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Luxo em ruínas: arranha-céu dos bilionários pode desabar em Nova York

432 Park Avenue enfrenta rachaduras, infiltrações e disputas milionárias que expõem os limites da arquitetura dos “super arranha-céus”, disseram especialistas ao NYT

432 Park Avenue: prédio está condenado, segundo especialistas ouvidos pelo The New York Times (PixelKraft LLC/Getty Images)

432 Park Avenue: prédio está condenado, segundo especialistas ouvidos pelo The New York Times (PixelKraft LLC/Getty Images)

Publicado em 2 de novembro de 2025 às 14h30.

Última atualização em 2 de novembro de 2025 às 15h08.

O quinto prédio mais alto de Nova York, o 432 Park Avenue, está localizado na prestigiada Billionaires’ Row — o “caminho dos bilionários” de Manhattan —, mas isso não o impediu de se tornar um pesadelo da engenharia.

A torre, erguida com concreto branco em estilo minimalista em dezembro 2015, foi vendida como "o ápice da sofisticação arquitetônica", com unidades que ultrapassaram os US$ 80 milhões e moradores ilustres como Jennifer Lopez, Alex Rodriguez e o bilionário saudita Fawaz Alhokair. Mas, quase uma década depois de sua inauguração, o prédio de 432 metros de altura enfrenta uma série de falhas estruturais que podem, segundo engenheiros ouvidos pelo The New York Times, torná-lo inabitável. E representar risco para os pedestres.

De acordo com documentos obtidos pelo jornal, a torre apresenta centenas de rachaduras, infiltrações de água, elevadores defeituosos e falhas nos sistemas mecânicos. A origem de muitos desses problemas estaria na própria estética escolhida para o edifício.

O concreto branco, desejado pelos desenvolvedores Harry Macklowe e o arquiteto uruguaio Rafael Viñoly, foi considerado frágil por engenheiros ainda durante a fase de testes em 2012. “Eles tinham duas opções: ‘cor ou rachaduras’”, escreveu na época Silvian Marcus, engenheiro da empresa WSP, em e-mail interno citado pelo NYT.

A opção foi pela cor. A escolha por um concreto branco e "esteticamente puro" — que não admitia a adição de substâncias como fly ash (pó fino de sílica, alumina e ferro), que poderiam reforçar a estrutura — teria contribuído para fissuras precoces na fachada do prédio. Testes feitos antes do início das obras já mostravam colunas com rachaduras e buracos, mas a obra seguiu para não comprometer os prazos de entrega.

O prédio foi descrito por seu criador, Macklowe, como uma construção “absolutamente pura”. Ele demoliu o antigo hotel de luxo Drake Hotel para erguer sua torre dos sonhos, com janelas quadradas de 10 por 10 pés, teto de mais de 3 metros de altura e uma vista privilegiada do Central Park.

A estética do prédio se inspirava no design de uma lixeira do arquiteto austríaco Josef Hoffmann. O projeto arquitetônico foi aclamado, e as 125 unidades do prédio foram vendidas por mais de US$ 2,5 bilhões. Mas a realidade logo começou a ruir. Literalmente.

Nada é para sempre. Exceto alguns prédios

Moradores passaram a relatar barulhos de estalos nas paredes, sensação de balanço com o vento e vazamentos de água que causaram milhões de dólares em prejuízos. A fachada apresentava falhas visíveis e rachaduras que se multiplicavam mesmo após tentativas de reparo.

“O prédio está sendo submetido a estresses além do que foi projetado para suportar”, disse Steve Bongiorno, engenheiro estrutural entrevistado pelo New York Times.

Engenheiros alertam que os danos podem ser agravados com o tempo, especialmente com o aumento de infiltrações, o que compromete o aço da estrutura e gera ainda mais rachaduras. “Pedaços de concreto vão se soltar, janelas começarão a afrouxar e os sistemas mecânicos falharão”, alertou Bongiorno ao jornal. “O prédio simplesmente se tornará inabitável.”

O professor Anthony Ingraffea, especialista em fraturas de concreto da Universidade Cornell, revisou fotos dos danos e afirmou que "o prédio não durará para sempre". "Eu não assinaria um documento dizendo que este prédio durará. O Empire State Building, sim. Este, eu duvido", disse.

Ching Wong, um investidor que mora no local, pagou US$ 15 milhões por um apartamento com vista para o Central Park e, agora, está frustrado com a compra que fez. “O banheiro está com a porta torta, o ar-condicionado não funciona e meus custos de condomínio triplicaram”, disse ao NYT. “Quanto mais alto o prédio, mais longa é a sombra.”

432 Park Avenue

432 Park Avenue durante sua construção, em 2014 (sx70/Getty Images)

O problema dos 'super altos'

Para especialistas ouvidos pelo New York Times, o 432 Park Avenue já é um exemplo emblemático dos riscos que cercam a nova geração de arranha-céus ultrafinos, conhecidos como supertalls ("super altos", na tradução literal).

Com proporções extremas e estruturas esguias, esses edifícios impõem desafios inéditos à engenharia civil moderna — e, segundo os engenheiros, o prédio em Manhattan já ultrapassou os seus próprios limites. “Um edifício com apenas 10 anos não deveria apresentar esse grau de deterioração”, afirmou José Torero, professor de engenharia da University College London. “Ninguém pode argumentar que isso não é uma falha.”

Além das rachaduras na fachada, os próprios moradores enfrentam dificuldades cotidianas que comprometem o padrão de luxo prometido. Elevadores que travam por longos períodos, barulhos constantes nas paredes, oscilações causadas pelo vento e quedas de energia são queixas frequentes.

Um dos casos mais graves foi o de um elevador vazio que despencou 40 andares até o subsolo. Em outra situação, um morador chegou a contratar engenheiros para estabilizar sua unidade, tamanha a sensação de instabilidade.

Diante da deterioração da fachada, o condomínio chegou a considerar a aplicação de uma tinta especial, chamada elastomérica, capaz de cobrir rachaduras e criar uma barreira contra infiltrações. Mas os desenvolvedores recusaram a proposta por considerar que o revestimento daria um “brilho plástico” à fachada. “Prefiro decepcionar hoje do que instalar algo que nem o fabricante acredita que vai funcionar”, escreveu o engenheiro Silvian Marcus, ainda em 2013, quando os problemas já eram evidentes.

Vai desabar?

As autoridades de Nova York afirmam que o prédio não apresenta risco iminente de colapso.

Porém, os relatórios técnicos, inclusive os produzidos por empresas contratadas pelo próprio condomínio, indicam que as intervenções feitas até agora são superficiais, e que as rachaduras continuam se espalhando, especialmente em andares elevados. O edifício já foi autuado por não proteger adequadamente os pedestres da queda de materiais da fachada.

A estimativa para um reparo completo ultrapassa os US$ 160 milhões, segundo o NYT.

O valor cobre apenas os custos relacionados à fachada: outros problemas estruturais, mecânicos e hidráulicos exigiriam investimentos adicionais.

A incorporadora CIM Group nega que o prédio esteja comprometido e atribui as denúncias a disputas internas. Em nota ao jornal americano, a CIM Group classificou as alegações como “infundadas, difamatórias e mais um erro do condomínio que só vai derrubar ainda mais o valor das unidades”.

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