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A caravana de imigrantes centro-americanos ameaça a segurança dos EUA?

Trump chamou de "perigosos criminosos" as pessoas que integram a caravana que segue aos EUA. Entenda quem são e o que querem os imigrantes

Caravana de imigrantes centro-americanos caminha rumo aos Estados Unidos e enfureceu Donald Trump (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Caravana de imigrantes centro-americanos caminha rumo aos Estados Unidos e enfureceu Donald Trump (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

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AFP

Publicado em 20 de novembro de 2018 às 06h00.

Última atualização em 20 de novembro de 2018 às 06h00.

Após as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, Donald Trump apenas mencionou os "perigosos criminosos" que integram a caravana de migrantes centro-americanos, os quais acusou reiteradamente de "invasão" ao país.

A multitudinária marcha migratória segue firme a caminho da fronteira do México com os Estados Unidos e, para além da propaganda, uma preocupação legítima persiste: é uma ameaça para a segurança?

Quando ouve Trump falar dos "pandilleros" na caravana, Bayron Salinas, um mecânico hondurenho de 24 anos, sacode a cabeça em desaprovação.

Resfriado e tossindo no frio de uma noite de novembro no centro do México e com seu bebê de um ano nos braços, Salinas não combina com a imagem de uma "invasão" de "assassinos" e de "gente muito ruim" que, segundo Trump, aproxima-se dos Estados Unidos.

Como a maioria dos 5.000 migrantes em situação ilegal que atravessa o território mexicano caminhando, ou pedindo carona, inclusive em família, Salinas diz que ele e sua mulher, Isamar, querem apenas criar seu bebê longe da pobreza e das gangues que impõem sua brutal violência em sua terra natal.

"Em sua maioria, são famílias e adultos que buscam asilo, fugindo da violência, das ameaças e das duras condições, simplesmente em busca de um lugar seguro", disse Royce Bernstein Murray, do American Immigration Council, em Washington.

- 'Desconhecidos do Oriente Médio' -

É difícil, porém, dissipar completamente os temores de segurança provocados por grandes massas de pessoas cruzando fronteiras.

Uma ferida aberta ressalta o que está em jogo no debate migratório: os atentados de Paris em novembro de 2015.

Há três anos, extremistas do Estado Islâmico mataram 130 pessoas em uma série de bombardeios suicidas coordenados e de tiroteios na capital francesa.

Na Europa, a maioria dos agressores se misturou aos migrantes e refugiados que deixavam a Síria.

A retórica de Trump sobre a caravana ecoa a linguagem que os anti-imigrantes europeus radicais usaram contra o êxodo sírio.

Não existe, contudo, qualquer evidência de que terroristas islâmicos estejam viajando na caravana migrante.

O próprio Trump admitiu que não tinha "nenhuma prova" para um de seus tuítes mais alarmistas, no qual dizia que "desconhecidos do Oriente Médio" estavam misturados ao grupo.

- E membros de gangues -

Com frequência ao longo da campanha, Trump anunciou que membros de gangues integram a caravana, como a Mara Salvatrucha (MS-13), cuja violência levou a taxa de homicídios no triângulo norte da América Central (Honduras, Guatemala e El Salvador) aos níveis mais altos do mundo.

Especialistas em migração e segurança e até os próprios migrantes concordam em que é possível que um pequeno número de membros de gangues e outros criminosos estejam na caravana.

Alguns migrantes disseram à AFP que estão conscientes de que há pequenos grupos de jovens que consomem drogas e roubam coisas, mas não os numerosos criminosos apontados por Trump.

"Se se dão conta de que há um ladrão lá dentro, eles o pegam, duro. Um ladrão que seja inteligente vai para outro lado", disse Denis de la Cruz, uma pescador guatemalteco de 31 anos que marcha com a caravana.

"Em qualquer grupo assim grande, provavelmente você vai encontrar algumas pessoas que têm antecedentes criminais, ou vínculos com gangues", afirmou Richard Miles, especialista nas Américas do Center for Strategic and International Studies (CSIS), em Washington.

"Mas, se tivesse uma presença importante do MS-13, certamente teria sido expulso pelo próprio grupo, porque é exatamente do que a maioria dessas pessoas está fugindo", acrescentou.

E, se ainda houver criminosos, serão detectados com relativa facilidade na fronteira americana, onde há "processos exaustivos" para analisar todos que chegam por meio de impressões digitais, dados biométricos e revisão de antecedentes, disse Bernstein Murray.

- 'Fronteira mais segura do que nunca' -

Os migrantes, que partiram de Honduras em 13 de outubro, incendiaram os tuítes de Trump apenas quando, seis dias depois, entraram em massa na fronteira sul do México.

Trump respondeu a esse movimento enviando milhares de tropas para seu limite com o país vizinho ao sul.

É improvável que a caravana, que começou a se fragmentar, tente forçar sua passagem para o território americano, dizem especialistas.

"A única forma segura de não entrar nos Estados Unidos é tentar um ataque contra um oficial da patrulha fronteiriça, ou um agente de segurança americano", afirmou Miles.

Os migrantes não viajam juntos para invadir os Estados Unidos, mas para se protegerem dos perigos do trajeto pelo México, onde habitualmente são extorquidos, sequestrados, ou mortos por grupos criminosos.

O tamanho do grupo não deve distrair do fato de que a chegada dos migrantes à fronteira será "rotineira" para os Estados Unidos, disse Bernstein Murray.

"A fronteira está mais segura do que nunca", acrescentou.

"Como em qualquer grupo humano, você tem o risco de que possa haver maus elementos. Mas a grande maioria, quase todos esses indivíduos, é exatamente o que diz que é", conclui a especialista.

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