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Agora vai? Alemanha se aproxima de coalizão de centro-esquerda; entenda

Pesquisa mostra que a maioria dos alemães (53%) quer uma coalizão SPD, Verdes e FDP. A aliança poderia levar a Alemanha a uma guinada à esquerda após 16 anos da conservadora Angela Merkel

Os líderes do Partido Verde, Annalena Baerbock e Robert Habeck, durante entrevista em Berlim

 (AFP/AFP)

Os líderes do Partido Verde, Annalena Baerbock e Robert Habeck, durante entrevista em Berlim (AFP/AFP)

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Da redação, com agências

Publicado em 6 de outubro de 2021 às 12h25.

Os partidos deram novos passos nesta semana para formar um governo na Alemanha após as eleições de setembro.

O Partido Social-Democrata (SPD), vencedor das eleições, o Partido Verde e o Partido Democrático Liberal (FDP) afirmaram que vão iniciar negociações preliminares na quinta-feira, 7, de modo a tentar formar uma coalizão.

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Dez dias após as eleições, as negociações aceleram na Alemanha para evitar os meses de paralisia registrados após as eleições de 2017, quando as discussões pareceram intermináveis. Na ocasião, a conservadora Angela Merkel (que deixa o cargo após quase 16 anos) terminou conseguindo uma nova coalizão com os rivais social-democratas do SPD.

O objetivo desta vez é chegar a um acordo mais rápido. Terceiro mais votado, o Partido Verde anunciou nesta quarta-feira, 6, o desejo de aprofundar o diálogo com o SPD e o FDP.

"Nosso interesse é fazer as coisas avançarem rapidamente", afirmou a co-presidente do partido Annalena Baerbock. "O país não pode se dar ao luxo de um impasse prolongado", enquanto uma coalizão é negociada, insistiu.

"As conversas das últimas semanas mostraram que as maiores interseções de conteúdo são possíveis com este esquema (com SPD e FDP), sobretudo, no âmbito da política social", disse o outro co-presidente do Partido Verde Robert Habeck.

Pouco depois, os liberais anunciaram uma reunião com os social-democratas e os ecologistas para esboçar um futuro governo de "centro progressista", nas palavras do presidente do FDP, Christian Lindner.

A formação dessa coalizão seria uma vitória para o SPD, que ficou ofuscado durante os governos Merkel e pode retornar ao posto de chanceler pela primeira vez desde Gerhard Schröder, em 2005.

"Os cidadãos nos deram um mandato para colocar em prática um governo juntos", afirmou o líder do SPD, Olaf Scholz, que será o chanceler caso a coalizão avance.

Negociações difíceis

As negociações, no entanto, devem ser complexas. Os partidos têm divergências em muitos temas, como questões fiscais, por exemplo. Enquanto os liberais são contra o aumento de impostos, o SPD é a favor.

Isso faz com que Lindner, líder do FDP, siga dizendo que uma coalizão com os conservadores da CDU, de Angela Merkel, continue sendo uma "opção viável". O problema para uma coalizão CDU-FDP é que precisariam convencer também os Verdes, mais à esquerda.

Os conservadores da CDU, que ficaram em segundo lugar nas eleições e são liderados pelo impopular Armin Laschet, não desistiram de tentar formar um governo com os liberais e os ecologistas. Esta é a única maneira de conseguir permanecer na chancelaria após os 16 anos da era Merkel.

Seja qual for a coalizão que avance, esta deve ser a primeira coalizão com três partidos em décadas, o que dificulta as negociações.

O Bundestag, Parlamento alemão, já foi polarizado entre os dois maiores partidos (SDP à esquerda e CDU à direita), o que garantia a chancelaria ao vencedor das eleições. Com a fragmentação nos últimos anos, as alianças têm ficado mais difíceis, o que levou a própria Merkel a precisar se aliar ao rival SPD em três de seus quatro mandatos.

Conservadores admitem dificuldade

Nesta quarta-feira, Laschet, um ex-jornalista de 60 anos, disse respeitar a decisão dos Verdes e do FDP de optar por negociações com o SPD. Disse, porém, que está "disposto" a dialogar com os dois partidos.

Uma pesquisa do instituto Forsa mostra que a maioria dos alemães (53%) quer uma coalizão SPD, Verdes e FDP. E 74% dos entrevistados consideram que CDU/CSU devem ir para a oposição.

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Alguns pesos pesados da CDU, como o ministro da Economia, Peter Altmaier, parecem admitir a situação. "Pela primeira vez em 41 anos, o FDP e o SPD (e os Verdes) falam seriamente de uma coalizão", tuitou o ministro, próximo a Angela Merkel.

"O trem do 'semáforo' acaba de sair da estação", completou, em referência às cores dos partidos de uma aliança SPD-FDP-Verdes.

Altmaier disse que a CDU (e seu partido irmão, a CSU) deve "mostrar que aprendeu a lição" de 26 de setembro, depois que os conservadores receberam menos de 30% dos votos. Foi o pior resultado dos conservadores na história.

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