São Paulo - O novo rascunho do acordo global pelo clima apresentado nesta quarta-feira na COP21, em Paris, traz uma meta promissora que está ganhando momentum: limitar o aumento máximo de temperatura no Planeta em 1,5 grau Celsius (ºC) até 2100 para evitar as piores consequências das mudanças climáticas.
Isso é meio grau a menos do que o teto de 2ºC previamente acordado como sendo um nível de aquecimento global considerado "seguro", mas que repetidas vezes foi questionado.
Há cinco anos, quando o pequeno país caribenho de Granada propôs o limite de 1,5ºC durante a COP15, em Copenhague, na Dinamarca, seu pedido caíu em ouvidos surdos.
Para a micronação de apenas 344km², assim como para outros Estados insulares, meio grau a menos representa a diferença entre sobreviver ou sucumbir.
De lá para cá, a ideia, outrora considerada radical, ganhou força. No encontro em Paris, os 44 países que compõem a Aliança dos Pequenos Estados Insulares (na sigla em inglês AOSIS), juntamente com outros países vulneráveis, declararam que o objetivo dos 2ºC, se aprovado pelos principais blocos da negociação, selaria o destino de centenas de milhões de pessoas.
Dessa vez, o apelo foi ouvido. Na semana passada, as negociações climáticas da ONU tomaram um novo rumo, quando duas das principais economias mundiais - Alemanha e França - defenderam o teto de 1,5ºC para o aumento máximo da temperatura média global até o final do século.
Em seguida, o Canadá e a Austrália também reforçaram o coro. Na reta final da negociação, que vai até sexta-feira (11), os Estados Unidos, a China e a União Europeia demonstraram seu apoio à meta de 1,5ºC, que agora é endossada por mais de 100 países.
Na prática, a adoção de 1,5º como limite para a alta na temperatura global exigirá uma transição clara e rápida dos combustíveis fósseis para fontes mais limpas. Para atingi-la, os países devem concordar em descarbonizar a economia e transformar suas matrizes energéticas para um sistema 100% renovável até 2050.
Isso também significa maior ambição no acordo de Paris e a garantia de que as metas de redução de emissões deverão ser revistas antes de 2020 e depois renovadas e revisadas a cada cinco anos a fim de assegurar esta transição.
Ela também exigirá que as nações mais ricas se esforcem para cumprir a promessa de fornecer financiamento para ações de adaptação e mitigação às mudanças climáticas nos países mais vulneráveis até 2020.
Apesar do novo ímpeto, a meta de 1,5ºC não é de todo popular. A Índia, por exemplo, tem resistido, argumentando que o objetivo mais ambicioso irá colocar restrições mais severas aos países em desenvolvimento, que teriam que abrir mão de parte do potencial de suas infraestruturas baseadas em combustíveis fósseis.
A ideia também desagrada grandes produtores de petróleo. A Arábia Saudita, por exemplo, chegou a ser acusada em Paris de tentar atrapalhar as negociações para prolongar a sua posição dominante no setor.
Nas 48 horas finais da COP 21, muita coisa ainda pode acontecer. Mas os sinais de que um bom acordo pode emergir da reunião em Paris são promissores.
Ao que parece, a tensão que agora domina as negociações não é mais sobre se a transição dos combustíveis emissores de carbono vai acontecer, mas como e o quão rapidamente ela ocorrerá.
