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Renato Correia, presidente da CBIC: Mudança é muito importante para a classe média que ganha de entre R$ 12 mil e R$ 20 mil por mês
Repórter de Mercados
Publicado em 21 de outubro de 2025 às 12h29.
Última atualização em 21 de outubro de 2025 às 13h58.
Um novo modelo de financiamento imobiliário promete aumentar a oferta de crédito para a classe média. A ideia é moderniza o SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), liberando parte dos recursos que antes ficavam obrigatoriamente retidos no Banco Central para aumentar a oferta de financiamentos habitacionais.
Esse é um pedido antigo do setor, que fazia coro com a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).
“Parte dos recursos que ficavam retidos no Banco Central (depósito compulsório) serão usados para aumentar a oferta de financiamentos habitacionais, especialmente para famílias com renda entre R$ 12 mil e R$ 20 mil por mês, um segmento hoje pouco atendido pelas modalidades existentes. Utilizando apenas 5% do compulsório, serão injetados R$ 37 bilhões a mais do que foi financiado no acumulado de 2025”, afirma Renato Correia, presidente da associação.
Reforma Casa Brasil: valor de R$ 30 mil não é para todos; veja simulaçõesAs principais condições do novo modelo são o aumento do limite máximo do imóvel financiado de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões, financiamento de até 80% do valor do imóvel (na Caixa), taxa de juros limitada a até 12% ao ano (incluindo tarifas e comissões), e possibilidade de uso do FGTS para entrada, amortização ou quitação do financiamento.
A meta é liberar até R$ 150 bilhões em novos financiamentos até 2027, com uma fase de transição que começa já em 2025.
Essa reformulação do crédito imobiliário busca tornar o financiamento mais atrativo e acessível, especialmente para a classe média que não se enquadra no programa Minha Casa Minha Vida nem consegue arcar com as taxas dos financiamentos privados, estimulando o setor de construção civil e gerando mais empregos no país.
A construção civil criou 194,5 mil vagas de janeiro a agosto de 2025, o equivalente a 13% de todos os novos empregos formais no país. Ainda assim, o número representa uma desaceleração em relação ao mesmo período de 2024, quando o setor abriu 214,6 mil postos de trabalho. O levantamento foi realizado pela CBIC com base nos dados do Caged.
O motivo principal para a freada é o mesmo vilão que aterroriza outros segmentos da economia: os juros altos.
Com a Selic estacionada em 15% ao ano, a tomada de crédito encareceu e os investimentos em novas obras começaram a minguar. Afinal, os juros altos não dificultam só a compra de imóveis, como também a construção deles.
O mercado imobiliário brasileiro se estruturou em cima de duas grandes fontes de financiamento: o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e as cadernetas de poupança.
O FGTS depende, justamente, do mercado de trabalho, e é a base para os financiamentos do programa Minha Casa, Minha Vida. Apesar da Selic a 15% ao ano, quem compra por meio de programas que se financiam por FGTS consegue uma taxa de, no máximo,8% ao ano.
Na outra ponta, há a caderneta de poupança como fundo para os financiamentos, fonte muito mais escassa e que foi remodelada nessa última atualização.
“O processo produtivo da construção é longo. As obras que geram empregos hoje ainda é resultado de vendas passadas. Mas o cenário atual de juros altos está inibindo novos investimentos”, afirma Renato Correia, presidente da CBIC.
EXAME: Qual o panorama, hoje, da taxa Selic e qual sua relação com o financiamento imobiliário?
Renato Correia: O mercado imobiliário brasileiro se estruturou em cima de algumas fontes de financiamento, entre elas o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e as cadernetas de poupança.
O FGTS depende do mercado de trabalho, que vai muito bem, porque o mercado está aquecido. Enquanto isso, o programa Minha Casa, Minha Vida, que usa o crédito vindo desse fundo, evoluiu muito.
Apesar da Selic a 15% ao ano, quem compra pelo FGTS compra no máximo a 8% ao ano. Os juros altos interferem somente na comprovação de renda, causando uma menor aprovação para o crédito, mas nada que comprometa o programa de forma macro.
Na outra ponta, há a caderneta de poupança como fundo para os financiamentos fora do Minha Casa, Minha Vida, que está muito mais escasso.
EXAME: Como a taxa alta de juros interfere na construção civil?
Renato Correia: A caderneta de poupança, que é uma das bases do financiamento imobiliário, reduziu pela metade o montante destinado ao financiamento direto às construtoras entre 2024 e 2025. Em 2024, destinou pouco mais de R$ 50 bilhões, e em 2025, a previsão reduziu para cerca de R$ 25 bilhões.
Com a redução do crédito via poupança, as empresas foram forçadas a recorrer ao “dinheiro de mercado” para financiar seus projetos. Ao recorrer ao mercado, o custo do empréstimo se eleva, pois significa pagar a Selic mais alguma coisa. Isso pode levar a taxas de 15%, 16% ou 17%.
Por isso há cada vez menos lançamentos para a classe média, porque nem todo projeto vai suportar uma taxa tão alta para a construção.
EXAME: Se o fundo da poupança tem ficado tão escasso, como o modelo que amplia o acesso da classe média ao crédito foi possível?
Renato Correia: O governo federal regulamenta um dinheiro que é privado, que é o da poupança. Há muito tempo há a preocupação com a caderneta de poupança, que tem sofrido vários saques pelos juros altos, já que há, atualmente, muitas alternativas mais rentáveis à poupança.
Se mantivermos as regras como estão, não haveria um incremento razoável dos depósitos. Hoje, de todos os depósitos realizados, 65% devem ser aplicados no mercado imobiliário pelos bancos, 20% ficam obrigatoriamente em depósito compulsório e 15% fica de livre utilização para os bancos.
A nova regra diz que, para cada financiamento imobiliário que um banco fizer, ele pode pegar o mesmo valor da caderneta de poupança para investir como quiser. Assim, ele ganha dinheiro com a poupança, enquanto consegue dar um desconto maior na taxa de quem está financiando um imóvel com ele.
É um mecanismo novo, que precisa de testes para entender sua real atratividade. O governo aceitou nossa sugestão, e 2o26 será o ano de teste para essa nova forma de financiamento. Dando tudo certo, 2027 começa para valer, quando será possível usar 100% dos recursos de poupança para o mercado imobiliário.
Por enquanto, parte dos recursos que ficavam retidos no Banco Central (depósito compulsório) serão usados para aumentar a oferta de financiamentos habitacionais, especialmente para famílias com renda entre R$ 12 mil e R$ 20 mil por mês, um segmento hoje pouco atendido pelas modalidades existentes. E, utilizando apenas 5% do compulsório, serão injetados R$ 37 bilhões a mais do que foi financiado no acumulado de 2025.
EXAME: Quais as condições para isso dar certo?
RC: Para que isso funcione maravilhosamente bem, os juros têm que baixar. Tinha que ser, no máximo, de 10% ao ano.
Fora isso, temos que avaliar também o quanto os bancos vão aceitar limitar os juros a 12% ao ano, que é mandatório para que eles possar usar o valor equivalente do financiamento livremente.
EXAME: Como você vê o crédito para a reforma de imóveis do MCMV?
RC: Acredito que há o uso do dinheiro do FGTS para essa reforma, ou seja, vindo do mercado de trabalho. E é muito importante para a baixa renda que precisa reformar sua casa. Faz sentido tentar socorrer essas famílias, fora que isso fomenta o varejo. Está de bom tamanho, bem dimensionado.