Mundo

Alemanha defende gestão política da 'crise do pepino'

Políticos do país acreditam que agiram corretamente ao alertar sobre a possibilidade dos alimentos espanhóis estarem contaminados com uma bactéria

Ilse Aigner, ministra alemã, citou a chance dos pepinos espanhóis estarem contaminados (Sean Gallup/Getty Images)

Ilse Aigner, ministra alemã, citou a chance dos pepinos espanhóis estarem contaminados (Sean Gallup/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 1 de junho de 2011 às 15h20.

Berlim - A Alemanha fechou nesta quarta-feira fileiras em defesa da gestão política da chamada "crise do pepino" com a Espanha, depois de retificar na terça-feira suas acusações sobre as hortaliças espanholas, enquanto as pesquisas médicas seguem sem encontrar a origem do surto de "E. coli" que já provocou 17 mortes.

A ministra de Agricultura e Defesa do Consumidor alemã, Ilse Aigner, justificou a atuação das autoridades de Hamburgo, a cidade que registra a maior parte dos casos e acusou primeiramente pelo surto à agricultura espanhola, argumentando que efetivamente os pepinos analisados continham bactérias de risco.

"Hamburgo havia encontrado um agente patogênico nos pepinos procedentes da Espanha e por isso alertou publicamente", afirmou a ministra em uma coletiva à imprensa antes de uma reunião da comissão de Agricultura e Defesa do Consumidor do Parlamento federal (Bundestag).

Aigner seguiu na mesma linha da argumentação esboçada na véspera pela titular de Saúde de Hamburgo, a senadora Cornelia Prüfer-Storcks, quem indicou que em dois dos pepinos espanhóis do mercado central da cidade-estado foram detectadas "E. coli", embora depois tenha ficado provado que não era a agressiva variante a responsável pelo surto, a "O104".

Prüfer-Storcks reiterou nesta quarta-feira a pertinência de sua polêmica atuação na semana passada, com o objetivo de garantir que "a advertência não foi precipitada" e era de sua responsabilidade informar à opinião pública e aos organismos competentes em nível federal e europeu o que estava acontecendo.

"Os pepinos tinham de ser retirados do mercado. Se nesses locais continuassem sendo comercializados pepinos com 'E. coli', o Estado espanhol tinha de ser avisado para atuar", afirmou.

Na continuação de sua entrevista, a ministra defendeu-se: "se eu fosse ministra de Agricultura na Espanha trataria de investigar como a 'E. coli' chegou aos pepinos espanhóis".

Aigner e Prüfer-Storcks ressaltaram que o alerta emitido pelo Instituto Robert Koch de Berlim contra o consumo dos pepinos, alfaces e tomates crus, independentemente de sua procedência, continua vigente e é plenamente justificada.

A ministra federal, no entanto, não quis falar sobre as perdas milionárias que representou esta medida tanto na Espanha quanto na Alemanha.


Nesta quarta-feira, a Confederação de Agricultores alemã reconheceu perdas semanais "superiores a 30 milhões de euros".

A indústria agrária local, incluindo os dedicados aos cultivos biológicos, está destruindo grande parte de sua produção diante da impossibilidade de colocar os produtos no mercado.

Neste sentido, o porta-voz do Ministério de Agricultura germânico, Holger Eichele, esclareceu que, no caso de o setor agrícola alemão e espanhol exigir compensações, terá de reivindicar a Hamburgo, não ao Governo federal, embora tenha declarado que não há "precedente" a respeito.

Aigner teve de defender sua gestão na crise, já que não compareceu publicamente por causa desse assunto até esta segunda-feira, quando os alarmes soaram em Hamburgo oito dias antes, e garantiu que nesta quarta-feira falará com o comissário de Saúde da União Europeia, John Dalli.

A ministra assinalou que desde 21 de maio manteve "reuniões informais" e inúmeros contatos por telefone com as autoridades de saúde e agrícolas das regiões afetadas.

Prüfer-Storcks e Aigner, além disso, deram por descontado que o número de infectados seguirá aumentando nos próximos dias porque ainda não foi encontrada a origem do surto.

Nesta quarta-feira, o Ministério da Saúde do estado federado da Baixa Saxônia informou sobre a morte de uma mulher de 84 anos em Hamburgo, o que eleva o número de mortos na Alemanha para 16, à qual é preciso somar outra vítima na Suécia.

O número de infectados cresceu e está atualmente em 1,6 mil, quando a média anual é de 900.

"Voltamos a registrar um significativo aumento das infecções por 'E. coli' e casos da síndrome hemolítica-umérica (SUH)", indicou Prüfer-Storcks, em referência ao sintoma mais grave da agressiva "O104" e o desencadeante final da maioria das mortes pelo surto.

O Instituto de Higiene de Münster está verificando a eficácia de um teste de detecção rápida da "E. coli", enquanto o Instituto de Medicina de Hannover está realizando testes em pacientes com um tratamento com anticorpos, com resultados iniciais promissores.

Acompanhe tudo sobre:AlemanhaDoençasEspanhaEuropaInfecções bacterianasPaíses ricosPiigs

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia