Angela Merkel: novo acordo de imigração da Alemanha coloca a chanceler em posição difícil com aliados e outros países da União Europeia (Thomas Trutschel/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2018 às 06h27.
Última atualização em 5 de julho de 2018 às 07h02.
A chanceler alemã Angela Merkel está numa missão ingrata para salvar seu governo: agradar húngaros e social-democratas. Nesta quinta-feira, Merkel se encontra com o primeiro ministro da Hungria, Viktor Orbán, um dos maiores entusiastas de um maior controle de fronteiras na União Europeia, e a pauta da imigração deve ser um tema de peso sobre a mesa.
Merkel teve de tomar atitudes mais duras contra imigrantes na Alemanha para manter seu governo unido no início da semana. No novo acordo, está prevista a criação de zonas de trânsito especial na fronteira da Alemanha com a Áustria onde imigrantes já registrados em outros países da União Europeia serão mantidos. A medida é um meio-termo que permitiu que Merkel e o líder do partido da base aliada União Social-Cristã (CSU), Horst Seehofer, pusessem fim a uma disputa sobre imigração que tem ameaçado a coalizão de governo — a demanda original da CSU é que eles sejam enviados para os países onde foram registrados. Mas a decisão gerou atritos com o Partido Social Democrata (SPD), bem mais liberal em questões migratórias e que foi necessário para dar à chanceler maioria no parlamento e ter governabilidade.
Para o acordo firmado com a CSU dar certo, Merkel precisa de apoio dos social-democratas e também de outros países da União Europeia, que temem que a imposição de fronteiras afete os princípios nos quais o bloco é baseado, como o Tratado de Schengen, que permite a livre circulação de pessoas — a chanceler foi censurada na quarta-feira pelo presidente italiano, Sergio Mattarella, justamente por isso. O governo húngaro já afirmou em nota que não deve fechar qualquer tipo de acordo bilateral sobre imigrantes com a Alemanha enquanto o país não discutir a questão com a Áustria, cujo chanceler, o conservador Sebastian Kurz, já afirmou que se o plano de Merkel se mantiver ele irá endurecer as fronteiras na Itália e na Eslovênia.
O vice chanceler e ministro das Finanças, Olaf Scholz, do SPD, disse que seria necessário mais tempo para traduzir as propostas conservadoras sobre imigração em “regras razoáveis”. A líder do SPD, Andrea Nahles, disse que “progresso foi feito, mas ainda não foi possível chegar a uma concordância”. Os três partidos devem se reunir esta noite para continuar as conversas nesse sentido. Tentando agradar a todos, Merkel corre o risco de não conseguir agradar ninguém.