Estrutura descentralizada aponta que a Al Qaeda deve se manter ativa mesmo após a morte de Osama bin Laden (Getty Images / Allison Shelley)
Da Redação
Publicado em 3 de maio de 2011 às 20h51.
São Paulo - Nos últimos cinco anos, a consultora americana Stratfor vem estudando as transformações da Al Qaeda. O que seus analistas puderam observar é que, de um grupo “nuclear”, a rede se transformou em um movimento jihadista cada vez mais amplo e descentralizado. Segundo o analista Scott Stewart, vice-presidente de inteligência tática da Stratfor, o "núcleo" da Al Qaeda tem se mostrado decadente no campo de batalha físico.
Mas ele permanece relevante no campo de batalha ideológico - tendo a web como importante ferramenta de divulgação da ideologia jihadista -, e não foi esquecido por suas “franquias” regionais, que continuam realizando atos terroristas, mesmo que grande parte de suas tentativas sejam fracassadas.
Essa estrutura descentralizada aponta que a Al Qaeda deve se manter ativa mesmo após a morte de Osama bin Laden. “A Al Qaeda não é mais um grupo nuclear como era no fim da década de 1980 e durante os anos 1990. Hoje, possui ‘franquias’ como a Al Qaeda da Península Arábica no Iêmen, a Al Qaeda no Magreb Islâmico, além de outros inúmeros grupos atuantes no Paquistão, no Iraque, na Argélia, na Caxemira, entre outros países”, explica Stewart. Devido à ausência de uma hierarquia única, muitas vezes seus membros não se comunicam com o “núcleo” para realizar os atentados.
“São lideranças esparsas que adotam a marca do movimento”, explica Leonardo Nemer, professor de direito internacional da PUC Minas. Por isso mesmo, é difícil identificar os locais onde o movimento está mais ou menos desenvolvido. “Em um lugar de conflito, evidentemente, a atuação tende a ser maior, como no Afeganistão, por exemplo”, lembra Nemer. Mas a rede está presente em diversos outros lugares menos óbvios, inclusive no Brasil, como apontou uma reportagem de VEJA.
Foi-se um símbolo, resta a ideologia - Segundo Stewart, Bin Laden é um ícone importante para os jihadistas. Porém, seu assassinato já era esperado há algum tempo. Assim, o risco que as “franquias” representavam para o Ocidente continua exatamente o mesmo sem o líder. “A Al Qaeda da Península Arábica no Iêmen, por exemplo, tem se tornado um grupo cada vez mais transnacional”, aponta. As franquias com frequência são treinadas por “operários” do núcleo da organização, e depois ensinam a lição a terroristas que, embora adotem a “marca” Al Qaeda, são independentes. É especialmente sobre os "operários” que os Estados Unidos mantêm os olhos bem abertos.
"Os responsáveis por de fato treinar os terroristas ainda estão vivos. Eles ainda têm o potencial de tornar o movimento forte como era antes do 11 de setembro", alerta Stewart. Por isso mesmo, o monitoramento por parte do Ocidente deveria continuar ou até aumentar. Os terroristas da Al Qaeda não são imediatistas, e deverm buscar uma retaliação.
Segundo o historiador Pedro Paulo Funari, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, a Al Qaeda centralizada na liderança de Bin Laden teve seu ápice com o atentado do 11 de setembro. Depois, com o avanço ocidental no Afeganistão, houve um recuo do grupo. "O jihadismo, no entanto, não esmaeceu, continua ativo e representa um risco real para os Estados Unidos e seus aliados." Scott Stewart concorda: "Infelizmente, é mais fácil matar um homem do que uma ideologia."