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Além das tarifas: China e EUA batalham pelo domínio das cadeias de suprimentos mundial

Trump e Xi devem conversar por telefone nesta semana em tentativa de conter acusações de ambos os lados e a nova crescente de batalha comercial

Xi e Trump: presidentes das maiores potências mundiais acusam má-fé em negociações. (Mikhail Svetlov/Getty Images)

Xi e Trump: presidentes das maiores potências mundiais acusam má-fé em negociações. (Mikhail Svetlov/Getty Images)

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 4 de junho de 2025 às 06h47.

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A guerra comercial entre a China e os Estados Unidos está mudando de cenário. Agora, segundo informações do jornal The New York Times, a batalha é pelo domínio das cadeias globais de suprimentos, restringindo o compartilhamento de informações e tecnologias, o que pode afetar diversos setores industriais.

Após a China restringir a exportação de minerais essenciais à indústria, os EUA suspenderam uma parte das vendas de componentes e softwares usados em motores a jato e semicondutores para o país asiático. A decisão ocorreu na última semana, enquanto ambos os países acusaram má-fé nas negociações.

Desse modo, com o conflito das tarifas impostas pelos dois lados, a batalha da vez passa a preocupar empresas que dependem de certos componentes para manter uma linha de produção ativa. Autoridades americanas também demonstraram apreensão com possíveis pontos de vulnerabilidade após o corte, como o setor farmacêutico e de transporte marítimo, segundo o jornal.

Liza Tobin, ex-assessora de segurança nacional da Casa Branca e atual diretora-gerente da consultoria Garnaut Global, afirmou que as “guerras das cadeias de suprimentos, que prevíamos há anos, agora estão acontecendo”.

Indústria aeronáutica na batalha

Agora, especialistas veem que o setor aeronáutico se tornou o centro da batalha entre os dois países. A tecnologia de motores a jato e sistemas de navegação é, na maioria das vezes, desenvolvida por empresas americanas como a General Electric.

A China sofre o impacto das restrições por tentar criar uma aeronave concorrente da Boeing. Já os EUA são afetados pela fabricação dos motores, levando em conta que Pequim fornece os materiais necessários para o revestimento e componentes que resistem a altas temperaturas.

Em abril, Donald Trump aumentou as tarifas sobre os produtos chineses, enquanto a China restringiu a exportação desses componentes apelidados de “terras raras”. A medida ameaça sistemas de manufatura do país norte-americano, incluindo a indústria da defesa.

O impacto nas indústrias

A Ford se viu obrigada a fechar temporariamente uma fábrica em Chicago devido à falta de ímãs necessários para a produção de seus veículos.

Os EUA avaliam colocar empresas como Alibaba, Tencent, Baidu e fabricantes de chips chineses em uma lista de proibição comercial, além de propor a revogação de vistos para estudantes chineses, incluindo os que possuem ligação com o Partido Comunista do país.

Durante o entrave, a busca por combater a concorrência no mundo das inteligências artificiais também pode causar uma maior expansão nos controles globais sobre a exportação de semicondutores, tentando impedir o acesso da China às tecnologias de computação.

Enquanto isso, os EUA buscam iniciativas para encontrar fontes, em seu próprio território, de terras raras e estudam o financiamento público para novas minas e usinas.

Por sua vez, a China impôs um sistema capaz de monitorar e autorizar vendas de ‘terras raras’ e outros produtos derivados aos EUA. Quando houve o aumento norte-americano de tarifas, Pequim respondeu reduzindo a exportação de seus minerais. O país acusou o governo Trump de violar o acordo de Genebra ao manter restrições, como o bloqueio aos chips da Huawei.

Mesmo com estratégias de ambos os lados para combater as restrições e produzir de maneira própria, ambos os países ainda continuam fortemente interligados. Segundo o The New York Times, reduzir essa interdependência é uma tarefa complexa, demorada e cara.

Acusações de ambos os lados

No último mês, autoridades dos países se encontraram em uma reunião em Genebra para tentar chegar a um acordo e aliviar as tensões. As negociações resultaram na redução das tarifas dos EUA e o compromisso da China de suspender medidas não tarifárias contra o país. As informações foram divulgadas em um comunicado conjunto. Entretanto, o governo Trump ainda afirma que os embarques chineses não voltaram ao normal.

Durante uma entrevista ao canal CNBC, dos Estados Unidos, o representante comercial norte-americano, Jamieson Greer, afirmou que os chineses estão “protelando o cumprimento do acordo”.

Já Trump novamente se pronunciou em sua rede social Truth Social e ironizou, afirmando que “a China VIOLOU TOTALMENTE SEU ACORDO CONOSCO. Adeus, Sr. Bonzinho!”, escreveu o presidente norte-americano.

Por sua vez, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, negou as acusações na última terça-feira, 03.

O governo americano, sem qualquer base factual, caluniou a China, impôs controles de exportação de chips, suspendeu a venda de softwares de design e cancelou vistos de estudantes chineses - medidas extremas que minam o acordo de Genebra e os direitos legítimos da China”, disse Lin.

A Casa Branca confirmou, na última terça-feira, 3, que os presidentes de ambos os países devem conversar por telefone nesta semana para tentar entrar em um acordo sobre as negociações comerciais.

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