Serra Leoa: responsáveis do necrotério principal de Freetown estimaram em 400 o número de mortos (Afolabi Sotunde/Reuters)
AFP
Publicado em 16 de agosto de 2017 às 15h49.
Ainda traumatizada por centenas de mortes, entre elas a de 105 crianças, pelas inundações e pelos deslizamentos de terra que atingiram Freetown na madrugada de segunda-feira, Serra Leoa buscava nesta quarta-feira cerca de 600 desaparecidos na capital.
Esta catástrofe, uma das piores na história deste país, provocada por dias de chuvas torrenciais, deixou mais de 300 mortos em Freetown, segundo o braço local da Cruz Vermelha.
Responsáveis do necrotério principal de Freetown estimaram em 400 o número de mortos.
"Recebemos 105 crianças na funerária", declarou à AFP um funcionário do necrotério do Hospital Connaught, Mohamed Sinneh Kamara.
Além disso, ainda há 600 pessoas desaparecidas, segundo a Cruz Vermelha, já que os deslizamentos de terra na capital de Serra Leoa surpreenderam muitos habitantes que estavam dormindo.
Nesta quarta-feira continuavam as operações de resgate para tentar encontrar as vítimas, enquanto os sobreviventes enfrentavam difíceis condições, explicou à AFP a coordenadora de Saúde da ONG Concern Worldwide, Adele Fox.
"Necessita-se alimentos, água, equipamentos de saúde e ajuda médica. Como ainda estamos na temporada de chuvas, podem ocorrer outras inundações", advertiu.
Freetown, cidade de 1,2 milhões de habitantes localizada às margens do mar, sofre a cada ano com inundações que levam consigo um pacote de doenças, principalmente disenteria e cólera.
Diante da amplitude da destruição, a comoção e a tristeza deram espaço ao incômodo entre os habitantes de Freetown. "Há frustração pela regularidade das inundações e pelas destruições durante a temporada de chuvas", assinalou Fox.
"Estamos angustiados" com este desastre, declarou muito emocionado o presidente Ernest Bai Koroma, durante uma visita na terça-feira ao bairro de Regent, um dos mais atingidos.
Serra Leoa, país da África ocidental e um dos mais pobres do mundo, "precisa de ajuda urgente", declarou.
De Israel saiu um primeiro envio de ajuda de emergência e o Reino Unido propôs o seu apoio.
As autoridades abriram um centro de acolhida em Freetown para ajudar os mais de 3.000 habitantes que ficaram sem lar em Regent, onde parte de uma montanha foi derrubada.
O porta-voz da ONU em Nova York, Stéphane Dujarric, afirmou que "os representantes da ONU em Serra Leoa e [seus] sócios humanitários realizam missões de avaliação".
Mohamed Sinneh Kamara, técnico do necrotério do Hospital Connaught, explicou que sua equipe não tinha os meios para processar e identificar os corpos que se acumulavam.
"Temos limitações logísticas, incluindo a falta de luvas e de EPI [equipamento de proteção individual]", explicou, enquanto as famílias aguardavam para identificar os corpos de seus entes queridos.
A família de Mabinty Sesay estava em Regent em uma oração noturna quando a igreja foi soterrada pela lama. "Perdi 13 membros da minha família, mas só consegui identificar dois", contou à AFP no necrotério.
Na terça-feira foram enterradas em Freetown 150 pessoas, de acordo com um responsável da Câmara Municipal, Sulaiman Zaino Parker. Muitas outras serão enterradas perto da localidade de Waterloo.