Mapa mostra cidade de Uvalde, no Texas, onde estudantes foram mortos em ataque a tiros (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 25 de maio de 2022 às 08h26.
Última atualização em 25 de maio de 2022 às 09h34.
Um adolescente de 18 anos matou na terça-feira 19 crianças e dois professores em uma escola do ensino fundamental do Texas, um crime que voltou a arrastar os Estados Unidos para o pesadelo recorrente de ataques armados em ambientes escolares e provocou um apelo do presidente Joe Biden para que o país "enfrente o lobby das armas".
O ataque ocorreu na pequena localidade de Uvalde, situada a cerca de uma hora de distância da fronteira com o México.
"Estou irritado e cansado. Temos que deixar claro a todos os funcionários eleitos deste país: é hora de agir", afirmou o presidente de 79 anos, que foi informado sobre a tragédia a bordo do Air Force One, ao retornar de uma viagem diplomática pela Ásia.
O governador do Texas, o republicano Greg Abbott, afirmou que o suspeito, identificado como Salvador Ramos, morador da localidade e cidadão americano, também estava morto e acrescentou que "os policiais que responderam (ao incidente) o mataram".
"Atirou e matou, de forma hedionda e sem sentido", disse Abbott em coletiva de imprensa.
Autoridades do Departamento de Segurança Pública do Texas informaram que o jovem armado atirou contra sua avó antes de seguir para escola do ensino fundamental Robb por volta do meio-dia, onde abandonou seu veículo e entrou com uma pistola, um rifle e com um colete à prova de balas.
O atirador matou 19 crianças e dois professores antes de ser morto pelas forças de segurança enviadas ao local.
"Há 19 crianças que foram assassinadas por este homem armado maligno, assim como dois professores da escola", disse o porta-voz do Departamento de Segurança Pública do Texas, Chris Olivarez, à NBC News.
Mais de 10 crianças ficaram feridas no ataque a uma escola com mais de 500 estudantes, quase 90% deles hispânicos de famílias com recursos econômicos modestos.
O Memorial Hospital de Uvalde revelou que recebeu 13 crianças, enquanto o Hospital University Health de San Antonio informou que uma mulher de 66 anos e uma menina de 10 anos foram internadas em estado crítico, além de duas meninas de 9 e 10 anos.
Ao menos um agente da Patrulha de Fronteira dos EUA que respondeu ao incidente ficou ferido em um tiroteio com o agressor, informou no Twitter a porta-voz do Departamento de Segurança Interna, Marsha Espinosa.
Imagens mostraram pequenos grupos de crianças ziguezagueando entre os carros e ônibus estacionados, alguns de mãos dadas, enquanto saíam sob escolta policial da escola, que tem alunos com entre sete e 10 anos.
O ataque foi o mais mortal desde que 14 adolescentes e três adultos foram assassinados em uma escola de ensino médio em Parkland, Flórida, em 2018, e o pior em uma escola primária desde o tiroteio em Sandy Hook, Connecticut, em 2012, que matou 20 crianças e seis funcionários.
A Casa Branca ordenou que as bandeiras sejam hasteadas a meio mastro em sinal de luto para as vítimas, cujas mortes provocaram uma onda de comoção.
O papa Francisco afirmou nesta quarta-feira que tem o "coração partido" e que é hora de dizer "basta" ao tráfico sem controle de armas
O governo do México condenou "energicamente" o ato de violência. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou que "é terrível que tenhamos vítimas de atiradores em tempos de paz".
O senador Ted Cruz, um republicano do Texas, tuitou que ele e sua esposa estavam orando pelas crianças e suas famílias "no horrível ataque a tiros em Uvalde".
Mas o senador Chris Murphy, um democrata de Connecticut, onde ocorreu o ataque em Sandy Hook, fez um apelo emocionado a seus colegas para que tomem medidas concretas para evitar mais violência.
"Isso não é inevitável, essas crianças não tiveram má sorte. Isso só acontece neste país e em nenhum outro lugar. Em nenhum outro lugar as crianças pequenas vão à escola pensando que poderiam receber um disparo", disse Murphy, ao acrescentar que é preciso "encontrar uma maneira de aprovar leis que tornem isso menos provável".
Este mês houve outros ataques a tiros nos Estados Unidos.
Em 14 de maio, um jovem de 18 anos matou a tiros dez pessoas em uma loja de comestíveis em Buffalo, Nova York. Usando um colete à prova de balas e um fuzil AR-15, o autoproclamado supremacista branco teria transmitido ao vivo seu ataque.
Segundo informes, ele planejou seu ataque durante meses, realizando-o no estabelecimento devido à grande concentração de afro-americanos que o rodeiam.
No dia seguinte, um homem bloqueou a porta de uma igreja em Laguna Woods, Califórnia, e abriu fogo contra sua congregação taiwanesa-americana, matando uma pessoa e ferindo cinco.
O atirador, que trabalhava como segurança em Las Vegas, atacou as pessoas por "ódio com motivação política... (E) estava incomodado com as tensões políticas entre China e Taiwan", segundo o xerife do condado de Orange, Don Barnes.
Apesar dos ataques a tiros em massa recorrentes e de uma onda nacional de violência armada, múltiplas iniciativas para reformar as regulações sobre armas fracassaram no Congresso nos Estados Unidos, deixando aos legislativos estaduais e locais promulgarem suas próprias restrições.
A Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês) tem sido fundamental na luta contra a aprovação de leis mais estritas sobre armas. Abbott e Cruz figuram como oradores em um conferência organizada por esse poderoso grupo lobista em Houston, Texas, no fim desta semana.
Os Estados Unidos registraram 19.350 homicídios com armas de fogo 2020, quase 35% a mais do que em 2019, segundo os dados oficiais.