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COP26: quatro perguntas e respostas para entender como será a conferência

O que é, qual a importância, o que será discutido e o que se espera alcançar na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontece em novembro

Policiais patrulham arena em Glasgow, na Escócia: país se prepara para sediar a COP26 (ANDY BUCHANAN / Colaborador/Getty Images)

Policiais patrulham arena em Glasgow, na Escócia: país se prepara para sediar a COP26 (ANDY BUCHANAN / Colaborador/Getty Images)

Em setembro, mundialmente, o termo COP26 foi dez vezes mais buscado no Google do que seis meses atrás. Uma prova de que, à medida que o evento se aproxima, cresce o interesse em saber sobre a conferência global mais aguardada dos últimos anos, que pode mudar o curso do planeta, hoje a caminho de uma grave crise climática.

Sediado no Reino Unido em parceria com a Itália, o encontro dos líderes mundiais acontece de 31 de outubro a 12 de novembro em Glasgow, na Escócia. O ano previsto era 2020, mas à luz dos efeitos da pandemia de Covid-19, a convenção foi reprogramada para 2021, o que deu aos países mais tempo para se preparar. 

A seguir, quatro perguntas e respostas para entender melhor a COP26 e por que os resultados do evento do ano são de interesse de todos.

O que é a COP26?

É a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas de 2021. Esta é a 26ª edição, por isso o nome COP26. 

COP é a sigla para Conference of Parties (Conferência das Partes, em português) e trata-se de um encontro anual para monitorar e revisar a implementação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Esse tratado foi assinado por 197 países, chamados de Partes, com o objetivo de reduzir o impacto da atividade humana no clima. 

O país que sedia o evento assume a liderança política e coordena as reuniões. Com a realização em Glasgow este ano, o responsável da vez é o Reino Unido. Os líderes mundiais chegarão à cidade escocesa com as suas delegações para 12 dias de negociações. E as decisões tomadas serão soberanas e valerão para todos os países signatários. 

Qual é a importância desse encontro?

A COP26 será determinante para os rumos do planeta. Para compreender o motivo, é preciso olhar para trás, para outra COP, a de número 21, que aconteceu na França em 2015.

Na conferência daquele ano, um passo realmente relevante foi dado: pela primeira vez todos os países concordaram em trabalhar juntos para conter o aquecimento global. Nasceu aí o Acordo de Paris, que tem como grande objetivo limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5 ºC até 2050,  além de disponibilizar dinheiro para cumprir essa meta.

Para isso, os países se comprometeram a apresentar planos nacionais definindo o quanto eles reduzirão as suas emissões de gases de efeito estufa (GEE), visando atingir emissões líquidas zero em 2050. Para esses planos, deu-se o nome de Contribuição Nacionalmente Determinada, NDC na sigla em inglês. 

Ficou acordado também que voltariam a cada cinco anos com um planejamento atualizado, que reflita o seu maior esforço possível no momento. E é na COP26 que os governos terão a primeira oportunidade de comunicar ou atualizar os seus compromissos. 

Mas a importância do evento vai além. Os compromissos assumidos até agora não chegam nem perto da meta de 1,5 ºC (no cenário atual, teríamos um aquecimento de mais de 3 °C, segundo o WRI) e a janela para conseguir alcançar a meta está se fechando. É preciso fazer muito mais, e com urgência. Por isso a COP26 será decisiva. 

O que será discutido?

De acordo com a organização da COP26, são quatro as principais frentes de debate:

Mitigação
Quais são as metas de redução de emissões de GEE dos países para 2030, de modo que se alinhem com o objetivo de alcançar emissões líquidas zero até a metade do século.

Adaptação
Que medidas podem ser adotadas para adaptar e proteger, com urgência, as comunidades e os ecossistemas que já estão sendo afetados pelas mudanças do clima.

Finanças
De que forma viabilizar o financiamento necessário para garantir emissões globais zero, com o desenvolvimento de tecnologia, inovação e uma economia mais verde e resiliente ao clima. 

Colaboração
Como acelerar a cooperação entre governos, empresas e a sociedade civil para enfrentar a crise climática e finalizar as regras do Acordo de Paris a fim de torná-lo operacional. 

A conexão entre a recessão global causada pela pandemia e as questões climáticas também deve estar em pauta, para que o mundo construa uma trajetória de recuperação econômica que leve em consideração os desafios ambientais.

A NDC do Brasil

Até 2025
Reduzir as emissões de GEE em 37% abaixo dos níveis de 2005

Até 2030
Diminuir as emissões em 43%

Aumentar a participação de bioenergia sustentável na matriz energética para 18%

Participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética

Restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas

Fonte: Ministério das Relações Exteriores

New Brighton Beach, na Inglaterra: arte na areia chama a atenção para o aquecimento global (Agency/Getty Images)

Que resultados são esperados? 

As expectativas sobre a edição 26 da COP são muito grandes. Há uma série de questões que precisam ser melhor definidas antes de se discutir pontos novos. E certamente a prioridade será fazer com que as Partes se comprometam a zerar suas emissões até 2050 com ações mais agressivas, especialmente a partir de 2030.

Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, o encontro é “um marco crítico nos esforços para evitar uma catástrofe climática”. Para isso, disse ele, a coalizão global para emissões líquidas zero precisa crescer exponencialmente.

Nesse contexto, espera-se que os países apresentem planos mais ambiciosos, que contemplem ações para objetivos específicos, como apressar a eliminação do carvão, diminuir o desmatamento, acelerar a transição para veículos elétricos e incentivar o investimento em energias renováveis. 

Um relatório feito a pedido de Guterres indicou que os investimentos em energia renovável estão crescendo. Entretanto, de janeiro de 2020 a março deste ano, globalmente foi gasto mais dinheiro em combustíveis fósseis, o que vai na contramão da atual emergência ambiental.

Outra expectativa é a finalização do chamado Livro de Regras de Paris, que reúne as determinações detalhadas para implantar de fato o acordo. Entre os desafios, estão resolver questões de transparência e regulamentar o mercado de carbono, com a criação de um sistema de créditos robusto e que apoie a transição para o zero líquido.

Espera-se ainda que sejam adotadas medidas urgentes para proteger e restaurar os ecossistemas de países que já estão sendo prejudicados pelas mudanças climáticas, além do desenvolvimento de mecanismos de defesa/alerta e de infraestrutura resiliente. 

A promessa dos países desenvolvidos de arrecadar pelo menos 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático, para apoiar os países em desenvolvimento, também é um ponto crucial a ser resolvido. Segundo o relatório, a meta não está sendo cumprida. Os dados são de 2018 e mostram que, até aquele ano, foram investidos 79 bilhões de dólares.

Para a ONU, o financiamento do clima é o caminho, porque não investir custará ainda mais no longo prazo. E no complicado quebra-cabeça da ação climática, esses custos para adaptação são apenas uma parte. De acordo com a entidade, o custo anual excederá – em muito – 500 bilhões de dólares e possivelmente até mais de um trilhão de dólares.  

Os benefícios dos investimentos, porém, serão muito maiores: uma economia verde pode render um ganho direto de 26 trilhões de dólares até 2030 em comparação com os negócios convencionais. Agora, resta saber se a COP26 vai fazer com que os investidores enxerguem isso.

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