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100 dias de Trump: presidente ameaçou anexar Canadá, Groenlândia e Canal do Panamá

Nesta terça-feira, o republicano completa 100 dias no comando da Casa Branca

Donald Trump: presidente dos EUA já ameaçou anexar os territórios do Canadá, Groenlândia e Canal do Panamá ao país (Kevin Dietsch/AFP)

Donald Trump: presidente dos EUA já ameaçou anexar os territórios do Canadá, Groenlândia e Canal do Panamá ao país (Kevin Dietsch/AFP)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 29 de abril de 2025 às 16h41.

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Donald Trump completa nesta terça-feira, 29 de abril, 100 dias como presidente dos Estados Unidos. Além da criação de tarifas de importação para diversos países e políticas rígidas contra imigração, uma das pautas mais emblemáticas da nova gestão do republicano envolve a possível expansão das fronteiras dos EUA.

Antes de retornar à Casa Branca, o presidente norte-americano declarou seu desejo de tomar o Canal do Panamá e a Groenlândia. O político também sugeriu a incorporação do Canadá aos EUA.

Nesta segunda-feira, 28, o presidente americano Donald Trump voltou a defender a proposta de anexar o Canadá, ao mesmo tempo em que desejou “boa sorte” ao país vizinho por ocasião das eleições, em uma mensagem na rede social Truth Social.

Autoridades canadenses rejeitaram firmemente a proposta. O ex-primeiro-ministro Justin Trudeau, que comandava o país até janeiro, afirmou com convicção: "nunca, jamais, o Canadá fará parte dos EUA". Já o premiê provisório, Mark Carney, considerou a ideia uma "loucura".

Trump argumentou que os EUA investem muito na proteção do país vizinho. Em sua visão, uma fusão entre os dois territórios seria mais eficiente. Em uma coletiva de imprensa em janeiro, Trump declarou que pretende recorrer ao poder econômico para alcançar suas metas, incluindo a imposição de sanções e a elevação de tarifas.

Além do Canadá, há outros territórios que atraem o republicano. Trump afirmou que considera a possibilidade de utilizar força militar para assumir o controle tanto do Canal do Panamá quanto da Groenlândia. Para o republicano, essas áreas são estratégicas para a segurança nacional e o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos.

Quanto ao Golfo do México, o republicano anunciou sua intenção de rebatizar a área como "Golfo da América". Embora não tenha explicado os motivos da proposta, declarou que os Estados Unidos desempenham o papel mais relevante na região e, por isso, ela deveria estar sob jurisdição americana. Ele assinou uma ordem executiva para isso, e forçou empresas americanas, como o Google, a adotar o novo nome em seus mapas.

Como funcionam os governos dos países na mira de Trump?

Atualmente, as regiões que Trump pretende colocar sob domínio americano são administradas da seguinte maneira:

Canal do Panamá

Inaugurado em agosto de 1914, o Canal do Panamá foi considerado a maior obra de engenharia de sua época. Sua construção possibilitou a navegação direta entre os oceanos Atlântico e Pacífico, reduzindo significativamente o tempo de viagem para os navios cargueiros.

Os Estados Unidos desempenharam um papel decisivo na realização dessa obra. Naquele momento, o Panamá ainda era parte da Colômbia, e os americanos não conseguiam chegar a um acordo satisfatório com o governo colombiano.

Diante disso, os Estados Unidos apoiaram a independência do Panamá e posicionaram navios nas duas costas da região. Três anos depois, já como um país independente, o Panamá assinou um tratado com os EUA, permitindo a construção do canal.

O acordo estabelecia o pagamento de US$ 10 milhões e uma quantia anual de US$ 250 mil, em troca do controle americano sobre o canal. Mas, ao longo da segunda metade do século 20, o Panamá começou a pressionar para que a estrutura fosse nacionalizada. Os Estados Unidos controlaram o canal até 1999, quando o entregaram ao governo panamenho.

Nos últimos anos, as mudanças climáticas afetaram o equilíbrio dos lagos que regulam os níveis de água, resultando em secas mais frequentes. Isso levou o governo panamenho a restringir o trânsito de navios, a fim de preservar os recursos hídricos necessários para abastecer a população.

Recentemente, Trump criticou as taxas altas cobradas pelo uso do canal, alertando também sobre o risco de crescente influência chinesa na região, especialmente com a administração de dois portos próximos à entrada do canal por uma empresa de Hong Kong, que é parte a China.

O presidente reiterou a importância estratégica do Canal do Panamá para os Estados Unidos. "Se os princípios, tanto morais quanto legais, deste gesto magnânimo de doação não forem seguidos, então exigiremos que o Canal do Panamá seja devolvido a nós, integralmente, rapidamente e sem questionamentos", declarou Trump, em coletiva de imprensa, logo após as eleições.

