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Acuado, Trump faz nesta terça primeiro debate contra Biden

Uma das potenciais vantagens de Trump em relação a Biden é sua desenvoltura quando as luzes se acendem e as câmeras começam a rodar

Trump e Biden: enfrentamento entre os candidatos é um dos eventos políticos mais aguardados do ano (Montagem EXAME/Getty Images)

Trump e Biden: enfrentamento entre os candidatos é um dos eventos políticos mais aguardados do ano (Montagem EXAME/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 29 de setembro de 2020 às 06h00.

O primeiro dos três debates entre os dois candidatos à presidência dos Estados Unidos acontece na noite desta terça-feira, 29, às 22h de Brasília. Para enfrentar Joe Biden, Donald Trump sobe acuado ao palco da Universidade Case Western, em Cleveland.

Nas últimas semanas, uma série de revelações atingiram diretamente o presidente americano – de suas mentiras deliberadas sobre a gravidade da pandemia às suas declarações de renda obtidas pelo New York Times mostrando que o presidente pagou somente 750 dólares em imposto de renda em 2017 e realizou manobras contábeis complexas para driblar o fisco.

Se alguma dessas acusações vai colar, é uma incógnita. Também não se sabe se o debate tem alguma influência numa eleição tão polarizada e com poucos eleitores indecisos. Mas o enfrentamento entre Trump e Biden, o candidato do Partido Democrata, é um dos eventos políticos mais aguardados do ano.

A pandemia do coronavírus, que já deixou mais de 200.000 americanos mortos, é responsável por uma campanha eleitoral diferente. Trump vem realizando alguns comícios, mas Biden tem preferido ficar em casa, falando aos eleitores via internet. A expectativa é que até 100 milhões de americanos assistam ao confronto de hoje à noite.

Trump vem tratando o debate com certo descaso, pelo menos em suas declarações públicas. Questionado sobre sua preparação, ele diz que continua fazendo o mesmo de sempre. No final de semana, ele voltou a defender um “teste antidoping” para Biden.

“Vou pedir de forma veemente um teste de drogas para o Sonolento Biden antes, ou depois, do debate na terça. Naturalmente, também vou concordar em fazer” um teste, tuitou o presidente americano no domingo. “As performances dele em debates batem recordes em termos de ser IRREGULARES, para dizer o mínimo. Só drogas podem causar essa discrepância???”

De acordo com relatos da imprensa americana, entretanto, a campanha de Trump não está preocupada com esse tipo de fait divers (fato inusitado, na tradução livre do francês). O temor é que a longa lista de acusações contra o presidente americano possa afundar de vez um candidato que aparece consistentemente atrás nas pesquisas. A eleição acontece em pouco mais de um mês, no dia 3 de novembro.

Uma das potenciais vantagens de Trump em relação a Biden é sua desenvoltura quando as luzes se acendem e as câmeras começam a rodar. A atenção da mídia é um dos combustíveis prediletos do presidente. Nas entrevistas coletivas, ele não tem o hábito de responder as perguntas duras que lhe são dirigidas, mas usa as oportunidades para repetir bordões, fazer acusações (muitas delas mentirosas) e jogar para sua base de apoiadores.

A dúvida é se, no ambiente mais solene de um debate presidencial, a mesma tática será efetiva. O evento será moderado por Chris Wallace, âncora da Fox News. Mas é certo que o claro favoritismo que a rede exibe pelo presidente não se repetirá no debate: Wallace já fez perguntas duras e insistentes em entrevistas com Trump e foi elogiado pela condução de um dos debates de 2016.

Serão seis blocos de 15 minutos, sem intervalos comerciais. Cada um terá um tema (escolhidos por Wallace): a pandemia, a Suprema Corte, a economia, a questão racial, a lisura da eleição e o histórico dos candidatos. A declaração de renda de Trump, publicada no domingo pelo New York Times, também certamente será um dos assuntos em pauta – se não o grande assunto da noite de hoje.

Um dos pontos mais marcantes da reportagem publicada no domingo é o valor que Trump pagou de imposto de renda em 2016 e 2017: 750 dólares em ambos os anos. Trata-se de uma quantia irrisória para um empresário que se descreve como bilionário e um gênio dos negócios.

Um dos bastiões de apoio do presidente são trabalhadores de colarinho azul, de quem Trump diz ser um defensor contra os interesses da “elite globalizadora”.

Horas depois da publicação da reportagem, os democratas já tinham produzido um anúncio comparando o imposto pago pelo presidente com o que costumam pagar em um ano um professor de escola do ensino fundamental (7.239 dólares), um bombeiro (5.283) e um mestre-de-obras (16.447), entre outras profissões.

