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A nova estratégia 'sem risco' da Rússia: destruir a rede elétrica da Ucrânia

Desde o início de outubro, as forças russas iniciaram uma operação com mísseis e centenas de drones iranianos em toda Ucrânia, em particular na capital Kiev, que conseguiu paralisar quase 40% do sistema elétrico do país

Trabalhadores limpam escombros em cima de um prédio destruído por bombardeios há um mês em Cherkaske, leste da Ucrânia, em 11 de maio de 2022, em meio à invasão russa da Ucrânia (YASUYOSHI CHIBA/AFP/Getty Images)

Trabalhadores limpam escombros em cima de um prédio destruído por bombardeios há um mês em Cherkaske, leste da Ucrânia, em 11 de maio de 2022, em meio à invasão russa da Ucrânia (YASUYOSHI CHIBA/AFP/Getty Images)

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AFP

Publicado em 21 de outubro de 2022 às 10h25.

Após uma série de derrotas do exército russo em várias frentes de batalha na Ucrânia, Moscou mudou de estratégia para tentar inverter a tendência: uma série de ataques contra centrais de energia elétrica ucranianas, com o inverno cada vez mais próximo.

Desde o início de outubro, as forças russas iniciaram uma operação com mísseis e centenas de drones iranianos em toda Ucrânia, em particular na capital Kiev, que conseguiu paralisar quase 40% do sistema elétrico do país.

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"É impossível sobreviver quando não há calefação, água e luz", afirmou esta semana o deputado russo Andrei Guruliov, após os ataques contra as infraestruturas ucranianas.

Para a apresentadora russa Olga Skabeyeva, que apoia o Kremlin, "não havia outras opções".

Analistas militares russos elogiam a estratégia e afirmam que deveria ter sido aplicada desde o início da invasão, em 24 de fevereiro.

"Isto deveria ter sido feito desde o primeiro dia, não depois de oito meses", afirmou Alexander Khramchikhine, analista militar russo entrevistado pela AFP.

"A vantagem deste tipo de estratégia é que paralisa a economia e, em grande medida, as Forças Armadas, tudo sem risco para a Rússia", acrescentou.

Na Ucrânia, o impacto nas instalações elétricas é considerável, em particular nas áreas afastadas da frente de batalha.

De acordo com os serviços de emergência ucranianos, mais de 4.000 cidades, vilarejos e localidades sofreram cortes de energia elétrica esta semana.

A presidência classificou a situação como "crítica" e na quinta-feira as autoridades anunciaram restrições ao consumo de energia elétrica em todo o país.

Até o momento os ucranianos estão suportando.

"Isto não vai mudar nossa atitude. Talvez os odiemos (os russos) ainda mais", disse Olga, que se recusou a revelar o sobrenome.

"Estratégia assimétrica"

"A situação na frente é particularmente desfavorável para os russos, então eles estão recorrendo a uma estratégia assimétrica, atingindo as infraestruturas de energia", disse à AFP o analista ucraniano Mykola Bielieskov.

O início dos bombardeios em larga escala também coincidiu com a nomeação, em 8 de outubro, de um novo comandante das forças russas na Ucrânia, o general Serguei Surovikin, um veterano das piores guerras de Moscou com uma reputação de militar impiedoso.

Sua missão: acabar com a série de derrotas sofridas por suas tropas.

"Surovikin é famoso por este tipo de operação na Síria, por destruir cidades", destaca o analista Mykhailo Samus, diretor do centro de estudos New Geopolitics.

"Ele tenta mostrar a (o presidente Vladimir) Putin que está disposto a fazer o mesmo em Kiev, tentando quebrar o moral dos ucranianos, esgotar as defesas aéreas ucranianas, destruir as infraestruturas energéticas antes do inverno e criar problemas sociais para os ucranianos nas cidades de milhões de habitantes", disse à AFP.

Consciente da nova ameaça, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu aos aliados ocidentais de Kiev que entreguem ao país mais sistemas de defesa antiaéreos.

Analistas também observam que os mísseis russos capazes de atingir centrais de energia com precisão a longa distância estão começando a acabar, o que pode provocar ataques menos precisos.

Independente do que aconteça na cidade de Dnipro, Olga afirma que está pronta para enfrentar o inverno.

"Eu prefiro ficar no frio, sem água ou eletricidade, do que estar na Rússia", resume.

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