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Apesar de ser ilegal, a cláusula comissória é uma cláusula abusiva que pode ser encontrada em contratos de empréstimo, que prevê a perda total do imóvel em caso de inadimplência (Virojt Changyencham/Getty Images)
Publicado em 6 de março de 2025 às 16h36.
A cláusula comissória, também conhecida como pacto comissório, é uma cláusula contratual que permite que o credor fique com um bem dado como garantia caso o devedor não cumpra com a obrigação estabelecida no contrato. Essa prática é considerada ilegal no Brasil, pois fere princípios jurídicos relacionados ao equilíbrio contratual e à proteção do devedor.
A proibição está prevista no artigo 1.428 do Código Civil, que impede o credor de tomar posse do bem dado em garantia sem um processo judicial adequado. O objetivo da norma é evitar abusos e proteger o direito do devedor de recuperar seu patrimônio, permitindo que a dívida seja quitada de outra forma.
Uma alternativa para essa situação é o pacto marciano no qual as partes podem estabelecer que o credor fique com o bem dado em garantia, mas apenas após uma avaliação justa e imparcial do valor do ativo no momento do inadimplemento. Esse tipo de cláusula é mais equilibrada e busca garantir que o credor não receba um valor desproporcional ao da dívida original.
No Brasil, o pacto marciano não é amplamente utilizado, mas pode ser aceito em algumas situações, desde que respeite princípios de razoabilidade e seja mediado por um terceiro imparcial na avaliação do bem.
Para elaborar um pacto marciano de forma legal e equilibrada, algumas diretrizes devem ser seguidas para garantir a segurança tanto do credor quanto do devedor. Veja os pontos que devem ser considerados:
Quando o devedor não tem um bem de valor para oferecer como garantia, o credor pode buscar outras formas de assegurar o pagamento da dívida, como:
Apesar de não ser uma prática comum no Brasil, o pacto marciano é utilizado em outros países como alternativa à alienação fiduciária e à hipoteca. No contexto imobiliário, essa cláusula pode ser usada nos seguintes casos:
Financiamentos imobiliários entre particulares – Quando uma pessoa financia a venda de um imóvel diretamente para outra, sem a intermediação de um banco, o tal pacto pode ser incluído no contrato. Ele permite que, em caso de inadimplência, o credor fique com o imóvel mediante uma avaliação justa.
Contratos de hipoteca com cláusula de liquidação direta – Em algumas legislações estrangeiras, o pacto é aceito como uma cláusula adicional em hipotecas, desde que um terceiro realize a avaliação do imóvel antes da transferência ao credor.
Venda com reserva de propriedade – Em contratos de compra e venda parcelada de imóveis, o vendedor pode reter a propriedade do bem até o pagamento total da dívida. O pacto marciano pode ser usado para definir que, caso o comprador não consiga quitar o saldo, o imóvel seja transferido ao credor com base em um valor atualizado.
Acordos judiciais ou extrajudiciais – Em algumas negociações de dívidas imobiliárias, o pacto marciano pode ser incluído como uma solução alternativa à execução forçada do imóvel, garantindo que o credor receba o bem sem prejudicar excessivamente o devedor.
Para garantir a legalidade desse tipo de contrato, é essencial contar com o apoio de um advogado e formalizar o acordo de forma clara e transparente.
Embora ambos envolvam garantias sobre bens, a alienação fiduciária é um mecanismo legal e amplamente utilizado por bancos em financiamentos imobiliários e de veículos. Nela, o bem financiado é transferido ao credor até que a dívida seja quitada, mas o devedor continua com a posse e o direito de uso do bem.
Caso o devedor não cumpra com as obrigações do contrato, o credor pode vender o bem para recuperar o saldo devido, devolvendo ao devedor qualquer valor excedente. Isso difere do pacto comissório, no qual o credor simplesmente tomaria o bem sem necessidade de avaliação ou compensação.
Na negociação imobiliária, a escolha da garantia adequada é crucial para proteger os interesses de ambas as partes. Veja as vantagens e desvantagens para cada parte envolvida:
Hipoteca:
Alienação Fiduciária:
Pacto Marciano:
Qual a melhor opção?
A escolha da melhor garantia depende das necessidades e preferências de cada parte.
É fundamental que ambas as partes compreendam as características e implicações de cada tipo de garantia antes de tomar uma decisão. Recomenda-se buscar orientação jurídica especializada para garantir que a escolha seja adequada aos seus interesses.
Entender o conceito de pacto comissório e sua proibição é essencial para evitar cláusulas abusivas em contratos de crédito. A legislação protege o devedor contra perdas injustas e garante que a cobrança de dívidas siga um processo equilibrado e legal. Além disso, conhecer alternativas como a alienação fiduciária e o pacto marciano pode ajudar na escolha da melhor opção de garantia ao contratar um financiamento.