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A renúncia de Bento XVI e a reforma um ano depois

Afastado, Papa Emérito vive no Vaticano e conversa com Francisco


	Bento XVI após missa em fevereiro de 2013: decisão chegou a ser vista por muitos como um gesto de fuga, de impotência diante da crise aberta no Vaticano
 (Gabriel Bouys/AFP)

Bento XVI após missa em fevereiro de 2013: decisão chegou a ser vista por muitos como um gesto de fuga, de impotência diante da crise aberta no Vaticano (Gabriel Bouys/AFP)

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Da Redação

Publicado em 10 de fevereiro de 2014 às 16h10.

Cidade do Vaticano - Com a atenção que Francisco desperta com suas propostas de mudanças na Igreja Católica, é fácil esquecer que, um dia, pessoas do mundo todo leram nos jornais a inesperada notícia da renúncia de um Papa.

Aquela decisão, tomada por Bento XVI e anunciada em 11 de fevereiro de 2013, chegou a ser vista por muitos como um gesto de fuga, de impotência diante da crise aberta no Vaticano pelo vazamento de documentos secretos, o chamado "Vatileaks", e incapacidade de governar e reformar a Igreja Católica.

Um ano após a renúncia, que surpreendeu o mundo e causou preocupação com o futuro da Igreja, a atitude de Joseph Ratzinger começa a ser compreendida pelo que realmente foi: um ato de coragem que deu vida a um processo de renovação da Igreja Católica e o qual não poderia ter sido possível se o seu pontificado fosse encerrado com a morte natural.

Foi o choque à hierarquia da Igreja, à cúria, aos cardeais reunidos nas congregações e, em seguida, no conclave que levou à possibilidade de eleger um Papa do "fim do mundo", o qual vê a instituição pela ótica da periferia, dos pobres.

Com a renúncia, Bento XVI -- que já tinha demonstrado ser um transformador através de sua luta contra os casos de abusos sexuais no clero e ao iniciar um processo de transparência financeira na Santa Sé -- se confirma um inovador e insere na praxe eclesial uma instituição, a da "renúncia", que reforça a potencialidade que a Igreja tem de se reformar radicalmente com a palingenesia que ocorre em qualquer mudança de pontificado.

As palavras de Bento XVI, então, adquirem sentidos em latim diante de cardeais atônitos: sua constatação de não ter mais o vigor do corpo e o ânimo para governar o barco de Pedro de um modo cada vez mais veloz e de não ser capaz de levar até o fim o serviço que lhe foi conferido em 19 de abril de 2005.

Em 12 meses passados desde aquele 11 de fevereiro, o Papa Emérito (como escolheu ser chamado) conviveu dentro dos muros vaticanos com o papa Francisco, afastando qualquer temor de se tornar um contrastante capaz de condicionar o governo e as decisões do Papa atual.

Francisco e Bento XVI se encontraram publicamente várias vezes e, na primeira, em Castelgandolfo, Ratzinger entregou uma grande caixa de documentos, junto com preciosas recordações de nomes e acontecimentos turbulentos dos últimos anos de seu pontificado.
"Lembra-se de tudo. Sabe tudo de cabeça", comentou o papa Francisco a jornalistas após o encontro.

O Pontífice também diz explicitamente é que bom ter Ratzinger por perto, no Vaticano, como um avô a quem se dirige para obter apoio e conselho. Muito diferentes por experiência, caráter, estilo eclesiástico, formação e proveniência, os dois Papas são mais parecidos do que se pensa em relação a alguns elementos sobre visão global da Igreja Católica.

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