Calor: janeiro também foi o oitavo mês seguido de recorde de calor para cada mês específico do ano (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 8 de fevereiro de 2024 às 06h37.
O planeta continua a bater recordes de aquecimento. O mês passado foi o janeiro mais quente já registrado na Terra, informou ontem o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), a agência europeia do clima.
Janeiro também foi o oitavo mês seguido de recorde de calor para cada mês específico do ano — desde junho de 2023, que foi o mês de junho mais quente já registrado. E, pela primeira vez, o mundo teve um período de 12 meses (fevereiro de 2023 a janeiro de 2024) com a temperatura média mais que 1,5° Celsius acima da do período pré-industrial, usado como marco do início do aquecimento global.
Tanto o Copernicus quanto a Organização Mundial de Meteorologia haviam alertado que 2024 deveria seguir a tendência de aquecimento e até superar 2023, o ano mais quente já registrado. Por trás de tanto calor está uma combinação de El Niño com mudanças climáticas, disseram os cientistas do Copernicus.
A vice-diretora da agência, Samantha Burguess, declarou em nota que “2024 começa não apenas com outro recorde mensal, mas com a superação do limite de 1,5°C em relação ao período pré-industrial. A rápida redução das emissões dos gases-estufa é a única forma de evitar que as temperaturas continuem a subir”.
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A temperatura média do planeta foi de 13,14°C — 0,70°C acima da média para janeiro no período de 1991-2020. Também é 0,12°C acima do janeiro mais quente até então, o de 2020. O mês foi 1,66°C mais quente que a média estimada para janeiro de 1850 a 1900, usado como referência para o período pré-industrial.
Menos de 14°C não parece muita coisa, mas a conta também considera os extremos de frio, pois o Hemisfério Norte está no inverno e o Norte da Europa teve em 2024 nevascas e temperaturas glaciais de até -40°C. A temperatura média dos últimos 12 meses (fevereiro de 2023 a janeiro de 2024) também é recorde. Ela está 1,52°C acima do período pré-industrial e supera a elevação de 1,5°C fixada pelo Acordo de Paris como o limite para evitar mudanças catastróficas e prevista para não antes de 2030.
Cabe esclarecer que um ano apenas acima de 1,5°C não caracteriza que o limite foi rompido, mas que o mundo está numa rota perigosa para desequilíbrios e extremos climáticos. A temperatura média da Terra em 2023 foi 1,48°C acima do período pré-industrial.
O Copernicus faz suas avaliações baseado em bilhões de medidas coletadas por satélites, estações meteorológicas, navios e aviões mundo afora.
Janeiro foi extremo na Europa, com frio polar no Norte, mas teve uma onda de calor fora de época no Sul do continente. Segundo o Copernicus, as temperaturas mais acima da média foram registradas no leste do Canadá, noroeste da África, Oriente Médio e Ásia Central. Já o oeste do Canadá, a região central dos EUA e a Sibéria ficaram abaixo da média histórica. A América do Sul, em pleno verão, teve temperaturas elevadas, mas não destacadamente acima da média.
Um dos fatores que estão puxando a temperatura do planeta para cima são os oceanos muito quentes. O El Niño começou a se enfraquecer em janeiro, no Pacífico Equatorial, mas os demais oceanos continuam anomalamente quentes. A previsão é de que as condições de El Niño se mantenham até abril ou maio, embora com menos intensidade do que no fim de 2023 e neste início de 2024.
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A Agência Americana de Atmosfera e Oceanos (Noaa, na sigla em inglês), que monitora o El Niño, disse que ainda é cedo para afirmar que o fenômeno está numa escalada decrescente, pois nos últimos dias a temperatura do mar voltou a subir junto à costa do Equador, do Peru e da Colômbia. Porém, a tendência é que ele enfraqueça gradualmente.
Um planeta aquecido é um mundo em desequilíbrio climático. Na América do Sul, o maior desequilíbrio de janeiro foram as chuvas acima da média no Sul do Brasil e na Argentina. O leste da Austrália e o sudeste da África também estiveram mais chuvosos. A Europa registrou tanto tempestades severas quanto secas. E foram justamente as secas mais intensas que chamaram mais atenção dos cientistas.
Na América do Sul, as piores secas foram registradas no Chile e criaram condições propícias a incêndios florestais, como o que atinge a região de Valparaíso, o pior da História recente do país. A seca, que se arrasta pelo início de fevereiro, também afetou em janeiro o Chifre da África, a Península Arábica, parte do Canadá, do México e dos EUA, além de Ásia Central e oeste da Austrália.
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As anomalias de janeiro também se fizeram sentir na Antártica. A cobertura de gelo sobre o mar ficou 18% abaixo da média para janeiro. Porém, recuperou-se em relação ao mesmo período em 2023, 31% menor. O Ártico, em pleno inverno, está na média histórica.