Caminhão encontrado com refugiados asfixiados, na Áustria: "Também havia documentação de viagem síria e assim, certamente, nossa primeira suposição é que os indivíduos eram migrantes" (Reuters / Heinz-Peter Bader)
Da Redação
Publicado em 28 de agosto de 2015 às 10h08.
A polícia austríaca retirou nesta sexta-feira os corpos de 71 migrantes, provavelmente refugiados sírios, de um caminhão frigorífico abandonado em uma estrada no leste da Áustria, um novo episódio macabro da crise migratória que a Europa enfrenta.
"Entre as 71 pessoas havia 59 homens, oito mulheres e quatro crianças, incluindo uma menina com idade entre um e dois anos", disse o porta-voz da polícia, Hans Peter Doskozil.
"Também havia documentação de viagem síria e assim, certamente, nossa primeira suposição é que os indivíduos eram migrantes, e provavelmente um grupo de migrantes sírios. Podemos descartar que fossem africanos", completou em uma entrevista coletiva.
O porta-voz do ministério austríaco do Interior, Alexander Marakovitz, havia afirmado poucas horas antes que foi difícil estabelecer o número de vítimas em função do avançado estado de decomposição dos corpos.
As autoridades haviam divulgado uma primeira estimativa de entre 20 e 50 mortos, após a terrível descoberta na manhã de quinta-feira.
Doskozil também informou que três pessoas foram detidas na Hungria como parte da investigação. Um deles, supostamente o proprietário do caminhão frigorífico abandonado, é um cidadão búlgaro de origem libanesa.
Os outros dois, um búlgaro e uma pessoa com documentação húngara, "são quase com certeza as pessoas que dirigiam o veículo", disse o porta-voz.
As polícias da Áustria e Hungria iniciaram uma investigação conjunta depois que localizaram o veículo de 7,5 toneladas, com placa húngara e o logotipo de uma empresa avícola eslovaca.
Quando se aproximaram do caminhão abandonado, os agentes observaram a saída "fluídos de corpos em decomposição" e sentiram um odor muito intenso quando abriram as portas.
Muitos policiais experientes pareciam afetados pela cena, que descreveram como a de um "crime impactante".
Os legistas trabalharam durante toda a noite para retirar os corpos do caminhão.
As autoridades anunciaram a descoberta no momento em que a chanceler alemã, Angela Merkel, participava em uma reunião com autoridades dos países dos Bálcãs para buscar uma saída à atual crise migratória.
Enormes desafios
Longe da Áustria, no Mediterrâneo, o naufrágio de um barco que transportava quase 300 migrantes na costa da Líbia deixou 76 mortos e dezenas de desaparecidos na quinta-feira, informou um porta-voz do Crescente Vermelho.
No mesmo dia, um barco da Guarda Costeira sueca atracou na Sicília com 52 corpos de migrantes encontrados na quarta-feira.
"Todos estamos comovidos com esta notícia terrível", disse Merkel em Viena.
"É um aviso de que devemos trabalhar para resolver este problema e mostrar solidariedade".
"Parece que as vítimas eram migrantes vítimas de uma operação de tráfico de seres humanos", declarou Janos Lazar, porta-voz do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban.
Merkel reconheceu que os países dos Bálcãs enfrentam "enormes desafios" ao receber dezenas de milhares de migrantes que estão em trânsito para países da União Europeia.
Macedônia e Sérvia, as duas nações que recebem o maior número de migrantes que tentam chegar à Europa ocidental, pediram em Viena uma resposta continental à crise.
A "rota dos Bálcãs do Oeste" é o caminho de milhares de sírios e iraquianos que fogem da guerra, assim como albaneses, kosovares e sérvios em busca de uma vida melhor.
As cenas de caos se multiplicam nos países do leste da Europa à medida que milhares de migrantes avançam para o continente de ônibus, de trem ou a pé.
Nos sete primeiros meses do ano, o número de imigrantes nas fronteiras da UE chegou a 340.000, contra 123.500 no mesmo período em 2014, segundo a agência Frontex, responsável pelas fronteiras externas do espaço Schengen.
No Mediterrâneo, mais de 2.300 pessoas morreram desde o início do ano em tentativas de chegar às costas europeias, segundo um balanço de meados de agosto da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
A Hungria, membro da UE, se transformou no maior ponto de entrada dos migrantes que chegam a partir da Sérvia.
O governo de Budapeste pretende concluir em 31 de agosto uma barreira de 175 quilômetros de comprimento ao longo de sua fronteira com a Sérvia para deter o fluxo migratório.