Agência de notícias
Publicado em 28 de maio de 2024 às 11h29.
Nas últimas semanas, as ruas de Johannesburgo ficaram lotadas de cartazes eleitorais dos candidatos à eleição de quarta-feira, para a qual foram convocados cerca de 27,6 milhões de eleitores.
Serão eleitos 400 deputados nomeados proporcionalmente, indicados por 50 partidos. Uma vez formado, o novo Parlamento nomeará o próximo presidente.
Durante 30 anos de democracia, que nasceu da eleição do primeiro presidente negro sul-africano, Nelson Mandela, em 1994, os eleitores têm sido leais ao seu partido, Congresso Nacional Africano (ANC), que libertou o país do apartheid.
O ANC sempre venceu as eleições nacionais por ampla maioria e nas últimas legislativas, em 2019, obteve 57% dos votos.
Mas o partido, liderado atualmente pelo presidente Cyril Ramaphosa, tem visto uma perda de popularidade.
Cansados dos casos de corrupção na classe política, muitos dos 62 milhões de sul-africanos deixaram de confiar no ANC, que inicialmente prometeu educação, água, moradia e o direito de voto para todos.
Um terço da população economicamente ativa está desempregada. A pobreza e a desigualdade aumentam e a criminalidade frequentemente bate recordes, em um cotidiano muitas vezes dificultado pelos recorrentes cortes de água e eletricidade.
Nomsa Cele, de 55 anos, vende chapéus e joias no calçadão à beira mar de Durban, capital da província de KwaZulu-Natal, no sudeste. Na véspera da votação, ainda não sabe que opção marcará em seu cartão de voto, mas sabe que "não votará no ANC".
As pesquisas atribuem a este partido entre 40% e 47% das intenções de voto, o que indica que poderá perder pela primeira vez a maioria absoluta na Câmara e ser obrigado a forjar alianças para formar um governo de coligação.
O principal partido da oposição, a Aliança Democrática (DA, direita), espera ser eleito. Este movimento liberal, que defende as privatizações no setor público, a desregulamentação da economia, pode obter cerca de 25% dos votos.
À esquerda do ANC, os Combatentes da Liberdade Econômica (EFF), do provocador Julius Malema, prometem reformas radicais como a redistribuição de terras e a nacionalização de setores econômicos essenciais. Podem chegar perto de 10% dos votos.
Mas a maior ameaça ao ANC pode vir do uMkhonto we Sizwe (MK), um partido pequeno do ex-presidente Jacob Zuma, de 82 anos, que já foi um pilar do Congresso Nacional Africano.
Zuma foi candidato às eleições, mas foi inabilitado. Ainda assim seu partido conseguiu convencer até 14% dos eleitores, segundo as pesquisas.
"Esta votação é sem dúvida a mais imprevisível que a África do Sul conheceu desde 1994", disse à AFP o analista Daniel Silke, associando a incerteza política ao "declínio econômico" da principal potência industrial do continente na última década.
Segundo ele, há muitas chances de que "o ANC sairá enfraquecido" e "o futuro do presidente Ramaphosa" esteja em jogo.