Crianças brincam em Minha Casa, Minha Vida: presidente lembra o sucesso de sua iniciativa na habitação sempre que pode (Tânia Rêgo/ABr)
Da Redação
Publicado em 24 de fevereiro de 2014 às 17h54.
São Paulo - Sentado na sala recém-pintada de sua casa enquanto seu filho brinca ao redor, João Pedro de Souza relembra um momento importante em sua vida. No ano passado, sua família deixou para trás um barraco em uma das muitas favelas de São Paulo e se mudou para esse novo apartamento de dois quartos, com uma cozinha completa e banheiro. Ele credita sua sorte a uma pessoa: a presidente da República, Dilma Rousseff.
“Se não fosse o financiamento do governo, eu jamais compraria um apartamento”, disse Souza, 34, incapaz de segurar o sorriso, sentado em um sofá preto novo financiado com crédito subsidiado.
O programa Minha casa, minha vida de Dilma ajudou a consolidar seu favoritismo antes da eleição de outubro. A presidente, que tem enfrentado protestos massivos nas ruas, inflação alta e o êxodo de investidores do Brasil, apregoa o sucesso de sua iniciativa na habitação sempre que pode: em discursos, aparições na TV, comunicados radiofônicos, postagens em blog, tuítes e eventos de inauguração.
“Esse programa é a linha direta do governo com a sua base de apoio”, disse João Augusto de Castro Neves, analista para a América Latina da Eurasia Group em Washington. “Eles estão dando casas às pessoas, coisas para colocarem em suas casas e empregos, porque alguém tem que construir as casas”.
Os empréstimos e subsídios dos bancos estatais, que impulsionaram a iniciativa, também estão elevando o déficit do Brasil e a dívida necessária para financiá-los. O déficit orçamentário crescerá para 3,9 por cento do PIB neste ano, o maior desde 2009, segundo uma consulta a prognosticadores da Bloomberg, realizada em janeiro. É o dobro dos déficits da Turquia, da Rússia e da Indonésia.
Rebaixamento da classificação
O Fundo Monetário Internacional disse que a dívida bruta do Brasil atingirá, neste ano, a maior alta em uma década, de 69 por cento do PIB. Um crescimento maior da dívida pode levar ao rebaixamento do Brasil de sua classificação Baa2, que está dois níveis acima do grau de investimento, disse o analista do Moody’s Investors Service, Mauro Leos, em janeiro.
“A situação fiscal já está muito delicada”, disse Vinícius Botelho, economista da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, e ex-consultor do Banco Mundial em assuntos fiscais. “O déficit precisa ser reduzido para estabilizar a dívida bruta e isso vem com uma redução nos empréstimos dos bancos estatais”.
Dilma Rousseff, 66, criou e ajudou a consolidar o Minha casa, minha vida em 2009 como ministra da Casa Civil no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Administrado pelo Ministério das Cidades, o programa dá aos brasileiros de baixa renda uma chance de adquirir um imóvel por meio da redução dos pagamentos hipotecários ou pela redução das taxas de juros, em alguns casos pela metade.
O governo inicialmente havia planejado investir R$ 34 bilhões para alojar brasileiros em um milhão de novos imóveis construídos por empresas privadas. Após vencer a eleição em 2010, Dilma mais que triplicou o programa, aprovando R$ 126 bilhões no ano seguinte para erguer até 2,6 milhões moradias a mais.
No ano passado, enquanto o ritmo do crescimento econômico desacelerava para 1 por cento, a presidente anunciou outros R$ 19 bilhões em empréstimos subsidiados para que os novos donos de imóveis pudessem comprar eletrodomésticos, TVs e tablets.
“Não é esmola, não é doação e não é presente”, disse a presidente, que é do Partido dos Trabalhadores, em um discurso, em novembro, em um centro de convenções em Brasília, elevando sua voz em meio a aplausos de seus apoiadores. “É obrigação do Estado e direito de todo cidadão”.
O programa se tornou um campo de batalha na campanha para a presidência. O senador Aécio Neves, um dos principais concorrentes da presidente, disse em uma coluna que o programa de habitação é a maneira do partido que está no poder de “colocar a máquina estatal e o dinheiro público a serviço de seu projeto de perpetuação no poder”.
Liderança da presidente
Menos de oito meses antes da eleição, a presidente ficou à frente do senador Aécio Neves na última pesquisa do Datafolha. Ela receberia 47 por cento dos votos no primeiro turno, contra 17 por cento de Neves em um potencial cenário eleitoral, segundo a pesquisa realizada nos dias 19 e 20 de fevereiro com 2.614 pessoas.
Pedro e sua esposa Jane disseram que votaram em Dilma na última eleição e que votarão de novo.
“Parece justo para mim que votemos nas pessoas que estão trabalhando para melhorar as nossas vidas”, disse ele.