Mundo

A Nova Zelândia venceu o coronavírus -- e tem 3 lições para o Brasil

O país só anunciou medidas para aliviar a quarentena depois de ter 1.180 recuperados num total de 1.487 doentes

JACINDA ARDERN: “Estamos reabrindo a economia, mas não a vida social das pessoas”  (Mark Mitchell - Pool/Getty Images)

JACINDA ARDERN: “Estamos reabrindo a economia, mas não a vida social das pessoas” (Mark Mitchell - Pool/Getty Images)

BC

Beatriz Correia

Publicado em 27 de abril de 2020 às 18h38.

Última atualização em 5 de maio de 2020 às 07h39.

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, afirmou na segunda-feira 27 que o país não registrou mais casos de contágios locais de coronavírus. Uma semana depois, no dia 4, a Nova Zelândia anunciou 24h sem um único caso novo. São duas etapas fundamentais para começar a afrouxar o isolamento no país. “Vencemos esta batalha”, celebrou, após cinco semanas de restrições.

O país registrou até hoje 1.487 casos do novo coronavírus, com 20 mortes. Somente nas últimas 24 horas o Brasil teve mais de 6.000 novos casos, e o número de mortos já passa dos 7.000. A Nova Zelândia é um país rico de apenas 5 milhões de habitantes. Mas seu sucesso no combate ao coronavírus e seu processo de retomada oferecem lições ao Brasil.

A primeira é o comprometimento do governo federal (mais simples, é claro, num país muito menor que o Brasil). Jacinda Ardern e seus ministros diminuíram 20% dos salários por seis meses. Desde 25 de março o país fechou suas fronteiras, proibiu aglomerações, fechou escolas e lojas.

Os 1.600 moradores de rua foram transferidos para hotéis e motéis, e depois devem ir para abrigos do governo, onde podem ser rastreados, a um custo da 100 milhões de dólares. "Foram quase cinco semanas vivendo e trabalhando de forma que dois meses atrás teriam parecido impossíveis. Mas nós fizemos isso, e fizemos juntos", disse a presidente, segundo o Business Insider.

Jacinda Ardern é uma progressista de centro-esquerda, mas seu colega australiano, o cristão-conservador Scott Morrison, também vem conseguindo bons resultados, o que os fez exemplos em reportagem recente do jornal americano The New York Times. Os dois têm rotinas de discursos explicativos à população -- no caso de Arden, em lives no Facebook.

A segunda lição é que uma clareza sobre os números é essencial para uma abertura. A Nova Zelândia só anunciou medidas para aliviar a quarentena, na semana passada, depois de ter 1.180 recuperados, ou 95% do total de casos confirmados à época. Nesta segunda-feira, Ashley Bloomfield, diretor de saúde do país, afirmou que houve apenas um novo caso no dia, além de quatro casos prováveis, todos eles rastreáveis. Há outros 347 cidadãos esperando o resultado de seu teste.

O número de casos de doentes no país está em queda desde 9 de abril, quando chegou a 929, e agora está em 309. Ou seja, desde o início do declínio foram 18 dias até o anúncio das primeiras medidas de alívio da quarentena. Qualquer novo caso no país, segundo as autoridades, agora pode ser prontamente rastreado. O modelo era Taiwan, que conseguiu controlar a propagação do vírus com testagem em massa.

A terceira lição foi reforçada por Arden nesta segunda-feira -- a economia vai ser retomada, mas os cuidados vão continuar. Algumas empresas, os estabelecimentos que entregam comida e as escolas foram autorizadas a reabrir as portas. Negócios considerados não essenciais serão autorizados a reabrir sem contato pessoal com os clientes.

"Estamos reabrindo a economia, mas não a vida social das pessoas", disse Ardern. O governo segue pedindo que as pessoas fiquem em casa quando não estiverem trabalhando ou na escola. Novas medidas de relaxamento, se tudo sair como previsto, devem ser anunciadas no dia 11 de maio. É quando o estado com mais casos do Brasil, São Paulo, deve começar a abrandar a quarentena -- boas lições para este momento podem ser encontradas a 12.000 quilômetros de distância.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusNova Zelândia

Mais de Mundo

Para ex-premier britânico Tony Blair, Irã é o principal foco de instabilidade no Oriente Médio

Naufrágio de iate turístico deixa pelo menos 17 desaparecidos no Egito

Social-democratas nomeiam Scholz como candidato a chanceler nas eleições antecipadas

Musk critica caças tripulados como o F-35 — e exalta uso de drones para guerras