Músico do Eagles of Death Metal em frente ao Bataclan após atentados de Paris, dia 08/12/2015 (Charles Platiau / Reuters/Reuters)
Leo Branco
Publicado em 13 de novembro de 2020 às 06h25.
Há cinco anos, uma série de ataques terroristas em Paris chocou os franceses e o mundo – e traz consequências até hoje na maneira como a França lida com o extremismo de cunho religioso.
Na noite de 13 de novembro de 2015, atiradores atiraram fogo no meio de um show na boate Bataclan, além de cafés e restaurantes nos arredores do Estádio da França, que sediava uma partida amistosa entre as seleções da França e da Alemanha.
O grupo jihadista Estado Islâmico, também conhecido pela sigla em inglês ISIS, reconheceu a autoria dos ataques. A barbárie deixou 130 mortos, incluindo boa parte dos terroristas, além de 416 feridos.
O evento foi o mais mortal na França desde a Segunda Guerra Mundial e, entre os países da União Europeia, o ataque terrorista com mais mortes desde as explosões no metrô de Madri, em 2004, que deixaram 193 mortos.
Em meio à escalada de casos da covid-19 na França, as homenagens às vítimas da barbárie de 13 de novembro de 2015 deverão ser mínimas.
Para complicar as coisas, a França está novamente em alerta máximo de segurança por causa do extremismo islâmico.
Nos últimos cinco anos, o país vivenciou 20 episódios de terrorismo de cunho islâmico. Em outubro, um ataque a faca numa igreja de Nice, no sul da França, deixou ao menos três mortos, incluindo uma brasileira. Duas semanas antes, um professor foi decapitado num subúrbio em Paris após mostrar cartuns satirizando o profeta Maomé.
Por causa dos ataques recentes, o presidente francês Emmanuel Macron está numa cruzada para convencer os demais líderes europeus a endurecer as regras de imigração. Boa parte dos responsáveis pelos ataques terroristas entraram ilegalmente no país.
O presidente francês deve apresentar uma proposta de reforma no Tratado de Schengen, que regula as fronteiras dos países da União Europeia, na próxima cúpula de lideranças dos países europeus, em dezembro.
Até lá, outras propostas para restringir a imigração estarão na mesa para debate. Nesta sexta-feira, os ministros de interior dos países da União Europeia vão discutir, via videoconferência, propostas de reforma da política de asilo político, uma das formas mais comuns de entrada de terroristas em solo europeu.
A expectativa, no entanto, é de que o risco de ataques terroristas na Europa, e em particular, na França, continue alta.
"A diferença é que hoje, em 2020, há cada vez mais formas de rastreamento e controles de dados pessoais e privados de indivíduos, tornando as redes terroristas algo de maior controle", diz Cícero Krupp, doutor em relações internacionais pela Universidade de São Paulo e pesquisador nas área de migração e direito internacional na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), e São Paulo.
Para o especialista, o risco de terrorismo islâmico na Europa pode levar tempo até ser resolvido. Nos últimos cinco anos, o influxo de refugiados sírios e norte-africanos foi o maior em décadas. "E os países europeus assumiram um risco calculado nessa decisão: imigrantes e refugiados são importantes para a formação de um mercado interno dinâmico, de trabalhadores com força de trabalho e também como moeda de troca na política exterior" diz Krupp.
"A inclusão dessas pessoas leva tempo. Grande parte delas teve amplo sucesso na sua inclusão. O fato de haver crimes ligados ao terrorismo com essas pessoas, não desconstrói a ideia imigratória."