Cohen: advogado de Trump ampliou rede de polêmicas envolvendo o presidente americano (Lucas Jackson/Reuters)
AFP
Publicado em 16 de abril de 2018 às 22h49.
Última atualização em 21 de agosto de 2018 às 15h58.
Uma extraordinária audiência de alto risco para a Casa Branca confrontou nesta segunda-feira (16), em uma corte federal de Nova York, o advogado pessoal de Donald Trump, Michael Cohen, investigado pelo FBI e pelo departamento de Justiça.
Tudo transcorreu sob o olhar atento de Stormy Daniels, de 39 anos, uma ex-atriz pornô que garante ter tido um caso com Trump e que, após chegar à corte cercada por um enxame de jornalistas, sentou-se com seu advogado no local destinado ao público.
O FBI (polícia federal americana), que investiga Cohen, realizou há uma semana batidas em seu escritório, sua casa e seu quarto de hotel, confiscando milhares de documentos e arquivos. O presidente denunciou, então, uma "caça às bruxas".
Embora os advogados de defesa de Cohen tentassem manter em sigilo a identidade de seus clientes, a juíza os forçou a revelar que um dos representados por Cohen é o apresentador de TV Sean Hannity, da Fox News, ferrenho defensor de Trump.
Ao ouvir o nome de Hannity, que apresenta o programa mais assistido da TV a cabo americana, a sala explodiu em exclamações de surpresa, e também em algumas gargalhadas.
Irrigado, Hannity negou que Cohen tenha sido seu advogado. "Nunca o contratei, recebi uma conta ou paguei uma conta legal", embora o tenha consultado para que me aconselhasse "quase exclusivamente" sobre negócios imobiliários, relatou no Twitter o apresentador, a quem Trump admira e com quem às vezes fala ao telefone.
Embora Cohen, de 51 anos, não tenha sido acusado, a Promotoria de Manhattan o investiga há tempos e lia secretamente seus e-mails, em um novo capítulo das investigações do procurador-especial Robert Mueller, que estuda um possível conluio da Rússia com a campanha eleitoral de Trump.
Cohen, um porta-voz da campanha, seria principalmente suspeito de financiamento ilegal.
O advogado admitiu publicamente ter pago 130.000 dólares a Stormy Daniels em novembro de 2016, supostamente para calar a atriz, que diz ter se relacionado sexualmente com Trump em 2006, quando o hoje presidente acabara de ter um filho com sua esposa, Melania.
Trump nega o caso com a atriz pornô, cujo nome de batismo é Stephanie Clifford, e diz que não estava a par deste pagamento.
Vestindo saia e blazer lavanda, a atriz sentou-se com seu advogado na parte de trás da sala, que estava lotada.
"Durante anos, Cohen agiu como se estivesse acima da lei", disse a jornalistas ao final da audiência de duas horas e meia. "Isso acaba agora. Meu advogado e eu estamos comprometidos a assegurar que todos saibam a verdade".
Daniels apresentou uma ação judicial contra Cohen, na qual pede a anulação do acordo de confidencialidade e diz que não é válido porque nunca foi assinado pelo próprio Trump.
Seu advogado, Michael Avenatti, disse à imprensa que Cohen é "radioativo". "Penso que há um risco significativo para o presidente (...), que confiou a Cohen seus maiores segredos e agora terá que enfrentar as consequências", disse.
A juíza Kimba Wood decidiu que Trump não poderá consultar os documentos confiscados que lhe dizem respeito antes dos promotores, como havia solicitado uma advogada do presidente, Joanna Hendon. Mas não exclui nomear um especialista independente para consultar unicamente estes documentos e avaliar se quebram a confidencialidade advogado-cliente, como Trump alega.
O governo concordou em não examinar os documentos antes de uma decisão da juíza a respeito.
Wood decidiu que o governo vai escanear todos os documentos que não forem digitais e colocará tudo em uma base de dados, à qual poderão consultar os advogados de Cohen, que saberão então quanto está ligado a Trump.
Embora Wood ainda não tenha decidido se vai nomear um especialista independente, ela pediu às duas partes para sugerir quatro nomes.
A imprensa americana assegura que Michael Cohen negociou ou ajudou a negociar acordos secretos para enterrar potenciais escândalos para Trump, sua família ou uma grande personalidade do Partido Republicano, Elliott Brody.
Segundo o jornal New York Times, Cohen também foi consultado pelo chefe da American Media, David Pecker, cuja revista, National Enquirer, pagou à ex-coelhinha da Playboy Karen McDougal 150.000 dólares pela exclusividade da história de um suposto caso com Trump que nunca publicou.
A revista New Yorker assegura que a National Enquirer, ligada a Trump, tentava, assim, enterrar a informação para que nunca fosse publicada.