África: continente possui 1,4 bilhão de pessoas em 54 países, política e economicamente diverso (Agence France-Presse/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 4 de setembro de 2023 às 15h49.
A África tem uma uma "oportunidade sem precedentes" de desenvolvimento ao participar da luta contra a mudança climática, mas precisa de grandes investimentos internacionais, disse nesta segunda-feira, 4, o presidente do Quênia, William Ruto, ao inaugurar uma histórica cúpula continental sobre o tema.
Esta primeira cúpula africana dá início aos quatro meses mais intensos do ano para as negociações internacionais sobre o clima, que seguirão com a cúpula da ONU (COP28) em Dubai em novembro e dezembro, na qual é esperada uma batalha sobre o fim dos combustíveis fósseis.Por três dias, o presidente receberá na capital do Quênia líderes e dirigentes da África e de outros lugares, entre eles, o secretário-geral da ONU, António Guterres, para buscar uma visão africana comum sobre desenvolvimento e clima.
O objetivo é ambicioso para um continente com 1,4 bilhão de pessoas em 54 países, política e economicamente diverso.
"A grande questão (...) é a oportunidade incomparável que a ação climática representa para a África", disse William Ruto, em seu discurso inaugural. "Durante muito tempo, apenas analisamos este tema. É hora de começar", afirmou.
"A África é fundamental para acelerar a descarbonização da economia mundial. Não somos apenas um continente rico em recursos. Somos uma potência com potencial inexplorado, ansiosa para participar e competir de forma justa nos mercados mundiais", disse ele.
Centenas de pessoas se reuniram perto da sede da conferência, para a qual estão credenciadas 30 mil pessoas, segundo o governo queniano, para denunciar sua "agenda profundamente corrupta" centrada nos interesses dos países ricos.
"Exigimos o fim do capitalismo climático", disse Don Clive Ochieng, um manifestante, enquanto outros carregavam cartazes exigindo "Menos conversa e mais ação climática".
"O mundo deve nos ver para além do 'status' de vítimas, ou de pessoas vulneráveis à crise climática", afirmou a jovem ativista ugandesa Vanessa Nakate, em declaração à AFP.
Embora a África contribua com apenas entre 2% e 3% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, o continente sofre desproporcionalmente os efeitos da mudança climática, com secas e enchentes cada vez mais intensas, conforme dados da ONU.
Os países africanos também são afetados pelo crescente peso de sua dívida e pela falta de financiamento. Apesar de seu potencial em recursos naturais, apenas 3% dos investimentos globais em transição energética chegam ao continente.
Hoje, metade da população africana não tem acesso à eletricidade, o que representa "uma injustiça", criticou o chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol.
Ele alertou, ainda, para o possível freio na luta contra a mudança climática que as tensões geopolíticas entre Estados Unidos e China podem representar.
Segundo Ruto, a África tem potencial para ser totalmente autossuficiente em energia, graças aos recursos renováveis.
"Devemos garantir que o financiamento climático esteja mais disponível e acessível a todos os países em desenvolvimento, incluindo os da África", disseram Ruto; o presidente da COP28, Sultan Al-Jaber; e chefe da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, em uma declaração conjunta nesta segunda-feira.
Em escala mundial, os países ricos ainda não cumpriram seu compromisso de fornecer US$ 100 bilhões por ano (R$ 493 bilhões na cotação atual) em financiamento climático aos países mais pobres.
Um sucesso na cúpula de Nairóbi daria impulso a várias reuniões internacionais importantes antes da COP28, em setembro (cúpula do G20 na Índia, e Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York) e, depois, em outubro (reunião anual do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional em Marrakech).
Segundo cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI), para limitar o aquecimento global a +1,5°C em relação à era pré-industrial - medida prevista pelo Acordo de Paris -, o investimento deve atingir US$ 2 bilhões (R$ 9,8 bilhões na cotação atual) por ano nestes países em uma década.