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Acordo UE-Mercosul: França 'não assinará' tratado, diz ministra

País europeu vive dias conturbados na política local após presidente se dizer otimista com acordo. Setor agrícola lidera as críticas

Annie Genevard, ministra da Agricultura da França, discursa na Assembleia Nacional da França (Bertrand Guay/AFP)

Annie Genevard, ministra da Agricultura da França, discursa na Assembleia Nacional da França (Bertrand Guay/AFP)

Publicado em 9 de novembro de 2025 às 09h01.

A ministra da Agricultura da França, Annie Genevard, disse neste domingo, 9, que o país "não assinará" o acordo comercial com os países do Mercosul porque "condenaria" seus agricultores.

"Queremos apoiar nossos agricultores e, por isso, a França não assinará um acordo que, a longo prazo, os condenaria", afirmou Genevard ao jornal JDD.

Apesar das declarações da ministra, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou durante a semana que vê perspectivas positivas para a assinatura do acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai).

Macron esteve no Brasil para a Cúpula de Líderes, evento que antecedeu a COP30, em Belém, no Pará. O dirigente francês se mostrou otimista quanto ao acordo comercial, mas ressaltou a necessidade de proteção aos agricultores franceses.

"Estou mais otimista, mas me mantenho vigilante porque também defendo os interesses da França", disse a jornalistas na quinta-feira, 6.

Macron enfatizou que a França solicitou medidas específicas à Comissão Europeia para garantir a segurança do setor agrícola

Para assinar o acordo, a ministra pede uma cláusula de salvaguarda agrícola, medidas que impeçam a importação para a Europa de produtos agrícolas que não cumpram as normas sanitárias e ambientais europeias, além de um reforço dos controles sanitários.

O acordo foi assinado no final de 2024 e, em 3 de setembro de 2025, foi adotado pela Comissão Europeia. Contudo, o texto ainda precisa ser aprovado pelos 27 Estados-membros da UE antes de entrar em vigor - e alguns países permanecem relutantes, como a França.

Indignação na França

As declarações de Macron causaram indignação na França. Representantes de diferentes setores políticos franceses reiteraram, nesta sexta-feira (7), sua rejeição ao acordo entre União Europeia e Mercosul, e criticaram as declarações de Macron.

Os agricultores e pecuaristas franceses temem que seu mercado seja inundado com carne, açúcar e arroz provenientes de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, com o acordo entre União Europeia e Mercosul.

A União Europeia espera obter o aval dos Estados-membros antes do final de dezembro, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ocupa a presidência rotativa do Mercosul.

"Este acordo, finalizado na opacidade e que atenta diretamente contra os interesses da agricultura francesa, deve ser rejeitado", declarou Marine Le Pen, líder do partido ultradireitista Reagrupamento Nacional (RN), no X.

"Depois da indústria, agora é nossa agricultura que [o chefe de Estado] aceita vender a preço baixo", criticou na mesma rede social o presidente do partido Os Republicanos (direita), Bruno Retailleau.

"Um presidente tão desacreditado deveria se calar e deixar que o Parlamento decida!", ironizou, por sua vez, o secretário nacional do Partido Comunista Francês (PCF), Fabien Roussel.

Macron "está assinando a sentença de morte da agricultura francesa", lamentou a eurodeputada de A França Insubmissa (esquerda radical), Manon Aubry, criticando a "virada inédita e escandalosa" do chefe de Estado, que "dizia que se oporia a este acordo de livre comércio".

Com AFP

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