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A diplomacia do esporte em campo nas Coreias

O ditador norte-coreano propôs a abertura de diálogo com a Coreia do Sul e os atletas de seu país poderão participar da Olimpíada de Inverno

Coreias: O ritmo dos progressos continuou frenético, considerando os cinco anos de congelamento das relações (Issei Kato/Reuters)

Coreias: O ritmo dos progressos continuou frenético, considerando os cinco anos de congelamento das relações (Issei Kato/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 4 de janeiro de 2018 às 07h39.

Última atualização em 4 de janeiro de 2018 às 21h11.

De acordo com o calendário lunar, seguido pelos coreanos, o ano novo só começa no dia 16 de fevereiro. Para a explosiva relação entre o Norte e o Sul da Península, no entanto, uma nova era pode ter começado no dia 1.º, com um surpreendente discurso de Kim Jong-un.

O ditador norte-coreano propôs a abertura de diálogo com a Coreia do Sul, e indicou que aceitará o convite do presidente Moon Jae-in, para que os atletas de seu país participem da Olimpíada de Inverno, entre os dias 9 e 25 de fevereiro, na cidade sul-coreana de Pyeongchang.

O governo de Moon, eleito em maio exatamente com a promessa de retomar o diálogo com a Coreia do Norte e se reaproximar de seu grande aliado, a China, reagiu em seguida. O ministro sul-coreano para a Reunificação, Cho Myoung-gyon, propôs uma reunião de alto nível na terça-feira 10 em Panmunjom, na zona desmilitarizada que separa os dois países. “Esperamos que os dois lados se sentem para uma conversa franca”, disse o ministro, em entrevista coletiva na terça-feira.

O ritmo dos progressos continuou frenético, considerando os cinco anos de congelamento das relações, desde que a ex-presidente Park Geun-hye rompeu os acordos e o diálogo com o norte, depois de assumir, em fevereiro de 2013. Park foi destituída por corrupção pelo Congresso em março do ano passado. Na quarta-feira, a Coreia do Norte reabriu uma linha direta de telefone usada para contatos com o governo sul-coreano.

É uma tradição na Ásia iniciar o degelo com esportes desde que jogadores de tênis de mesa americanos e chineses começaram a ser enviados para a China e os EUA, no início dos anos 70, no que ficou conhecido como “a diplomacia do pingue-pongue”.

Em novembro de 2013, o presidente Vladimir Putin, em visita a Seul, recebeu uma faixa preta honorária com nono dan da Federação Mundial de Taekwondo, num esforço de melhorar as relações com a Rússia. A homenagem elevou Putin, conhecido por seu narcisismo, a um status no taekwondo, que ele não pratica, maior do que o judô, no qual atingiu o oitavo dan depois de lutar a vida toda.

Em 2000, ano em que as duas Coreias tiveram sua primeira reunião de cúpula, suas delegações de atletas desfilaram juntas na abertura dos Jogos Olímpicos de Sydney. O gesto foi repetido em Atenas, em 2004, quando levaram uma bandeira que dizia “A Coreia é uma só”. As duas delegações no entanto disputaram os jogos separadamente.

Moon gostaria que os atletas dos dois países desfilassem juntos agora, como ponto de partida para um diálogo. Ele era chefe de gabinete de Roh Moo-hyun em outubro de 2007, quando o presidente assinou um acordo com o então líder da Coreia do Norte, Kim Jong-il, pai de Jong-un. Agora na presidência, Moon tem como uma de suas prioridades retomar a reaproximação com o vizinho do norte, que no governo Roh foi chamada de “política do brilho do sol”.

Uma das medidas concretas poderá ser a reabertura do complexo industrial de Kaesong, na fronteira entre os dois países. Criado em 2002, para gerar receitas para a empobrecida Coreia do Norte, ele chegou a abrigar 123 empresas sul-coreanas, que empregavam 55.000 trabalhadores norte-coreanos. Seus salários somavam pouco mais de 100 milhões de dólares ao ano, que eram pagos ao governo norte-coreano.

O negócio era proveitoso também para a Coreia do Sul, que pagava um salário médio de 160 dólares em Kaesong, quando no país o salário mínimo vale 1.280 dólares.

Em fevereiro de 2016, o governo de Park anunciou o fechamento do complexo, em represália contra o lançamento de um satélite e o teste de uma bomba de hidrogênio pela Coreia do Norte. Em dezembro passado, uma comissão do governo sul-coreano determinou que não há evidências de que o dinheiro dos salários estava sendo desviado para o programa nuclear norte-coreano, abrindo caminho para uma possível reabertura do complexo.

O ditador norte-coreano pediu em seu pronunciamento na segunda-feira que a Coreia do Sul ponha fim a seus exercícios militares conjuntos com os Estados Unidos, que mantêm um acordo de defesa mútua com os sul-coreanos e 28 mil militares em seu território. Kim pediu ainda que o vizinho do sul não deixe mais que os americanos tragam bombardeiros e outros armamentos nucleares para a península.

Moon poderá propor aos EUA adiar manobras militares para depois da Olimpíada. Analistas ouvidos pelo jornal The New York Times consideram que Kim está tentando criar uma divisão entre EUA e Coreia do Sul. Ele já havia testado o compromisso americano com a defesa da Coreia do Sul, com a ameaça de disparar mísseis contra cidades nos EUA.

O ministro da Unificação sul-coreano afirmou que seu governo está em estreito contato com autoridades americanas. O presidente Moon quer melhores relações com a Coreia do Norte e a China, mas não ao custo de tensões com os EUA, o grande aliado da Coreia do Sul.

Em seu pronunciamento do dia 1.º, Kim advertiu que tem em sua mesa um botão nuclear pronto para disparar contra qualquer alvo nos EUA. Trump respondeu pelo Twitter: “Alguém desse regime empobrecido e faminto poderia por favor informá-lo de que eu também tenho um botão nuclear, mas muito maior e mais poderoso que o dele, e o meu funciona”.

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee, disse que a política dos EUA em relação à Coreia do Norte “não mudou em nada”, e que seu país “continuará a pôr pressão máxima” para que os norte-coreanos “mudem e desnuclearizem a península”. As duas exigências colocam a barra num patamar muito alto: o país “mudar” significaria o fim de seu regime e a renúncia às armas nucleares recém-adquiridas também não parece algo no horizonte de Pyongyang.

Em 1994, o governo de Bill Clinton firmou um acordo com o de Jong-il, pelo qual a Coreia do Norte abriria mão de seu programa nuclear com fins militares. Em troca, os americanos forneceriam combustível para a geração de energia, enquanto construíam dois reatores para fins civis. O governo americano não forneceu o combustível na quantidade e datas previstas nem construiu os reatores, que deveriam estar operacionais em 2003. Aparentemente, o governo Clinton subestimara os custos envolvidos.

Em janeiro de 2002, o presidente George W. Bush incluiu a Coreia do Norte no “eixo do mal”, ao lado do Irã e do Iraque, ocupando esse último no ano seguinte. Os norte-coreanos acharam mais seguro seguir adiante com seu programa nuclear.

No dia 15 de fevereiro, termina o ano do galo no zodíaco chinês, seguido também na Coreia, e começa o ano do cão. Com o tempo, saberemos o que isso significará

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