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Na Verizon, o advogado subiu no poste

No começo do ano, a jornalista americana Hanna Kozlowska decidiu aumentar a velocidade da internet em sua casa, em Nova York. Ela contatou a Verizon, maior operadora de celular dos Estados Unidos, e solicitou a instalação da rede de fibra óptica premium para uma navegação mais rápida. A surpresa veio enquanto conversava com a dupla […]

VERIZON: empresa vem se desfazendo de sua infraestrutura de cabos para se tornar uma prestadora de serviços sem fio, focada especialmente em telefonia móvel / Spencer Platt / Getty Images (Spencer Platt/Getty Images)

VERIZON: empresa vem se desfazendo de sua infraestrutura de cabos para se tornar uma prestadora de serviços sem fio, focada especialmente em telefonia móvel / Spencer Platt / Getty Images (Spencer Platt/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 13 de maio de 2016 às 13h37.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h10.

No começo do ano, a jornalista americana Hanna Kozlowska decidiu aumentar a velocidade da internet em sua casa, em Nova York. Ela contatou a Verizon, maior operadora de celular dos Estados Unidos, e solicitou a instalação da rede de fibra óptica premium para uma navegação mais rápida. A surpresa veio enquanto conversava com a dupla de técnicos enviados pela empresa para realizar o serviço: um deles era programador, acostumado a trabalhar em escritórios; o outro, que subiu no poste para mexer na fiação, advogado. Ambos, na casa dos cinquenta anos, foram deslocados de outras regiões do país.

A história de Hanna ganhou repercussão após ser publicada na Quartz, plataforma de notícias em que trabalha, e retrata bem a situação da Verizon após mais de dois meses de uma greve que paralisou 39.000 funcionários — a grande maioria técnicos de manutenção e instalação — em dez estados da costa leste dos Estados Unidos.

Trata-se da segunda maior greve da história do país, superada apenas pela paralisação anterior da própria Verizon, em 2011, que mobilizou 45.000 pessoas. As negociações entre a empresa e o sindicato azedaram a tal ponto que piquetes diários são organizados em frente às lojas da operadora em todo o país, com grupos marchando em círculos pedindo que clientes não entrem. Poucas empresas de prestação de serviço deixariam o cenário chegar a este ponto. A Verizon parece não se importar muito com isso.

“Para a Verizon, esses empregados já não são mais tão importantes”, diz Kate Bronfenbrenner, diretora na faculdade de relações da indústria e trabalho da Universidade Cornell. O motivo ficou claro com os últimos movimentos da empresa. Há anos, a Verizon vem se desfazendo de sua infraestrutura de cabos para se tornar uma prestadora de serviços sem fio, focada especialmente em telefonia móvel. Em 2010, a empresa vendeu 4,8 milhões de linhas de telefone rurais em 14 estados para a operadora Frontier.  No ano passado, um acordo de mais de 10 bilhões de dólares passou para a mesma Frontier o controle das operações de telefonia fixa e internet a cabo em três importantes estados, Califórnia, Flórida e Texas. Na transação, a Verizon abriu mão de 3,7 milhões de linhas de telefonia e 2,2 milhões de usuários de internet rápida.

Nesse cenário, os técnicos que cuidavam dos cabos são peças cada vez menos necessários para a nova engrenagem da empresa. Como os trabalhadores sindicalizados da Verizon renovam os termos de seus contratos de forma coletiva de tempos em tempos, esse descaso ficou evidente nas últimas negociações de renovação, em agosto de 2015. Uma das reclamações dos dois sindicatos que representam funcionários da empresa, o Communications Workers of America (CWA) e o International Brotherhood of Electrical Workers (IBEW), é de que a Verizon quer mandar cada vez mais empregos para fora do país, abrindo call centers em lugares de mão de obra mais barata, como as Filipinas. Outra reclamação é do descaso com os técnicos.

“A empresa se recusa a contratar mais pessoal, forçando os técnicos a fazer horas extras e a passar até quatro meses deslocados para outras regiões do país, longe de suas famílias”, diz Candice Johnson, diretora de comunicação do CWA.  “Trata-se de uma empresa com mais de um bilhão de dólares de lucro mensal. É errado uma empresa tão rica fazer essas exigências”. Essa ideia de que as corporações ganham muito em cima de seus empregados vem encontrando espaço em parte do público americano, basta ver a ascensão do pré-candidato à presidência Bernie Sanders e de seu discurso anti-Wall Street. O discurso de Donald Trump, que quer impedir grandes empresas americanas de gerarem empregos no exterior em detrimento à criação de vagas dentro do país, também tem ganhado força. Os americanos estão preocupados com suas condições de trabalho.

Com leis trabalhistas flexíveis, os Estados Unidos permitem que regras e benefícios sejam negociados entre sindicatos e empregadores — ou, na maioria das vezes, direto entre empregados e empregadores, já que menos de 10% da força de trabalho no país tem cobertura de sindicatos. Na França, esse número é superior a 90% e, no Brasil, gira em torno de 50%. O resultado é que há muito pouco poder na mão dos sindicatos americanos.

A lei nos Estados Unidos garante o direito à greve, mas nada impede que a empresa contrate novos funcionários, ou mesmo que demita os grevistas após fim da paralisação. Com o plano de saúde cortado e apenas parte dos salários garantidos durante a greve, os empregados contam apenas com o chamado “fundo de greve” dos sindicatos para se manter. Nesse cenário, a tática da Verizon é não ceder nas negociações e apenas aguardar, já que, uma hora ou outra, a situação se tornará insustentável para os funcionários. “Se a empresa não está interessada naquela força de trabalho, não há porque negociar benefícios e salários”, diz Philip Harvey, professor de direito e economia na Universidade Rutgers. “Para os funcionários, a greve é uma tentativa de salvar o que for possível”. Enquanto ela não termina, a companhia usa quem for necessário para tocar o barco. Além de 10.000 funcionários temporários treinados, a empresa continua escalando seu pessoal do escritório – de programadores a advogados.

(Paula Rothman)

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