lemberg e depois no novo quartel. Estou curioso para ver como vai o telefone. Muitos abraços e beijos!", escreveu em certa ocasião.
"Viajo para Auschwitz. Beijos. Seu Heini", se despedia ele em outra carta de 1942.