Em resposta, o governo panamenho defendeu a transparência na cobrança das taxas, explicando que os recursos arrecadados ajudam na manutenção do canal. O presidente José Raúl Mulino afirmou ainda que a estrutura não está sob controle ou influência de qualquer outro país.

Groenlândia

A ilha, que foi colônia dinamarquesa, tornou-se oficialmente parte do Reino da Dinamarca em 1953 e, até hoje, segue sob a Constituição do país europeu.

Em 2009, a Dinamarca concedeu à Groenlândia autonomia para estabelecer seu próprio governo, abrindo inclusive a possibilidade de uma futura independência por meio de referendo.

Durante seu primeiro mandato, Donald Trump declarou a intenção de comprar a ilha. A proposta foi imediatamente rejeitada pelas autoridades groenlandesas, que afirmaram que o território não estava à venda.

Trump, no entanto, não foi o pioneiro nessa tentativa. Após a Segunda Guerra Mundial, o então presidente Harry Truman ofereceu US$ 100 milhões em ouro para adquirir a Groenlândia, com o objetivo de garantir uma posição estratégica durante a Guerra Fria. A proposta também foi recusada, mas os Estados Unidos conseguiram instalar uma base militar no local com o aval da Dinamarca.

Hoje, Washington continua a considerar a Groenlândia um ponto-chave para sua segurança. A ilha é vista como local ideal para a instalação de sistemas antimísseis voltados à defesa contra possíveis ataques vindos da Rússia ou do Ártico. Além disso, seus radares seriam fundamentais para monitorar navios e submarinos — especialmente russos — que transitam entre a Islândia, o Reino Unido e a própria Groenlândia.

Do ponto de vista econômico, a ilha possui reservas significativas de minerais, petróleo e gás natural. No entanto, a extração mineral é alvo de resistência por parte das comunidades indígenas e enfrenta entraves burocráticos. Já a exploração de petróleo e gás é proibida por motivos ambientais.

Como forma de pressão, Trump ameaçou impor tarifas contra a Dinamarca caso o país continue se opondo à venda da ilha, e afirmou que o uso da força militar não está descartado.

Recentemente, autoridades da Groenlândia reiteraram publicamente: o território não está à venda.

Canadá

Nação soberana e independente, o Canadá faz fronteira com o norte dos EUA. No passado, o território foi controlado pelo Reino Unido.

Atualmente, o Canadá é um dos principais fornecedores de petróleo e gás natural para os Estados Unidos. O país também se destaca como grande produtor de recursos minerais, como alumínio, níquel e pedras preciosas.

Trump classificou a fronteira entre as duas nações como uma “linha desenhada artificialmente” e defendeu que sua eliminação traria benefícios à estabilidade financeira.

“Eles são ótimos, mas estamos gastando centenas de bilhões por ano para protegê-los. Estamos gastando centenas de bilhões por ano para cuidar do Canadá”, afirmou o presidente.

Os Estados Unidos impuseram uma tarifa de 25% sobre carros importados, afetando especialmente os veículos canadenses que não atendem aos critérios estabelecidos pelo Acordo EUA-México-Canadá (USMCA). A medida causou grande impacto na indústria automotiva do Canadá, fortemente interligada à dos EUA.

Por enquanto, autopeças ficaram de fora dessas novas tarifas, mas há indícios de que outros elementos da cadeia automotiva possam ser incluídos no futuro.

Mesmo antes de 2025, o aço e o alumínio exportados pelo Canadá já estavam sujeitos a tarifas de 25% ao entrar em território americano. Como principal fornecedor desses metais para os EUA, o Canadá continua enfrentando essas barreiras como parte da política protecionista adotada por Washington.

Golfo do México

A área banha os litorais dos EUA, México e Cuba. A região não pertence a um único país, sendo regulada por tratados internacionais que coordenam sua administração.

Cada nação é responsável pela proteção de suas próprias áreas costeiras e águas territoriais. Além disso, os três países que fazem fronteira com o golfo administram suas Zonas Econômicas Exclusivas, onde é possível explorar recursos naturais.

Embora o nome "Golfo do México" seja utilizado há mais de 400 anos, desde a época dos navegadores europeus que colonizaram a região, Trump propôs recentemente alterá-lo para "Golfo da América".

"Vamos mudar porque fazemos a maior parte do trabalho lá e ele é nosso", afirmou Trump, em uma coletiva de imprensa em janeiro. "É apropriado, e o México tem que parar de permitir que milhões de pessoas invadam nosso país."

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