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Adolescente morre em protesto contra Maduro

Essa morte acontece um dia depois de o chefe das Forças Armadas advertir que não vai tolerar "atrocidades" dos guardas nacionais nas manifestações

Venezuela: os opositores denunciam uma "repressão selvagem" (Carlos Barria/Reuters)

Venezuela: os opositores denunciam uma "repressão selvagem" (Carlos Barria/Reuters)

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AFP

Publicado em 7 de junho de 2017 às 21h31.

Um adolescente de 17 anos morreu nesta quarta-feira no leste de Caracas durante um protesto contra o presidente Nicolás Maduro, elevando a 66 o número de mortos em pouco mais de dois meses de manifestações da oposição.

O Ministério Público explicou que o jovem morreu "durante uma manifestação em Chacao" e que as causas são investigadas. Dirigentes da oposição responsabilizaram os corpos de segurança.

Essa morte acontece um dia depois de o chefe das Forças Armadas advertir que não vai tolerar "atrocidades" dos guardas nacionais nas manifestações.

Milhares de opositores tentaram chegar à sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), no centro de Caracas, para protestar contra a Assembleia Nacional Constituinte convocada por Maduro, mas foram bloqueados por policiais e membros da militarizada Guarda Nacional no oeste e no leste da cidade, com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.

"Apesar da repressão, continuamos resistindo, erguendo nossa voz, não só em Caracas, mas em todo o país. Que esta violência não nos tire do caminho, só lhes resta a atitude covarde, perderam o apoio popular", disse o deputado opositor Miguel Pizarro.

Os opositores, a quem em quase 70 dias de protestos as autoridades não permitiram chegar ao centro da capital, denunciam uma "repressão selvagem" que inclui o disparo no corpo de bombas de gás lacrimogêneo, bolas metálicas e de gude.

Em um reconhecimento dos excessos cometidos pelos militares nos protestos, o chefe das Forças Armadas e ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, advertiu na terça-feira: "não quero ver mais um guarda cometendo uma atrocidade nas ruas".

A oposição tinha urgido Padrino López a cumprir sua palavra e permitir a marcha desta quarta-feira. Mas o ministro ratificiou no Twitter sua "solidariedade" com os membros da Guarda Nacional Bolivariana, "que com tanta dignidade defendem a Pátria, sempre fiel ao seu dever e sereno no perigo".

"Os mesmos que falam de repressão são os que, com dois pesos e duas medidas, e na escuridão incentivam a violência, a morte e o ódio", acrescentou.

Padrino López se referiu assim ao caso de um militar ferido a tiros nesta quarta-feira em El Paraíso (oeste). Segundo o ministro do Interior, general Néstor Reverol, ele levou um tiro efetuado de um edifício, quando tentava desmontar uma barricada.

"Agora roubam os sapatos"

A declaração do ministro ocorreu em meio ao repúdio gerado por vídeos que circularam na segunda-feira nas redes sociais. Neles policiais e militares aparecem agredindo e tirando os pertences de várias pessoas durante um protesto da oposição.

"Tornaram-se delinquentes, não apenas assassinam, mas agora roubam os sapatos e as bolsas das pessoas", declarou o líder estudantil universitário Alfredo García, durante a marcha.

Sem aludir diretamente às indicações contra as forças de segurança, Padrino López, que declarou "lealdade incondicional" a Maduro, advertiu nesta terça-feira que o militar que desrespeitar os direitos humanos "tem que assumir a responsabilidade".

"As palavras sozinhas não bastam, Padrino López. Prenda os guardas que abusam", desafiou a deputada Delsa Solórzano, que atacou o ministro do Interior, o general Néstor Reverol, que comanda a Polícia Nacional Bolivariana, chamando-o de "assassino".

Reverol, sobre quem pesam sanções dos Estados Unidos por suposto tráfico de drogas, foi citado na terça-feira pelo Parlamento para prestar contas sobre a "repressão".

Por não ter comparecido, nesta quinta-feira será votada uma moção de censura para sua "remoção", embora as decisões legislativas sejam consideradas nulas pelo Tribunal Supremo de Justiça.

A atuação de policiais e militares também foi criticada pela procuradora-geral, Luisa Ortega, chavista declarada, mas agora considerada traidora pelo governo por se opor à Constituinte.

"Quem é que manda?"

O líder opositor Henrique Capriles sugeriu a existência de uma divisão nas Forças Armadas e entre Padrino López e Reverol. "Quem é que manda?", questionou, ao pedir aos militares que defendam a Constituição.

"Estamos em uma hora decisiva, não deram data a esta fraude constitucional, por isso tem que haver mais gente na rua. O processo constituinte significa mais fome, mais crise", acrescentou.

Mas Maduro afirmou nesta quarta-feira que no dia 30 de julho, "chova ou faça sol", será realizada a eleição da Assembleia Constituinte.

A oposição qualifica de "fraude" a Assembleia porque não foi convocada em referendo e tem um sistema de votação territorial e por setores sociais que, assegura, garantirá ao chavismo a maioria dos 545 constituintes.

Para a oposição, uma eleição geral é a única saída para a severa crise política e econômica que vive o país petroleiro, com uma escassez crônica de alimentos e medicamentos e uma inflação que pode chegar a 720% em 2017, segundo o FMI.

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