Política migratória de Trump: fuzileiros navais chegam a Los Angeles após onda de protestos contra a atuação do ICE e tensões em várias cidades dos EUA (Ringo Chiu/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 10 de junho de 2025 às 16h02.
Última atualização em 10 de junho de 2025 às 16h23.
Os protestos contra as políticas migratórias do presidente Donald Trump nos Estados Unidos têm se espalhado pelo país, à medida que o republicano intensifica sua resposta para conter as mobilizações que eclodiram em Los Angeles desde a última sexta-feira. Agora, focos de atos pró-imigração começaram a ocorrer contra a atuação dos Serviços de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) em Nova York, São Francisco, Chicago e Washington, com a polícia entrando em confronto com manifestantes em Dallas e Austin na noite de segunda-feira.
Trump mobilizou 700 fuzileiros navais — que chegaram a Los Angeles nesta terça-feira — e mais de 4 mil membros da Guarda Nacional para proteger prédios federais na cidade. A mobilização ocorreu após a cidade registrar a quarta noite consecutiva de confrontos entre a polícia e manifestantes, embora os casos sejam apontados por autoridades locais como isolados. Ainda assim, nesta terça-feira o republicano afirmou que, se não tivesse enviado tropas, Los Angeles já estaria “completamente queimada”, comparando a situação aos incêndios florestais que devastaram a região no início do ano.
O Pentágono afirmou nesta terça-feira que o envio de membros da Guarda Nacional e de fuzileiros navais para protestos contra operações de imigração em Los Angeles está custando ao país US$ 134 milhões. O anúncio foi feito após questionamentos persistentes de parlamentares ao secretário de Defesa Pete Hegseth. Ele recorreu à controladora interina, Bryn Woollacott MacDonnell, que forneceu o valor total e disse que o dinheiro virá dos fundos de operações e manutenção.
— [O Departamento de Defesa] terá o financiamento para cobrir contingências, especialmente aquelas tão importantes quanto manter a lei e a ordem em uma grande cidade americana — disse ele.
A administração Trump argumenta que a situação em LA está fora de controle e que forças federais são necessárias para apoiar os agentes de imigração e restaurar a ordem. A medida, porém, intensificou a disputa de Trump com o governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, com o estado processando o governo federal pela mobilização das tropas. Trump, por sua vez, sugeriu que Newsom — amplamente visto como possível candidato presidencial em 2028 — poderia ser preso se interferisse nas operações federais.
A legislação americana geralmente proíbe o uso das Forças Armadas ativas (Exército, Marinha, Força Aérea e Fuzileiros Navais) para ações de aplicação da lei doméstica. O impasse em Los Angeles representa a primeira vez desde 1965 que um presidente envia tropas da Guarda Nacional para uma cidade americana sem a aprovação de um governador, publicou a rede britânica BBC. Na Califórnia, o governo pediu que um juiz declare a medida de Trump inconstitucional e suspenda quaisquer futuras implementações.
“Desdobrar mais de 4 mil militares federalizados para reprimir um protesto ou prevenir futuros protestos, apesar da falta de evidências de que a polícia local era incapaz de manter o controle e garantir a segurança pública durante tais protestos”, é inconstitucional, segundo o processo, ecoando uma crítica que foi reproduzida pelo governador também nas redes sociais. Em publicação no X, Newsom chamou a decisão de enviar os fuzileiros de “antiamericana” e disse que a mobilização da Guarda Nacional foi “imprudente” e “inútil”.
Trump, porém, afirmou que o envio das tropas foi “uma ótima decisão” e ridicularizou a ideia de que os protestos eram em sua maioria pacíficos:
“Basta olhar as fotos e vídeos da violência e destruição para entender tudo o que precisa ser entendido”, escreveu ele na Truth Social. “Sempre faremos o que for necessário para manter nossos cidadãos seguros [e] para que possamos, juntos, tornar a América grande novamente”, acrescentou, em referência ao seu slogan de campanha (MAGA).
Fotografias, vídeos e textos enganosos, porém, têm se espalhado amplamente nas redes sociais à medida que os protestos continuam em LA, retomando antigas teorias da conspiração e expressando apoio às ações de Trump. A enxurrada de desinformação pareceu ter como objetivo incitar a indignação contra imigrantes e líderes políticos, principalmente democratas. Esses conteúdos também aumentaram a confusão sobre o que, de fato, estava acontecendo nas ruas.
Diversas cenas mostravam manifestantes atirando pedras ou outros objetos contra agentes da lei e incendiando carros. Ao mesmo tempo, imagens falsas circularam para reviver antigas conspirações de que os protestos seriam uma provocação planejada. Publicações enganosas contaram até mesmo com a reprodução de cenas do filme de ação Blue Thunder (“Trovão Azul”), de 1983, sobre uma conspiração para retirar os direitos civis dos moradores de Los Angeles.
— A guerra de informação é sempre um sintoma de conflito, frequentemente alimentada por quem está no poder para impulsionar seus próprios objetivos autoritários — disse ao New York Times Nora Benavidez, conselheira sênior da Free Press, uma organização que estuda a interseção entre mídia, tecnologia e legislação. — Ela confunde o público, assusta quem poderia simpatizar com a causa e nos divide justamente quando mais precisamos de solidariedade.
Darren Linvill, pesquisador do Media Forensics Hub da Universidade de Clemson, na Carolina do Sul, afirmou que conservadores estavam “amplificando os distúrbios de forma performática” nas redes para reforçar as alegações de Trump de que Los Angeles havia sido tomada por “multidões violentas e insurrecionais”. Segundo ele, essas postagens também eram “um pouco auto-realizáveis” na medida em que, “ao chamar a atenção para isso, mais manifestantes acabam aparecendo”.
Na segunda-feira, protestos durante o dia — a maioria pacíficos — se transformaram em confrontos esporádicos em LA. As manifestações têm se limitado a algumas pequenas áreas de uma cidade que se estende por centenas de quilômetros e é conectada por uma rede de rodovias. Não houve sinais de agitação em áreas como Century City, Hollywood Hills e Santa Monica, próximas do centro, onde negócios e moradores estão em grande parte indiferentes.
Apesar disso, a tensão permanece alta na cidade, já que as operações de imigração que desencadearam os protestos não cessaram. O deputado Jimmy Gomez, democrata cujo distrito abrange o distrito de Los Angeles, disse que as ações do ICE devem continuar sete dias por semana por pelo menos 30 dias. E a prefeita Karen Bass afirmou que houve pelo menos cinco operações na segunda-feira.
(Com Bloomberg, AFP e New York Times)