Manifestantes ocupam a entrada da embaixada americana na Tunísia: eles protestavam contra um filme islamofóbico produzido nos EUA (Fethi Belaid/AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de maio de 2013 às 12h56.
Túnis - Vinte supostos participantes de um ataque ocorrido em setembro contra a embaixada dos Estados Unidos em Túnis alegaram inocência nesta terça-feira, no primeiro dia de julgamento.
Interrogados pelo juiz, cada um dos réus, nove dos quais estão sob custódia, negaram participação na manifestação e no ataque a embaixada e a polícia.
Os advogados de defesa condenaram o julgamento, ressaltando que a Justiça da Tunísia tem se submetido aos desejos do Ocidente.
"Estes protestos (em frente à embaixada) faziam parte de uma reação espontânea em todo o mundo (muçulmano) contra os ataques a nossos símbolos sagrados", declarou Slah Barakati.
"Os tunisianos são trazidos ao tribunal para agradar os Estados Unidos e a União Europeia", ressaltou.
Outro advogado denunciou que os acusados "confessaram participação nos eventos sob pressão e ameaças da polícia".
Centenas de manifestantes atacaram em 14 de setembro de 2012 a embaixada americana em Túnis para denunciar um filme islamofóbico produzido nos Estados Unidos. Manifestações semelhantes ocorreram em muitos países muçulmanos.
Quatro manifestantes foram mortos e dezenas de pessoas ficaram feridas na violência na capital. A embaixada e uma escola americana foram parcialmente queimadas e vandalizadas.
Segundo o governo, os distúrbios foram organizados por Abu Iyadh, membro da Al-Qaeda no Afeganistão e líder do principal movimento salafista tunisino, o Ansar Asharia.
Nenhum membro desta organização está sendo julgado neste processo.
Outro advogado dos acusados, Abdelbaset Ben Mbarek, declarou por sua vez, que a acusação tinha iniciado o processo contra os 20 acusados no contexto da legislação anti-terrorismo.
A polêmica legislação tunisina anti-terrorismo adotada em 2003, quando o presidente Zine El Abidine Ben Ali ainda estava no poder, tem sido fortemente criticada, já que o texto apresenta uma definição muito ampla de "terrorismo".
O governo liderado pelo movimento islamita do Ennahda prometeu reformar a lei, que é criticada pelos defensores dos direitos humanos.
Esta legislação era aplicada pelo regime de Ben Ali, derrubado pela revolução de janeiro 2011, para suprimir as atividades de ativistas e líderes do Ennahda.
A Tunísia experimenta um forte crescimento do movimento jihadista desde a queda de Ben Ali. Em 19 de maio, confrontos entre a polícia e militantes do Ansar Asharia causaram uma morte e vinte feridos em Túnis.