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Nova York pode tornar-se a nova Veneza?

Há pelo menos uma chance em seis de que, em 2100, os visitantes da Big Apple tenham que estacionar suas gôndolas - e não seus carros – em Wall Street


	Ondas são vistas no rio Hudson, em NY, com a chegada de Sandy, em 29 de outubro
 (Timothy A. Clary/AFP)

Ondas são vistas no rio Hudson, em NY, com a chegada de Sandy, em 29 de outubro (Timothy A. Clary/AFP)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 4 de julho de 2013 às 18h50.

São Paulo – Quatro metros. Essa foi o a elevação estimada do nível das águas do rio Hudson quando Nova York mergulhou no caos da tempestade Sandy, há duas semanas, gerando imagens marcantes, como as ruas do distrito financeiro transformadas em lagos e as linhas do metrô inundadas, parecendo salões de um navio naufragado.

Naquela madrugada do dia 30 de outubro, Nova York afundou alguns centímetros, quiçá metros, ainda que tenha emergido com igual rapidez pouco tempo depois. Mas, afundou. À luz da ciência, o cenário perturbador parece o prenúncio de um futuro dominado pela maré cheia, onde parte da cidade inevitavelmente sucumbirá.

Estudos para corroborar tal tese se multiplicam a cada Katrina, Irene e Sandy, que acompanham as temporadas anuais de furacões nos Estados Unidos. O mais recente, feito pelo think tank norte-americano Climate Center, uma entidade especializada em questões de mudanças climáticas, traça um cenário preocupante: há pelo menos uma chance em seis de que, em 2100, os visitantes da Big Apple tenham que estacionar suas gôndolas – e não seus carros – em Wall Street.

A entidade criou um mapa online onde é possível verificar as projeção da elevação do nível do mar até o final do século em um mundo em aquecimento constante. Com uma elevação de até dois metros no nível das águas, prevista para 2100, toda a parte baixa de Nova York estaria sob risco de submergir.

Em um artigo assinado em conjunto na página de opiniões do New York Times, Cynthia Rosenzweig, cientista da Agência Americana de Estudos Espaciais (NASA) e William Solecki, diretor do Instituto de Sustentabilidade da Universidade da Cidade de Nova York, destacam que a ameaça à costa americana é real e antiga.


“Ao longo dos últimos 100 anos, a região da parte baixa de Manhattan [Lower Manhattan] já experimentou aumentos de 10 centímetros nas águas do mar”, escreveram os cientistas, lançando em seguida a pergunta mais urgente: agora que Nova York sofreu inundações costeiras devastadoras, como poderemos recuperar a cidade garantindo a infraestrutura necessária para enfrentar as inevitáveis tempestades futuras e minimizar perdas?

Barragens

Já começam a pipocar as sugestões. No caso de Sandy, muitos especialistas sugerem que uma barreira no mar poderia ter minimizado a tempestade mortal e o aumento das águas do rio que banha a cidade. Soluções conhecidas de nossos dias, como as paredes artificiais criadas para proteger Londres de enchentes ou as comportas que impedem a Holanda de desaparecer sob as águas.

A vantagem dessa abordagem é que ela permite a passagem de navios e ao mesmo tempo protege o porto durante os piores incidentes. Depois que a tempestade passa, o sistema reabre e a vida pode voltar ao normal.

Nada de ruas inudadas, nem metrôs alagados. Os custos obviamento são astronômicos. As obras do portão do mar holandês, conhecido pelo impronunciável nome de Oosterscheldedam, engoliram nada menos do que 4 bilhões de dólares.


Não é de se espantar que o principal obstáculo para implementar um projeto dessa magnitude na cidade de Nova York resida justamente no custo, algo entre 10 e 17 bilhões de dólares, pelos cálculos do pesquisador da Universidade de Amsterdã Jeron Aert, que foi contratado por Nova York em 2009 para avaliar os riscos de inundação e propôr alternativas de proteção.

Em entrevista ao NY Times, ele disse que, na ocasião, as autoridades inicialmente preferiram centrar esforços em opções mais baratas e menos intrusivas, como edifícios a prova de inundações e zonas húmidas de expansão para absorver mais água. Depois de Sandy, talvez eles mudem de ideia.

Segundo uma estimativa inicial do chefe de controlodaria do estado de Nova York, Thomas DiNapoli, Nova York pode acumular até 18 bilhões de dólares em prejuízos temporários, ou seja, aqueles gerados pelas interrupções dos negócios diários - de Wall Street ao comércio local das regiões do norte.

Já os danos permanentes, que incluem estragos à infraestrutura da cidade e propiedades, chegam a 200 milhões de dólares por dia, podendo somar até 1 bilhão de dólares no total, disse DiNapoli à agência Reuters.

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