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1. Aqui e agora
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1/13 (Getty Images)
São Paulo - Para muitos, a discussão sobre
mudança climática, que domina a reunião da ONU sobre clima em Paris, a
COP 21, pode parecer um exercício de futurologia, um problema que só vai cobrar juros das gerações vindouras. Isto é um engano. A mudança do clima na Terra acontece aqui, agora e desde sempre. Mas esta variação, que leva de décadas até milhões de anos, tem se intensificado como resultado das atividades humanas, que liberam na atmosfera milhares de toneladas de gases efeito estufa, os vilões do
aquecimento global. O último relatório do IPCC, o estudo de referência sobre o assunto, deixou bem claro: o homem é o maior responsável pela intensificação das mudanças climáticas atualmente. Extremos de temperatura estão mais comuns do que nunca (14 dos 15 anos mais quentes da história ocorreram desde 2000), as tempestades estão mais violentas, as secas, mais severas e os ciclones e furacões menos piedosos. E os juros já estão sendo cobrados: desde a primeira Conferência sobre Mudança Climática (COP1), em 1995, pelo menos 606.000 vidas foram perdidas em desastres relacionados ao clima, segundo o relatório "
O Custo Humano dos Desastres Relacionados ao Clima" divulgado pela ONU. Em 20 anos, enchentes, secas e furacões causaram perdas e danos dolorosos. Veja nos slides um raio-x da fúria da natureza em grandes números.
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2. Mortes
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2/13 (Getty Images)
Desde a primeira Conferência sobre Mudança Climática (COP1), em 1995, pelo menos 606.000 vidas foram perdidas e 4,1 bilhões de pessoas se feriram ou perderam suas casas em desastres relacionados ao clima.
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3. Custos crescentes
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3/13 (REUTERS)
Nos últimos vinte anos, 90% das grandes catástrofes naturais foram causadas por eventos relacionados ao clima: ao todo, foram 6.457 enchentes, tempestades, ondas de calor, secas, entre outros fenômenos que têm a água como força motriz.
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4. Refugiados climáticos
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4/13 (Getty Images)
Em média, 205 milhões de pessoas foram afetadas a cada ano entre 1995 e 2015. No Brasil, 51 milhões de pessoas sofreram com desastres naturais nos últimos 20 anos.
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5. Custos econômicos
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5/13 (AFP / Gerald Bourke)
A ONU calcula que as perdas com os desastres naturais, incluindo terremotos e tsunamis, estejam entre US$ 250 bilhões e US$ 300 bilhões por ano.
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6. Perdem os ricos e pobres
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6/13 (AFP)
Os cinco países mais atingidos nas duas últimas décadas por desastres relacionados ao clima foram os Estados Unidos (472), China (441), Índia (288), Filipinas (274), e Indonésia, (163).
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7. Ásia
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7/13 (Wikimedia Commons)
A Ásia é o continente que mais sofreu com os desastres nos últimos 20 anos. O saldo de mortos no período chega a 332.000. Em 2008, o ciclone Nargis, um dos mais fatais, matou 138.000 pessoas em Mianmar.
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8. Décadas
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8/13 (REUTERS)
No total, foram registrados uma média de 335 desastres relacionados ao clima por ano entre 2005 e 2014, um aumento de 14% em relação a 1995-2004, e quase o dobro do nível registrado durante 1985-1995.
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9. Enchentes
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9/13 (Mechielsen Lyndon/AFP)
As enchentes foram responsáveis por 47% de todos os desastres relacionados ao clima entre 1995 e 2015, afetando 2,3 mil milhões de pessoas e matando 157.000.
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10. Fúria dos ventos
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10/13 (ChinaFotoPress/Getty Images)
Tempestades, ciclones e furacões foram os tipos mais mortais de desastres relacionados com o clima, sendo responsáveis por 40% (242.000) dos óbitos relacionados com o clima global. A maior parte das mortes (89%) ocorreram em países mais pobres.
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11. Calor
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11/13 (Enrique Marcarian/Reuters)
Ondas de calor foram responsáveis por 148.000 das 164.000 vidas perdidas devido a temperaturas extremas (o que inclui frios recordes). Segundo o estudo, 92% das mortes por calor ocorreram no hemisfério norte, principalmente na Europa, que responde sozinha por 90% desse total.
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12. Secas
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12/13 (REUTERS/Sigit Pamungkas)
Já as secas severas afetam a África mais do que qualquer outro continente. Nos últimos 20 anos, o continente africano registrou nada menos do que 136 eventos do tipo, sendo 77 secas concentradas em países do leste africano.
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13. A reunião mais quente do século
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13/13 (Stephane Mahe / Reuters)