Mundo

Acnur adverte excesso de refugiados em países emergentes

Esses países abrigam 80% das pessoas nesta situalção

O campo de refugiados de Dadaab, no leste do Quênia, é desenhado para 90 mil pessoas, mas atualmente acolhe mais de 300 mil refugiados (Oli Scarff/Getty Images)

O campo de refugiados de Dadaab, no leste do Quênia, é desenhado para 90 mil pessoas, mas atualmente acolhe mais de 300 mil refugiados (Oli Scarff/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 7 de dezembro de 2011 às 11h32.

Genebra - O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), António Guterres, advertiu nesta quarta-feira sobre o desproporcional peso que suportam os países em desenvolvimento na acolhida de refugiados, já que abrigam 80% das pessoas nesta situação.

Atualmente, a população total de refugiados, solicitantes de asilo e deslocados internos por causa de conflitos é de 43,7 milhões de pessoas, da qual mais de 34 milhões vive em países emergentes com poucos recursos para enfrentar o problema.

Mais de um terço dos 20 estados com maior presença de refugiados e deslocados são pobres, como o Quênia, que no último ano recebeu milhares de pessoas que fugiam da guerra e da crise de fome na Somália.

O alto comissário da ONU ressaltou que esta situação representa 'um excessivo peso e responsabilidade' para os países em vias de desenvolvimento, por isso pediu o reconhecimento da comunidade internacional em sua tarefa.

'Muitos desses estados lutam para dar serviços básicos a sua própria população. A generosidade que demonstram (...) exige um esforço desproporcional em relação aos seus recursos', indicou.

Guterres abriu a conferência ministerial sobre refugiados e apátridas com a qual lembra os 60 anos do Acnur, com discurso em que pediu renovar os compromissos dos tratados sobre os quais se baseia o trabalho desta agência das Nações Unidas.


Em 2011 completa 60 anos da Convenção Relativa sobre o Estatuto dos Refugiados (1951) e 50 anos da Convenção para a Redução dos Casos de Apátridas (1961).

O objetivo da conferência, com participação de 145 países, é melhorar a situação dos refugiados e dos apátridas, cujo número atual é de 12 milhões de pessoas, apesar da Acnur reconhecer sua dificuldade em apurar um número preciso.

Guterres considerou que é necessário pressionar para que os países completem com os compromissos adquiridos nesta matéria e se adaptem a uma situação em contínua mudança.

O alto comissário destacou que nos últimos tempos 'a repatriação voluntária de refugiados caiu drasticamente', de uma média de 1 milhão de retornos anuais nas últimas duas décadas para cerca de 200 mil nos últimos dois anos.

A consequência disso é o fato de 7 milhões de refugiados ainda estarem vivendo 'em situações prolongadas de exílio', o maior número da última década.

Outro elemento inovador que devem enfrentar as convenções internacionais é a crescente complexidade das causas de deslocamento e refúgio, elementos como a mudança climática, o crescimento da população, a insegurança alimentar e a escassez de água.

'A natureza do deslocamento forçado está evoluindo rapidamente, mas as respostas da comunidade internacional não seguiram o mesmo ritmo, criando vazios na proteção dos refugiados e dos deslocados', advertiu.

Guterres fez especial destaque a situação dos 12 milhões de pessoas distribuídos pelo mundo sem nacionalidade reconhecida, um assunto que, em sua opinião, 'foi descuidado e abandonado por tempo demais da agenda global'.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, mostrou-se especialmente preocupada pelos problemas das mulheres apátridas em seu discurso na conferência ministerial.

'Ao menos 30 países no mundo todo impedem que as mulheres tenham e repassem sua cidadania aos filhos e aos seus maridos de outras nacionalidades. Há leis que retiram a nacionalidade das mulheres que se casam com estrangeiros, de modo que não podem registrar os casamentos, os nascimentos e as mortes', denunciou.

'Estas leis perpetuam gerações de pessoas apátridas que não pode trabalhar legalmente, viajar livremente, votar, ter propriedades e abrir uma conta bancária, e que não tem acesso à saúde e à educação', ressaltou a secretária de Estado. 

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaPaíses emergentesONU

Mais de Mundo

Trump minimiza papel do Hamas e diz que trégua em Gaza funciona bem

Países podem usar lucro do petróleo para custear transição energética, diz Lula

EUA se prepara para 'caos aéreo' com redução do número de voos

Trump diz que anulação de tarifas pela Suprema Corte seria catastrófica