Segundo relatório, as autoridades forçam os habitantes a deixarem suas casas, com a perda de seu meio de sobrevivência e seu acesso a alimentos (John Lavall/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 17 de janeiro de 2012 às 20h31.
Adís Abeba - O governo da Etiópia obrigou 70 mil indígenas da região de Gambella, no oeste do país, a deixarem suas terras para destiná-las a cultivos comerciais, e os transferiram para assentamentos carentes de água, acesso a alimentos e saúde, denunciou nesta terça-feira a organização Human Rights Watch (HRW).
Em comunicado divulgado em seu site, a ONG alerta para a precária situação de milhares de pessoas desde que, há um ano, o Executivo etíope iniciou sua política de assentamentos na região.
Segundo o relatório, as autoridades forçam os habitantes a deixarem suas casas, com a perda de seu meio de sobrevivência e seu acesso a alimentos, vítimas, frequentemente, dos abusos das forças de segurança etíopes.
De 2008 a janeiro de 2011, segundo a HRW, a Etiópia arrendou pelo menos 3,6 milhões de hectares, e outros 2,1 milhões estão disponíveis através do Banco Federal de Investimento em Agricultura.
A Human Rights Watch sustenta que 42% das terras de Gambella, muitas delas ocupadas, foram postas no mercado para sua exploração comercial, segundo os próprios números do governo.
Os expulsos, pertencentes em sua maioria às etnias Anuak e Nuer, são transferidos a novos assentamentos que carecem das necessidades básicas, informou a HRW.
'O programa de reassentamento coletivo não está melhorando o acesso aos serviços para os povos indígenas de Gambella, mas pelo contrário está pondo em perigo seu meio de subsistência e a segurança alimentar', disse no comunicado Jan Egeland, diretor para a Europa da Human Rights Watch.
'O governo deve suspender o programa até que se possa garantir que as infraestruturas necessárias estão disponíveis e que as pessoas foram devidamente consultadas e compensadas pela perda de suas terras', acrescentou.
O governo etíope planeja situar 1,5 milhão de pessoas para o ano 2013 em quatro regiões do país: Gambella, Afar, Somali e Benishangul Gumuz, de acordo com a ONG.
Desde o início do plano de povoamento em Gambella, em 2010, o governo etíope programou aproximadamente a mudança de 70 mil pessoas na região para o final de 2011.
O plano se compromete a proporcionar as infraestruturas para as novas aldeias e a assistência necessária para assegurar meios de vida alternativos aos refugiados.