Em entrevista coletiva na noite de domingo, Trump afirmou que a reportagem do New York Times era “completamente fake news” e que pagou “muito” imposto. Ele também disse não ter sido procurado pelo jornal. Mas um advogado da Trump Organization é citado na matéria.

Desde antes de assumir a presidência Trump vem se recusando a divulgar sua declaração de renda, sob o argumento de que ele estaria passando por uma auditoria do Internal Revenue Service (IRS, a receita federal americana). Mas o próprio IRS já afirmou que isso não é um impedimento.

O presidente também tenta impedir na Justiça a divulgação de suas informações financeiras. Os documentos analisados pelo New York Times – obtidos de fontes anônimas – mostram que em 10 dos últimos 15 anos ele não pagou nenhum imposto de renda.

A reportagem também mostra que vários dos negócios de Trump dão enormes prejuízos – o que ele usa para reduzir o impostos devidos – e que o presidente é pessoalmente responsável por empréstimos de centenas de milhões de dólares que vencerão nos próximos anos.

“Se você olhar para os extraordinários bens que tenho, o que a [mídia] Fake News não fez, estou extremamente pouco alavancado – tenho muito poucas dívidas em comparação com o valor dos bens”, postou o presidente da segunda pela manhã.

Coronavírus e a suposta fraude eleitoral

Antes das informações bombásticas do domingo, dois temas prometiam ser os principais tópicos do debate: a pandemia e as repetidas acusações de Trump de que haverá uma “fraude eleitoral massiva”.

Uma das perguntas mais aguardadas é se o presidente aceitará o resultado das urnas. Há meses ele vem dizendo que a votação pelo correio – uma modalidade que pode ser escolhida por até cem milhões de americanos por causa da pandemia – dá margem a fraudes.

Na semana passada Trump disse que não se comprometeria com uma transição pacífica do poder caso seja derrotado. “Vamos ter de ver o que vai acontecer. As cédulas [enviadas pelo correio] são um desastre. Queremos ter... descartar as cédulas e você terá uma trans... teremos uma pacífica... sabe, não haverá uma transferência, sinceramente, será uma continuação.”

No último debate da eleição de quatro anos atrás, Trump também se recusou a afirmar se aceitaria o resultado da eleição. A situação atual, entretanto, é potencialmente muito mais explosiva.

A apuração dos votos enviados pelo correio é mais demorada, o que significa que é muito provável que o vencedor só seja conhecido dias – ou até mesmo semanas – depois de 3 de novembro.

Um dos cenários possíveis para o período pós-eleitoral é que Trump declare vitória em estados-chave do colégio eleitoral mesmo antes do fim da contagem, afirmando que os votos pelo correio são ilícitos.

A contestação de votos deve envolver a Justiça e pode chegar à Suprema Corte – como sugeriu o próprio presidente. Com a esperada confirmação de Amy Coney Barrett, uma cristã conservadora indicada por Trump no último sábado, três dos nove juízes da corte serão indicações do atual presidente – que, com outros juízes três conservadores, terão maioria folgada.

A indicação de Barrett será outro flanco para Trump na noite de hoje. Em março de 2016, o nome indicado para a Suprema Corte por Barack Obama nem sequer passou pela sabatina no Senado. Os republicanos argumentaram que uma indicação teria de aguardar a eleição presidencial, dali oito meses.

Agora, a pouco mais de um mês da votação, o Partido Republicano quer uma aprovação expressa de Barrett (o que deve acontecer, pois o partido controla o Senado).

A estratégia de Biden

Se não há dúvidas sobre os temas, o comportamento de Biden no debate provoca certa angústia entre os democratas. Durante a temporada das primárias, sua performance oscilou entre a mediocridade e o flerte com o desastre.

O cenário era diferente: em alguns casos havia mais de dez debatedores no palco. No final do processo das primárias, com um único adversário – Bernie Sanders --, a performance de Biden foi mais assertiva.

O democrata vem se preparando há dias, decorando dados importantes e participando de debates-treino sob o olhar atento de seus assessores. Um dos temores é que ele sucumba a provocações de Trump e perca a calma ou a linha de raciocínio. Trump, 72, menciona os tropeços de Biden, 77, com frequência, sugerindo que a cabeça do candidato já não está tão afiada.

Uma das expectativas é que Biden adote uma estratégia mais conservadora: atacar as vulnerabilidades de Trump, com o cuidado de não se deixar envolver em bate-bocas. Além de passar a impressão de um candidato “controlado”, Biden sabe que as pesquisas lhe dão vantagem e que, num clima de profunda divisão política, não perder votos é mais importante do que tentar conquistar os eventuais indecisos.

Em 7 de outubro, debatem os candidatos a vice, Mike Pence e Kamala Harris. Os dois outros confrontos entre Trump e Biden estão marcados para os dias 15 e 22 de outubro.

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