Forças de segurança afegãs de guarda perto do local de uma explosão, em Cabul (Mohammad Ismail/Reuters)
Da Redação
Publicado em 9 de janeiro de 2014 às 18h14.
Cabul - O Afeganistão tem provas suficientes para julgar somente 16 dos 88 prisioneiros que os Estados Unidos consideram uma ameaça à segurança e planeja libertar os demais, disse o porta-voz do presidente afegão nesta quinta-feira.
A iniciativa vai abalar ainda mais as já tensas relações entre os dois países, à beira do ponto de ruptura por causa da recusa do presidente afegão, Hamid Karzai, de assinar um acordo de segurança para definir o formato da presença militar dos EUA depois que a maioria das tropas estrangeiras deixar o país este ano.
Sem um acordo o governo norte-americano poderá retirar a maior parte de suas tropas depois de 2014.
Os EUA se opõem fortemente à libertação, argumentando que os prisioneiros, sob custódia do Afeganistão, se envolveram em ações que causaram morte ou ferimento de soldados dos EUA e dos demais países da coalizão estrangeira.
A porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, disse nesta quinta-feira que os Estados Unidos consideram perigosos 72 desses presos.
"Esses 72 detidos são criminosos perigosos contra os quais há fortes evidências ligando-os a crimes relacionados com terrorismo, incluindo o uso de explosivos improvisados, os maiores causadores de mortes de civis afegãos", afirmou Jen em entrevista à imprensa.
Ela disse que "o tempo dirá" se a libertação dos prisioneiros vai afetar a assinatura do acordo. A porta-voz declarou ser do interesse do povo afegão e do governo do país assina-lo.
O governo afegão afirma, contudo, que não há provas contra 45 dos 88 detidos e que as evidências contra outros 27 não são suficientes para levá-los a julgamento.
"Nós não podemos permitir que civis afegãos inocentes sejam mantidos em detenção por meses e anos sem um julgamento por algum motivo", disse o porta-voz de Karzai, Aimal Faizi, à Reuters.
"Nós sabemos que infelizmente isso tem acontecido em Bagram, mas é ilegal e uma violação da soberania afegã, e não podemos mais permitir isso." O presidente tomou a decisão depois que o chefe da agência afegã de espionagem apresentou as acusações contra os prisioneiros em uma reunião na quinta-feira de manhã.
Senadores dos EUA em visita ao Afeganistão na semana passada disseram que a soltura dos presos iria prejudicar irremediavelmente as relações com os Estados Unidos, mas não chegaram a dizer que levaria a uma retirada militar total.
Karzai definiu a chamada "opção zero" como uma ameaça vazia e deu a entender que qualquer acordo na área de segurança pode esperar até depois das eleições presidenciais de abril. Os EUA dizem que precisam de tempo para preparar uma missão pós-2014.