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AfD não deve participar da próxima coalizão de governo da Alemanha

A rejeição coletiva é parte de um esforço de décadas para impedir a entrada dos radicais no tabuleiro político do país que viveu o nazismo

Agência o Globo
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Publicado em 24 de fevereiro de 2025 às 06h55.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2025 às 06h57.

Cordão sanitário na Alemanha: por que a extrema direita não deve estar na próxima coalizão de governo
A rejeição coletiva das demais siglas ao partido AfD é parte de um esforço de décadas para impedir a entrada dos radicais no tabuleiro político do país que viveu o nazismo

O próximo governo da Alemanha quase certamente será uma coalizão de vários partidos políticos para então formar uma maioria no Parlamento. Mas uma legenda quase certamente será excluída dessa coalizão, independentemente do seu desempenho final: a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita.

Embora as primeiras pesquisas de boca de urna no domingo tenham mostrado o AfD em segundo lugar, impulsionado principalmente por sua oposição à migração em massa e sua promessa de deportar imigrantes, todos os outros partidos tradicionais da Alemanha se recusam a convidá-lo para o governo. Esse bloqueio é conhecido na Alemanha como o “firewall” (cordão sanitário) e é resultado direto dos esforços do país no pós-Segunda Guerra Mundial para suprimir partidos e vozes rotuladas como extremistas.

Partidos rivais citam uma ampla gama de evidências para classificar o AfD como extremo e mantê-lo do lado de lá do cordão. Alguns quadros da sigla foram classificados oficialmente como extremistas pela inteligência alemã. Outros foram condenados pela Justiça por violar a lei alemã contra o uso de slogans nazistas, e um punhado preso por tentar "derrubar o governo federal", ou seja, golpe. Recentemente, um voluntário do AfD saudou colegas militantes que panfletavam durante a campanha fazendo a saudação nazista, ato testemunhado por um repórter do New York Times.

Até hoje, a Alemanha tem sido a potência europeia mais bem-sucedida em manter partidos de extrema direita alijados do poder, seguida pela França, onde um grupo de partidos adversários entre si usou o voto estratégico no verão passado para impedir que a extrema direita Reunião Nacional obtivesse maioria parlamentar.

Outros bloqueios desse tipo na Europa, no entanto, caíram ou foram enfraquecidos nos últimos anos, nos Países Baixos, na Hungria e na Itália. E no início deste mês, o vice-presidente dos EUA, J.D Vance, instou todos os europeus — incluindo os alemães — a trabalharem com partidos de extrema direita, que ele classificou como "representantes legítimos" da parcela da população preocupada com a imigração. “Não há espaço para firewalls”, afirmou Vance em Munique.

Os partidos políticos da Alemanha, no entanto, prometeram manter o cordão sanitário contra o AfD — promessa reiterada na noite de domingo por Friedrich Merz, que está prestes a se tornar o próximo chanceler, de acordo com as pesquisas de boca de urna. Somente se o AfD surpreender até o fim da apuração e tiver um desempenho ainda mais forte do que o que o da boca de urna — ou seja, bem mais do que 20% — pode ficar complicado para os partidos contorná-lo. E aumentarão os questionamentos sobre quanto tempo o firewall aguentará.

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