Benedito Braga, vice-presidente do Conselho Mundial da Água (Marcelo Spatafora)
Vanessa Barbosa
Publicado em 7 de novembro de 2012 às 10h30.
São Paulo - O acesso a água é um direito humano universal, mas uma em cada sete pessoas no mundo não tem acesso a este recurso tão essencial à vida, enquanto 15% da população vive sem esgoto tratado. Se ainda hoje, quando somos 7 bilhões de pessoas, não conseguimos sanar esse mal, como assegurar que as próximas gerações tenham o básico?
Foi com esse pensamento que o vice-presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, abriu o EXAME Fórum Sustentabilidade, na manhã desta quarta-feira em São Paulo. Há motivos para preocupação, afinal apenas 2,5% da água que cobre o planeta é doce, mas na prática, apenas uma fração mínima está disponível para a população de forma sustentável: ínfimos 0,007%. "É o que chamo de efeito James Bond", disse Braga.
Segundo o especialista, a gestão deste recurso natural é cada vez mais uma questão eminentemente política, principalmente para os países em desenvolvimento. Mais do que descobrir formas de fazer um uso sustentável deste recurso, o terceiro mundo precisa se unir para encontrar soluções.
"A fragmentação institucional da gestão hídrica nos países em desenvolvimento é um problema a nível nacional e internacional. Pelo menos 40% da população humana vive em bacias e rios compartilhados por dois ou mais países", pontuou Braga. "Para rios transfronteiriços, a questão da gestão do recurso é uma barreira politica de difícil transposição".
Síria e Iraque, dois países que dividem os rios Tigre e Eufrates, é um exemplo do tamanho do desafio. "A disposição de sentar à mesa para discutir a gestão do recurso hídrico está longe de sair do papel", sublinhou.
A tarefa não é simples, mas é preciso avançar. A segurança hídrica é uma questão sensível nessas regiões, especialmente, no continente africano, onde a baixa incidência de chuva resulta em crescimento pífio do PIB, segundo Braga.
"Nos países desenvolvidos, o potencial hidroelétrico já foi quase totalmente desenvolvido. Na América do Sul, é de 70%, mas na África, não passa de 10%", destacou.
Um maior envolvimento do setor privado poderia ajudar a equacionar esse problema, mas a dificuldade de remuneração de capital na ceara hídrica afasta o setor de negócios. "Daí se explica porque instituições publicas tem tido maior envolvimento, mas é preciso avançar. E a parceria público-privada pode ser um caminho promissor", concluiu.