Andre Penha (à esquerda) e Gabriel Braga, fundadores do QuintoAndar: 2021 foi o ano em que a startup ampliou o ecossistema de produtos e soluções para os clientes | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)
Marcelo Sakate
Publicado em 23 de dezembro de 2021 às 04h38.
Última atualização em 24 de dezembro de 2021 às 06h37.
Com o objetivo de construir um ecossistema completo e com a melhor experiência para clientes finais e imobiliárias, o QuintoAndar anuncia nesta quinta-feira, dia 23, a aquisição das operações imobiliárias do Grupo Navent, dono de alguns dos maiores portais especializados em seis países da América Latina. No Brasil, a Navent tem as plataformas Imovelweb e Wimoveis e a empresa Union Softwares. O negócio envolve pagamento em dinheiro e ações do QuintoAndar.
“A aquisição da Navent reforça a estratégia de criar a melhor plataforma de transações imobiliárias que podemos oferecer para os clientes”, disse Gabriel Braga, CEO e cofundador do QuintoAndar, em entrevista à EXAME Invest. “Isso passa mais recentemente por trazer as imobiliárias para o nosso ecossistema, que é algo que o negócio também reforça."
Segundo o empreendedor, o negócio complementa o objetivo do QuintoAndar de oferecer o atendimento a imobiliárias e clientes em todas as etapas da compra e venda e de aluguel: desde a busca do imóvel, gerando leads (informações de quem está interessado na transação) e tornando a experiência mais fluída, e depois ao longo da jornada facilitando a transação em diferentes etapas por meio de outras soluções, principalmente financeiras.
O Grupo Navent nasceu na Argentina, em 1999, originalmente a partir de um portal de empregos, a Bumeran, nos primórdios da internet na América Latina. Ao longo das duas décadas seguintes, entrou no ramo imobiliário, fez aquisições e se tornou um dos maiores grupos da região nesse segmento e em vagas. No meio do caminho, recebeu aportes de dois gigantes do venture capital, o Tiger Global e o Riverwood Capital.
As demais operações do Grupo Navent, como os portais de empregos com a marca Bumeran, não fazem parte do negócio com o QuintoAndar.
Além das empresas já citadas no Brasil, o grupo tem portais de imóveis em seis países: Zonaprop, na Argentina; Plusvalia, no Equador; Compreoalquile, no Panamá; Adondevivir e Urbania, no Peru; e Inmuebles24, no México.
Também faz parte do grupo a Tokko Broker Software, que opera em todos esses mercados. Suas plataformas nos seis países contam, somadas, com mais de 6 milhões de imóveis listados.
O Imovelweb é um dos maiores portais imobiliário do país, com um tráfego de mais de 8 milhões de pessoas pelo site a cada mês. Foi também o pioneiro, fundado em 1999.
“O que Navent e QuintoAndar farão juntos aproximará as imobiliárias das expectativas do consumidor, elevando o nível para uma experiência que destrave conversão e liquidez”, disse o cofundador e CEO da Navent, Nicolás Tejerina.
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O QuintoAndar, por sua vez, é a maior plataforma em compra e venda e aluguel do país, com mais de 50 bilhões de reais em ativos sob gestão e mais de 150.000 contratos ativos em mais de 40 cidades brasileiras. É uma das startups mais valiosas da América Latina, com valuation de 5,1 bilhões de dólares depois de rodada Series E em que levantou ao todo 420 milhões de dólares em maio e agosto deste ano.
As marcas e as plataformas da Navent nos seis mercados em que está presente, além das respectivas equipes, serão mantidas com a operação de forma independente. “Vamos gradualmente explorar as sinergias e as complementaridades da plataforma do QuintoAndar com as da Navent e vice-versa”, disse o brasileiro.
“A Navent até hoje teve muito foco na geração de leads para as imobiliárias. Nós também fazemos isso e vamos, portanto, somar esforços. Mas desde o começo do QuintoAndar gastamos muita energia para tentar facilitar a transação em si”, explicou.
