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A 'guerra cambial' e a crescente distância entre as economias mundiais

Papel dos Estados Unidos como banqueiro central mundial, com emissão sem limites de dólares quando suas autoridades econômicas acham necessário, também é debatida

Se existe uma "guerra cambial", europeus e japoneses se consideram suas vítimas (China Photos/Getty Images)

Se existe uma "guerra cambial", europeus e japoneses se consideram suas vítimas (China Photos/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de dezembro de 2010 às 11h44.

Washington - A "guerra cambial", a tensão em torno da taxa de câmbio do dólar e do iuane, e a incerteza sobre o futuro do euro ilustraram neste ano a crescente distância entre as economias desenvolvidas em crise e os países emergentes, líderes em crescimento.</p>

"Estamos vivendo atualmente uma guerra cambial internacional, uma desvalorização generalizada das moedas", advertiu no fim de setembro o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega.

A expressão causou polêmica, mas também teve um sucesso impressionante. Era uma constatação das diferenças entre os líderes das maiores economias do planeta, as que exportam muito (China, Alemanha, Japão) e as que queriam mais (Estados Unidos, os países da zona do euro).

A decisão do banco central chinês de deixar o iuane flutuar mais livremente, ansiosamente aguardada por outros países do G20, ocorreu em junho, uma semana antes de uma cúpula do Grupo de países ricos e em desenvolvimento em Toronto (Canadá).

A medida teve pouco efeito, e não acalmou os congressistas americanos, que pediam sanções contra Pequim.

"Somente uma legislação clara fará os chineses mudarem e conterá os fluxos de emprego e riqueza que escapam dos Estados Unidos", declarou o senador democrata Charles Schumer, que quer a aprovação de uma lei de retaliações comerciais.

A China, com um crescimento anual de 10%, mostrou-se irritada com as "pressões estrangeiras". Seu presidente, Hu Jintao, declarou que sua política é "coerente e responsável".

Uma alta muito rápida do iuane "levaria muitas empresas chinesas à falência, deixaria muita gente desempregada e criaria tumultos", acrescentou seu primeiro-ministro, Wen Jiabao.

Em seis meses, o iuane se valorizou apenas 2,5% em relação ao dólar. O Fundo Monetário Internacional (FMI) ainda o considera "claramente desvalorizado". Mas como o dólar também caiu em relação a outras moedas, o iuane desvalorizou-se 4% em relação ao euro e mais de 5% em comparação com o iene.

Países como o Brasil começaram rapidamente a tomar medidas, como a imposição de uma tarifa sobre a entrada de capital estrangeiro, que aumentou em outubro para 6%.

Se existe uma "guerra cambial", europeus e japoneses se consideram suas vítimas.

Tóquio, que no dia 15 de setembro interveio para frear a valorização do iene, mostrou-se irritado pelas críticas que essa medida suscitou.

Na zona do euro, os países ainda imersos na crise, como Grécia e Irlanda, sofrem porque têm a mesma moeda que a Alemanha, em plena expansão. Para eles, resta apenas recorrer à ajuda de seus sócios e do FMI.

E o debate sobre a explosão da união monetária, improvável em 2009, se converteu em um rumor crescente no fim do agitado ano de 2010.

O papel dos Estados Unidos como banqueiro central mundial, com a emissão sem limites de dólares quando suas autoridades econômicas a consideram necessária, também está sendo debatido.

"As pessoas tendem a culpar muito a China, mas também se esquecem de que, quando um país que tem a moeda que é reserva de valor em todo o mundo faz uma política monetária muito liberal, isso também cria problemas no equilíbrio monetário", criticou em novembro o chanceler brasileiro Celso Amorim, em clara alusão aos Estados Unidos.

"Tal e como é constituído atualmente, o sistema monetário internacional tem um defeito estrutural", reconheceu em novembro o presidente do Federal Reserve americano, Ben Bernanke.

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