O Presidente da Rússia, Vladimir Putin (MIKHAIL KLIMENTYEV / Colaborador/Getty Images)
AFP
Publicado em 9 de dezembro de 2022 às 10h32.
Na linha de frente da promoção da ofensiva militar lançada por Moscou na Ucrânia, os nacionalistas russos aproveitam a situação para prevalecer em uma arena política deserta após anos de repressão à oposição.
Roman Antonovski é um deles. Desde o início do conflito, em fevereiro, esse blogueiro "patriótico" multiplica suas aparições públicas.
"O patriotismo é a nova moda na Rússia", comemora o especialista em marketing de 42 anos, que se reuniu com a AFP antes de um show de rock "patriótico" em Moscou, onde lerá poemas nacionalistas.
"Quem está no front? Os nacionalistas que a gente vê aqui", garante antes de ir ao palco e gritar para o público: "Gosto dos seus rostos que não estão desfigurados pelo liberalismo!"
Antes marginalizados, vistos como muito extremistas e reprimidos — como toda a oposição na Rússia — os nacionalistas despontam agora como uma das forças políticas mais dinâmicas do país. E uma das mais livres.
Se opositores liberais foram presos, como Alexei Navalny, ou forçados ao exílio, os nacionalistas não hesitam em expressar suas críticas, seja para acusar os generais de serem brandos na Ucrânia ou para exigir uma mobilização geral dos homens em idade de combate.
Após as derrotas sofridas em setembro pelas forças russas em Kharkiv (nordeste da Ucrânia), eles multiplicaram suas críticas ao Estado-Maior a tal ponto que o Kremlin os alertou para "tomar cuidado".
Sinal de seu novo peso político, a morte, no final de agosto, da filha do ideólogo ultranacionalista Alexander Dugin, em um atentado com carro-bomba atribuído por Moscou a Kiev, provocou grande comoção e uma onda de condolências, inclusive de Vladimir Putin.
Antes limitados às redes sociais, blogueiros, jornalistas e outros intelectuais de inspiração nacionalista agora recebem convites das principais redes de televisão.
"O Kremlin se apoia nos nacionalistas para popularizar sua ofensiva na Ucrânia", explica à AFP o sociólogo Lev Gudkov, diretor do centro de pesquisa independente Levada.
No contexto do conflito, o sentimento compartilhado por muitos russos de uma hostilidade ocidental em relação ao seu país fornece uma caixa de ressonância ideal para suas mensagens.
Para 78% dos cidadãos, "a Rússia é um grande país cercado de inimigos", diz Gudkov, com base em uma pesquisa realizada por seu centro.
Na sua crônica semanal na rádio nacional Rossia, Antonovski defende "o grande Império Russo, a última muralha dos valores tradicionais", ataca o Ocidente liberal e propõe expurgar da cultura russa os "russófobos" e nacionalizar os meios de comunicação.
"A russofobia do Ocidente nos uniu", diz.
Para o estudante Valeri Romanov, de 19 anos, muitos jovens se sentem atraídos pelos círculos nacionalistas porque, "na busca de entender o que está acontecendo, começaram a estudar a história de seu país".
"Nacionalismo não é necessariamente extremista", é simplesmente "a forma mais elevada de patriotismo", diz o jovem que lida com questões logísticas na editora Chornaya Sotnia.
"Dois dos meus amigos da universidade tiraram um ano sabático para lutar na linha de frente", explica Romanov.
Com seus colegas, ele arrecada doações para enviar remédios, alimentos e uniformes para o exército.
Como ele, Daniil Majnitski, um pesquisador de 27 anos de uma universidade de Moscou considerada até recentemente um foco do liberalismo, descreve-se como um "nacional-democrata".
"A Europa acreditava que suas sanções nos levariam a derrubar Putin, mas tiveram o resultado oposto: o patriotismo russo explodiu", acrescenta.
Embora esta onda nacionalista sirva atualmente aos interesses do Kremlin, o surgimento de um movimento político forte e estruturado pode evoluir para uma ameaça política no longo prazo, alerta Gudkov.
"Esse chauvinismo imperial é muito perigoso porque pode se tornar uma força política dominante", acredita.
Majnitsky "não tem ilusões" sobre a relação com o Kremlin. "É um casamento de conveniência", admite. "Assim que a paz for assinada com Kiev, nosso relacionamento terminará".