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Advogado de Trump diz que não houve fraude na eleição e que processo democrático funcionou

Na primeira sessão do julgamento do impeachment de Donald Trump, senadores votaram pela constitucionalidade do processo. O julgamento continua nos próximos dias

Bruce Castor, um dos advogados de Trump em defesa do ex-presidente nesta terça-feira: como argumento, disse que a população americana já escolheu um novo presidente e que não houve ataque à democracia (Senate TV/via Reuters/Reuters)

Bruce Castor, um dos advogados de Trump em defesa do ex-presidente nesta terça-feira: como argumento, disse que a população americana já escolheu um novo presidente e que não houve ataque à democracia (Senate TV/via Reuters/Reuters)

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Carolina Riveira

Publicado em 9 de fevereiro de 2021 às 19h35.

Última atualização em 9 de fevereiro de 2021 às 22h10.

O Senado americano começou a julgar nesta terça-feira, 9, o impeachment do ex-presidente Donald Trump, e declarou constitucional o processo contra o republicano em votação nesta tarde. Após esta primeira sessão, o julgamento completo deve durar dias e se arrastar até a semana que vem.

O processo foi validado com 56 votos a favor e 44 contra (seis votos a favor sendo de republicanos). Trump é acusado de “incitação à ressureição”, por ter, segundo a acusação, incentivado a invasão do Capitólio e as cenas de guerra orquestradas por extremistas em Washington D.C em 6 de janeiro.

A defesa de Trump argumentava que não era constitucional julgar um presidente que já deixou o cargo, argumento refutado pela maioria dos senadores.

Em um dos momentos mais comentados do dia, em sua sustentação da defesa de Trump, um dos advogados do republicano, Bruce Castor, usou também um argumento "fora da curva" no discurso trumpista até então: disse que o sistema democrático americano funcionou, que o governo foi trocado e, por isso, não entendia o motivo do impeachment.

"A população americana acabou de se pronunciar, e acabou de mudar o governo", disse Castor sobre a eleição. "Então, as pessoas são inteligentes o suficiente para escolher uma nova administração [...] se não gostam da anterior. E elas acabaram de fazer isso", completou.

A declaração vai na contramão dos embates recentes de Trump, que tem afirmado desde a vitória de Biden na eleição de novembro que houve fraude nas urnas nos EUA.

A chance de o impeachment passar é quase nula: são necessários dois terços dos votos no Senado, de modo que seria preciso que 16 dos 50 senadores republicanos votassem contra Trump -- além dos outros 50 senadores democratas, mais a vice-presidente Kamala Harris, que é presidente do Senado.

Na Câmara, que exigia somente maioria simples, dos 433 congressistas ao todo, dez deputados republicanos votaram a favor do impeachment. O impeachment de Trump foi aprovado em 13 de janeiro na Câmara, fazendo do ex-presidente o único na história americana a ter dois impeachments aprovados na Casa (o primeiro em dezembro de 2019, depois rejeitado no Senado).

É a primeira vez que o Senado julga o impeachment de um presidente que já deixou o cargo. O mandato de Trump acabou no último dia 20 de janeiro, uma semana após o impedimento ser aceito pela Câmara. Nunca na história um presidente americano sofreu impeachment no Senado, embora a Câmara, o primeiro passo do processo, tenha aprovado três impedimentos.

Com a constitucionalidade do processo aceita, os argumentos serão ouvidos a partir da quarta-feira, 10, e cada parte, defesa e acusação, terão 16 horas distribuídas em dois dias para se pronunciar. Depois, os senadores também poderão fazer perguntas. 

Durante a sessão desta terça-feira, Jamie Raskin, o democrata que lidera a acusação, disse que o caso é baseado em fatos "claros e sólidos" e postou um vídeo de 10 minutos para argumentar que o ex-presidente encorajou a invasão do Capitólio, que deixou cinco mortos.

O vídeo mostrou trechos das cenas de caos e declarações ferozes de Trump a seus apoiadores, reunidos em um comício em Washington pouco antes do Congresso se reunir para certificar formalmente a vitória de seu rival democrata Joe Biden na eleição presidencial. "Lutem como o demônio", disse Trump, pouco antes do tumulto no templo da democracia americana.

Já a defesa do Trump alega que o processo é "absurdo".

A segurança foi reforçada diante do julgamento. Tropas da Guarda Nacional foram alocadas nos corredores e altas barreiras do lado de fora protegiam o Capitólio, em medidas de segurança sem precedentes, de modo a evitar cenas como as do ataque ao Capitólio.

No transcorrer do processo a partir de agora, uma coisa é certa: os dois lados têm pressa. Enquanto os republicanos não querem estagnar em um caso que divide suas fileiras e coloca o partido contra a parede no apoio ou não a Trump, os democratas querem que o Senado possa se concentrar rapidamente na aprovação das nomeações e projetos do presidente Joe Biden.

Enquanto o impeachment é votado, os senadores democratas se concentram também nas negociações para passar um pacote de estímulo de 1,9 trilhão de dólares defendido pelo presidente Joe Biden e o principal objetivo de seu começo de mandato.

Em meio ao discurso de "unir" os EUA, incluindo quem não votou nos democratas, Biden tem evitado falar sobre o impeachment nos últimos dias. A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse novamente nesta terça-feira que o presidente não vai comentar o julgamento nem assistir às audiências.

(Com AFP)

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