Kim Kardashian: estrela visitou a Casa Branca em maio para se reunir com Jared Kushner, o genro e conselheiro de Trump (Shannon Stapleton/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de junho de 2018 às 20h42.
Washington - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, perdoou nesta quarta-feira uma mulher condenada à prisão perpétua por tráfico de drogas após um pedido da estrela de reality shows Kim Kardashian-West, que visitou recentemente a Casa Branca.
A mulher que obteve o perdão presidencial é Alice Marie Johnson, de 63 anos, que já passou mais de 20 atrás das grades e não tinha direito de pedir liberdade condicional. Agora, ela será libertada. A notícia surge em meio a uma recente enxurrada de perdões emitidos pelo presidente Trump, que parece particularmente atraído por causas defendidas por conservadores, celebridades ou alguém que já tenha aparecido no seu antigo reality show, O Aprendiz.
A decisão de reverter a sentença surge também em meio à pressão do governo Trump para a reforma do sistema prisional , que vez por outra se choca com a abordagem do presidente, especialmente se tratando do Departamento de Justiça (DoJ, na sigla em inglês). Na verdade, Trump tem defendido punições mais duras para traficantes de drogas e chegou a sugerir que alguns deles deveriam receber pena de morte.
Alice foi condenada em 1996 em oito acusações criminais relacionadas a um esquema de tráfico de cocaína na cidade de Memphis envolvendo mais de uma dezena de pessoas. O indiciamento de 1994 descreve dezenas de transações e entregas de drogas, e muitas envolvendo Alice.
Ela foi condenada a passar o resto da vida na prisão em 1997 e juízes de apelação e a Suprema Corte rejeitaram suas apelações. Registros mostram que ela tem um pedido pendente para a redução de sua sentença, mas procuradores federais se opõem a ele alegando que a sentença segue a orientação federal quando se trata de grandes quantidades de droga envolvida.
A Procuradoria federal em Memphis não respondeu imediatamente aos pedidos de entrevista. Um site de defesa criminal, CAN-DO, e um dos advogados de Alice afirmaram que um pedido de clemência já havia sido rejeitado pelo ex-presidente Barack Obama. As razões não eram claras.
Uma reportagem de 1997 da Associated Press sobre a condenação de Alice mostra que ela liderou um círculo multimilionário de drogas. Mas um advogado de Memphis, Michael Scholl, que apresentou documentos a uma corte recentemente para solicitar a redução de sua sentença, nega que ela fosse a líder nas operações de cocaína.
"Qual o sentido de se colocar uma senhora sem antecedentes criminais ou que não tenha praticado crimes violentos relacionados às drogas ficar na cadeia pelo resto de sua vida?", afirmou ele em uma entrevista por telefone. "Ela é uma detenta modelo."
Scholl acrescentou que Alice admitiu ter cometido erros, o que pode ser confirmado em cartas que ela escreveu para o juiz distrital Samuel H. Mays, que agora supervisiona seu caso.
"Juiz Mays, estou escrevendo para expressar meu mais profundo remorso pelo crime que cometi há mais de 20 anos. Fiz algumas escolhas erradas que não só afetaram minha vida, mas impactaram toda minha família", disse ela em uma dessas cartas de 2017.
Kim Kardashian West visitou a Casa Branca em maio para se reunir com Jared Kushner, o genro e conselheiro de Trump. Ele é responsável por supervisionar o esforço da administração para revisar o sistema prisional do país. Ela também se encontrou com Trump no Salão Oval, num encontro cuja foto foi divulgada pelo próprio presidente em sua conta no Twitter.
Em uma entrevista no início deste ano, Kardashian contou ter ficado mexida com a história de Alice após ter assistido a um vídeo divulgado nas redes sociais pelas TVs. "Acho que ela realmente merece uma segunda chance na vida", disse Kardashian. "Farei o que for preciso para libertá-la."
A notícia sobre a comutação surge dias depois de Trump perdoar o comentaria conservador Dinesh D'Souza, que foi condenado por uma violação de financiamento de campanha, e concedeu um perdão póstumo ao boxeador Jack Johnson, primeiro negro campeão dos pesos pesados, limpando seu nome cem anos após ao que muitos veem como uma condenação racial.
O perdão ao boxeador vinha sendo encampado pelo ator Sylvester Stallone que, segundo Trump, chamou sua atenção para a história em um telefonema.
Trump também perdoou o xerife do Condado de Maricopa Joe Arpaio, um ferrenho apoiador de sua campanha à presidência; Scooter Libby, que foi chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney; e um militar da Marinha condenado por tirar fotos de partes sigilosas de um submarino.
Em maio, ele também sugeriu estar considerando atuar para comutar a sentença do ex-governador do Estado de Illinois Rod Blagojevich, que cumpre atualmente 14 anos de prisão por corrupção, e da empresária e apresentadora de TV Martha Stewart, condenada por tráfico de influência em uma suspeita venda de ações na Bolsa de Valores. Fonte: Associated Press.