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Agência de segurança de Israel atribui parte da culpa pelos ataques do Hamas ao governo Netanyahu

Shin Bet reconheceu ter ignorado informações vindas de Gaza sobre os planos do Hamas, mas também destacou que políticas governamentais podem ter encorajado o grupo

Agência o Globo
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Publicado em 5 de março de 2025 às 10h33.

O Shin Bet, o serviço de segurança interna de Israel, assumiu a responsabilidade por não ter dado atenção aos sinais de alerta sobre um ataque planejado pelo Hamas antes do atentado sem precedentes de 7 de outubro de 2023. Em declaração na terça-feira, porém, a agência também culpou o governo israelense por políticas que, segundo ela, permitiram que o grupo terrorista acumulasse armas discretamente, arrecadando fundos e angariando apoio.

As conclusões do Shin Bet foram publicadas dias após uma investigação semelhante das Forças Armadas do Estado judeu ter revelado que oficiais de alta patente subestimaram o Hamas no passado — e interpretaram de forma equivocada os alertas iniciais de que um grande ataque estava por vir. O relatório publicado na terça foi apenas um resumo, deixando uma quantidade desconhecida de informações sem divulgação.

Segundo o documento, planos para uma incursão do Hamas no sul de Israel chegaram às mesas e agentes de Inteligência em 2018 e novamente em 2022, mas a agência não tratou os alertas como uma ameaça significativa. Como resultado, o Shin Bet não incluiu essa possibilidade nos cenários de confrontos futuros com o grupo palestino. Embora a agência tenha afirmado levar o Hamas a sério, reconheceu que não respondeu adequadamente aos primeiros indícios de planos de ataque, nem aos sinais posteriores de que ele era iminente.

As autoridades israelenses disseram que estavam divulgando as descobertas, mesmo mantendo partes do relatório confidenciais, devido à gravidade do ataque. Naquele dia, cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e 250 foram feitas reféns, desencadeando a guerra na Faixa de Gaza.

O governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tem resistido a uma revisão independente dos eventos que levaram ao dia mais mortal da História do país. Em vez disso, permitiu que cada instituição de segurança do Estado judeu investigasse a si mesma, apesar das exigências públicas por uma comissão de inquérito.

Em debate no Parlamento na segunda-feira, Netanyahu disse apoiar a criação de uma comissão para investigar o ataque do Hamas, mas sugeriu que o inquérito provavelmente produziria conclusões tendenciosas, com o objetivo de prejudicá-lo politicamente. Na ocasião, ele afirmou não se intimidar com “investigações fabricadas e uma caça política”, acrescentando que continuaria “insistindo na verdade”.

Posições contrastantes

A resistência do premier a uma investigação e aos pedidos por sua renúncia contrasta com as ações de outros funcionários israelenses.

O ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o tenente-general Herzi Halevi, que deixou o cargo este mês, assumiu a responsabilidade pelo que chamou de seu “fracasso terrível” em impedir o ataque. E o chefe do Shin Bet, Ronen Bar, disse na terça-feira que não pretende renunciar até que todos os reféns levados de Israel sejam repatriados, mas reconheceu que o ataque poderia ser evitado.

No relatório, o Shin Bet também afirmou ter falhado na coordenação com o Exército israelense e na definição de uma cadeia de comando clara, destacando que “esse não é o padrão que esperávamos de nós mesmos e que o público esperava de nós”.

Ao mesmo tempo, o relatório do Shin Bet, ao contrário do recente relatório militar, apontou diretamente as políticas do governo como fatores que contribuíram para o ataque. Ele destacou que o governo permitiu que o Hamas acumulasse armamento e arrecadasse dinheiro para sua ala militar por meio do Catar. Além disso, mencionou a relutância da administração em adotar iniciativas “ofensivas”, como o direcionamento a líderes do Hamas em Gaza.

Em resposta, nesta quarta-feira o Catar afirmou que Israel deveria focar na devolução dos reféns, “em vez de recorrer a táticas diversionistas, como fazer do Catar um bode expiatório para prolongar sua longevidade política”. O governo nega ter ajudado o Hamas, indicando que todo o dinheiro transferido para a Faixa de Gaza foi destinado a iniciativas humanitárias, coordenadas com o Coordenador Especial das Nações Unidas para o Processo de Paz no Oriente Médio.

“O Estado do Catar é um forte apoiador do povo palestino e tem fornecido apoio humanitário às famílias em Gaza há muitos anos”, afirmou o escritório, acrescentando que a ajuda a Gaza foi “transferida com pleno conhecimento, apoio e supervisão das administrações israelenses atuais e anteriores, bem como de suas agências de segurança, incluindo o Shin Bet”, e que “a lista de cada família palestina que recebeu ajuda foi coordenada com o governo israelense”.

Uma série de falhas

O documento do Shin Bet também citou o tratamento dado a prisioneiros palestinos em centros de detenção israelenses e a “percepção de que a sociedade israelense enfraqueceu”. Antes do ataque, Netanyahu impulsionou um plano para reformular o Judiciário de Israel, provocando protestos em todo o país, e muitos israelenses culpam o primeiro-ministro pelo ataque do Hamas, argumentando que a instabilidade interna encorajou o grupo.

O relatório ecoa as conclusões de um artigo do New York Times publicado semanas após o ataque, com base em entrevistas com autoridades israelenses, árabes, europeias e americanas, além da análise de documentos do governo israelense e de outras evidências.

O Gabinete de Netanyahu não quis comentar as conclusões do Shin Bet, mas a mídia israelense noticiou que o governo divulgou uma declaração não oficial atribuída ao “círculo interno do primeiro-ministro”. O texto dizia que a agência de inteligência havia apresentado “uma ‘investigação’ que não responde a nenhuma pergunta” e que não correspondia “à magnitude da enorme falha da organização”.

Na sequência, o Gabinete do premier enumerou uma série de falhas cometidas por agentes de Inteligência, incluindo uma avaliação apresentada poucos dias antes do ataque, afirmando que o Hamas “definitivamente” queria evitar um confronto com Israel. Também acusou Ronen Bar de falhar em sua função, afirmando que o “chefe do Shin Bet não considerou necessário acordar o premier na noite do ataque, a decisão mais básica e óbvia que se poderia imaginar”.

 

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