Ele fez referência ao fato de que uma das primeiras inovações da startup em seus anos iniciais foi a dispensa de fiador no aluguel, graças à análise financeira do inquilino potencial e à parceria com uma seguradora para bancar eventual inadimplência.
Esses esforços para facilitar as transações se aplicam tanto às que são realizadas no ambiente do QuintoAndar como, mais recentemente, para as geradas e conduzidas por imobiliárias parceiras.
“Acabamos atuando tanto no topo do funil [fase em que há o primeiro contato do cliente], na parte relacionada a leads, como no fim do funil [fase próxima ao desfecho da transação], eliminando pontos de fricção e burocracia e tornando a transação mais acessível, mais rápida e segura para os clientes finais e para as imobiliárias parceiras no dia-a-dia.”
No mercado brasileiro especificamente, caberá a cada imobiliária nas plataformas do Imovelweb e da Wimoveis, em um primeiro momento, decidir se continua a operar no modelo já corrente ou se passa a fazer uso das soluções do QuintoAndar até o final da transação.
Do lado do QuintoAndar, a aquisição da Navent é mais uma peça importante e estratégica do quebra-cabeça que vem sendo montado e que ganhou tração ao longo do ano.
As aquisições da ATTA Franchising, que atua com crédito imobiliário, em agosto, e da Velo, que opera garantias locatícias, no início deste mês, se encaixam no objetivo de facilitar a transação.
No início do ano, em março, havia adquirido a imobiliária Casa Mineira, de Belo Horizonte, em uma transação que alçou a startup à liderança em compra e venda de imóveis usados.
Na visão de Braga e André Penha, também cofundador e CTO (executivo-chefe de Tecnologia) do Quinto Andar, o mercado imobiliário brasileiro pode ser destravado e gerar mais negócios com novas soluções financeiras que reduzam as incertezas entre as partes e ampliem o acesso de uma parcela da população aos imóveis, seja para aluguel ou compra.
Um dos principais investimentos da startup se dá no aperfeiçoamento de máquinas de decisão de crédito e análise de risco a partir de um volume crescente de dados. A incorporação da Velo e da ATTA ampliou o alcance justamente dessa frente.
“Foi um ano de expansão do nosso ecossistema, levando o QuintoAndar até as imobiliárias e vice-versa, tornando a nossa plataforma mais ampla para os clientes finais. Alavancamos o que podemos oferecer para as imobiliárias e o que elas podem nos oferecer na parte de geração de oferta e demanda e na parte da transação em si”, resumiu o cofundador da proptech.
Segundo ele, foi um ano também em que o QuintoAndar passou a atender, na prática, qualquer cidade do país por meio de produtos financeiros que não se restringem às cidades em que opera com seu marketplace completo.
“Esses produtos representam outra avenida de crescimento e uma expansão do benefício que podemos gerar para nossos clientes e parceiros, independentemente da cidade.”
A aquisição da Navent também representa o início da operação internacional do QuintoAndar como grupo, embora não ainda como plataforma própria, segundo ressalvou Braga.
“A Navent tem marcas estabelecidas e presença forte nos mercados em que atua e isso certamente facilita a chegada do QuintoAndar em algum momento, mas são dois modelos diferentes. A chegada do QuintoAndar a esses países será algo independente.”
Segundo ele, a startup continua a trabalhar para colocar a operação de pé no México, como anunciado no primeiro semestre, mas sem planos para outros países.
Outro passo nesse sentido foi anunciado em novembro: a abertura de um centro de tecnologia em Lisboa (Portugal), com o objetivo de recrutar talentos de outros países. Será o primeiro escritório da startup no exterior.
Por ocasião da rodada Series E original em maio, Braga havia afirmado que os novos recursos seriam utilizados em três frentes: ampliar a operação já consolidada de aluguel de imóveis, acelerar o crescimento em compra e venda e bancar o desenvolvimento de uma expansão internacional, que começaria pelo México. A aquisição das operações imobiliárias do Grupo Navent mostra um caminho adicional para o objetivo da entrada em outros mercados.