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A lição de casa da Grécia para escapar do colapso econômico e os desafios para os próximos anos

País promoveu reformas para responder à crise que mudaram seu destino, mas ainda não conseguiu aumentar sua taxa de investimento frente ao resto da União Europeia

Paternon Grécia Atenas (Reprodução/Wikimedia Commons)

Paternon Grécia Atenas (Reprodução/Wikimedia Commons)

Publicado em 24 de julho de 2025 às 06h31.

Última atualização em 24 de julho de 2025 às 10h49.

O mês de julho é marcado pela alta temporada de turistas na Grécia. É quando o país insular europeu registra temperaturas altíssimas. Mas o verão de 2015 foi diferente. Em julho daquele ano, o país estava mergulhado em uma crise econômica que culminava no risco de saída da zona do euro e no calote de sua dívida pública.

Antes de ir para a UTI, a Grécia abusou de socorros internacionais para se manter, com rodadas e mais rodadas de medidas rigorosas de austeridade enquanto enfrentava instabilidade política e agitação social. A economia desabou, caindo 26% entre 2008 e 2012. O desempregou no país disparou, para 28%.

Dez anos após flertar com o colapso, o país acumula um histórico recente de boas decisões para a sua recuperação. Conseguiu dispensar seu programa de socorro, manter a disciplina fiscal e crescer a taxas maiores do que as principais economias do mundo.

Depois de ensaiar um calote em 2015, o premiê Alexis Tsipras recuou, e o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, que negociava as condições dos acordos com os credores, deixou o cargo, abrindo bases para reformas que transformaram o destino do país.

A despeito das expectativas negativas do FMI, os quatro anos seguintes foram levados a sério pelo governo, seguindo fielmente os termos de seu terceiro socorro. Aos poucos, a economia se estabilizou, os custos de financiamento começaram a cair, e a Grécia retornou aos mercados internacionais em 2017.

Com a volta da centro-direita ao poder em 2019, o crescimento que vinha sendo modesto se acelerou e impulsionou uma recuperação fiscal do país. A Grécia agora registra um superávit primário de 4,8%, enquanto a dívida pública está em queda acelerada - não apenas em razão da inflação, mas também graças à antecipação de pagamentos.

O governo da Nova Democracia foi exitoso ao reduzir a burocracia apostando na digitalização do setor público e coibiu a evasão fiscal. Também saneou o setor bancário e reformou a Public Power Corporation, estatal de energia ineficiente e inchada.

Ao apostar na inovação, Atenas deu origem a um setor de tecnologia em franca ascensão. Marco Veremis, fundador da Big Pi Ventures e um dos principais investidores em tecnologia da Grécia, disse ao jornal Financial Times que “se não fosse pela crise, não haveria um setor de tecnologia” no país.

Desafios atuais

Hoje, passados dez anos desde o pico da crise, o PIB per capita da Grécia ainda equivale a apenas 70% da média da União Europeia, e seus problemas de produtividade continuam sérios. A taxa de investimento em proporção ao PIB da Grécia ainda não passou de 15%, aquém da média do bloco europeu, de cerca de 20%.

A despeito dos investimentos em tecnologia, as finanças do país ainda dependem de setores como os de turismo e de imóveis, que não são necessariamente indutores de criação de valor de longo prazo.

Um grande projeto da Microsoft para construir centros de dados em Atenas, a capital grega, anunciado em 2020 como símbolo da transformação da Grécia, ainda não foi concluído.

As reformas na educação, no sistema judiciário e na administração pública foram importantes, mas são consideradas por especialistas como “passos de bebê”. É preciso corrigir problemas anteriores à crise, como a lentidão da Justiça e a paralisia burocrática.

“Precisaríamos crescer 1% acima do restante da UE por mais 15 anos para estar onde estávamos em 2007”, disse o ex-ministro das Finanças da Grécia George Chouliarakis ao Financial Times.

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