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GRI Institute: o país emergente que está na boca dos investidores mais inclinados ao risco é a Índia (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Mercados
Publicado em 17 de junho de 2025 às 11h41.
Ele tem uma das maiores redes de networking do mercado imobiliário e alerta: “Interesse internacional no Brasil nunca foi tão baixo”.
Em entrevista à EXAME, Gustavo Favaron, CEO do GRI Institute, fundado em 1998, em Londres, afirma haver outros países emergentes que tiram do Brasil o holofote para aqueles investidores dispostos ao risco, como Índia e México.
O GRI Institute (Global Real Estate Institute) é um fórum mundial focado em reunir líderes do mercado imobiliário para buscar negócios, tendo entre seus membros donos de incorporadoras, líderes de real estate, fundos de investimento de private equity e fundos soberanos de quatro continentes, como Blackstone, Brookfield, DIIC (de Singapura) e AD (soberano de Abu Dhabi).
Participam do evento desde incorporadores médios até grandes, como Cyrela e MRV. Com atuação em mais de 100 países, totalizando 19 mil membros espalhados pelo mundo, o Brasil representa menos de 20% do grupo.
Para Favaron, o desinteresse internacional para investimento no mercado imobiliário brasileiro se deve a dois elementos. O primeiro é o momento de incerteza global, com a guerra Rússia e Ucrânia e a guerra comercial entre China e Estados Unidos, que leva investidores a escolherem aplicações mais óbvias e menos arriscadas.
Fora isso, o outro elemento é o próprio mercado doméstico, com a percepção externa de descontrole dos gastos públicos no Brasil.
O país emergente que está na boca dos investidores mais inclinados ao risco é, mesmo, a Índia.
Em 2024, o mercado imobiliário indiano era estimado em US$ 330 bilhões — algo equivalente a R$ 1,8 trilhão, segundo a cotação atual do dólar. A expectativa é que o setor atinja US$ 1,04 trilhão — equivalente a quase R$ 6 bilhões — até 2029. Os dados são da empresa de pesquisa de mercado Mordor Intelligence.
O país apresenta um conjunto de elementos favoráveis, segundo o executivo. Entre eles, um governo “pró-business” após o primeiro-ministro indiano Narendra Modi ser reeleito, animando o mercado e trazendo investimento em infraestrutura. “Cidades como Mumbai e Delhi são 'campos de obras' com metrôs, aeroportos e rodovias”, afirma.
Próxima parada, Índia. Como a Embraer quer conquistar a quarta maior economia do mundoFavaron cita também mudanças fiscais e tributárias pró-negócios, maior clareza nos processos de aprovação e uma drástica redução dos níveis de corrupção, especialmente ao nível federal.
Além disso, enquanto Brasil e China pararam de crescer ou estão encolhendo demograficamente, a Índia continua crescendo e as pessoas ainda migram de cidades terciárias e quaternárias para cidades secundárias e primárias [do campo para Mumbai, Delhi, Bangalore, por exemplo]. Ambas as situações impulsionam a demanda e o consumo internos.
Leia a entrevista completa:
O Brasil está no mapa global de investimento imobiliário?
Nos últimos 15 anos, o interesse internacional para investimento no mercado imobiliário brasileiro nunca foi tão baixo. Isso se deve a dois elementos.
O primeiro é o momento de incerteza global, com a guerra Rússia e Ucrânia e a guerra comercial entre China e Estados Unidos, que leva investidores a escolherem aplicações mais óbvias e menos arriscadas. Há excelentes oportunidades de retorno em mercados mais maduros, como escritórios, galpões e residenciais na Europa e nos Estados Unidos, considerados “no quintal de casa” desses investidores.
Fora isso, o outro elemento é o próprio mercado doméstico brasileiro. Há uma percepção externa de descontrole dos gastos públicos no Brasil, gerando insegurança sobre os rumos do estado brasileiro.
Algo novo, mas que tenho ouvido muito, são perguntas de fundos de investimento americanos e europeus sobre o envolvimento do crime organizado brasileiro nas esferas públicas de poder.
Fora isso, a questão cambial também contribui para afastar o investidor, com muita insegurança sobre a desvalorização do real — mesmo que a valorização atual esteja mais ligada a aspectos internacionais do que domésticos.
Nesse contexto, quem são os nossos principais concorrentes?
Antes de 2020, falava-se muito dos BRICs — cuja formação original era Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
No mercado de investimento imobiliário, há investidores mais conservadores, que buscam previsibilidade em mercados maduros como Singapura, Japão, EUA e Europa, e investidores dispostos a correr mais risco.
Para aqueles investidores que buscam mais risco, os BRICs não se posicionam mais igualmente. A Rússia está fora do radar, a China não é mais falada para investimentos pós-pandemia, e a África do Sul enfrenta problemas sociais e econômicos complexos.
Sobram Brasil e Índia da lista inicial. [/grifar]O Brasil não está atraindo investimentos, mas a Índia se destaca.[/grifar]
Outro destaque, este fora dos BRICs, é o México. O país atraiu muitos investimentos no ano passado devido ao nearshoring [realocação de indústrias de suprimentos da China para o México, devido à proximidade com os EUA, buscando diversificar a cadeia de suprimentos].
Essa criação de indústrias na fronteira com os EUA trouxe grandes investimentos em mercado imobiliário e infraestrutura, incluindo data centers, residenciais, galpões logísticos e industriais.
A Índia, no caso, tem alguma particularidade que você citaria?
A Índia apresenta um conjunto de elementos favoráveis. Entre eles, um governo "pró-business" após Modi ser reeleito, o que anima o mercado e traz e investimentos em infraestrutura. Cidades como Mumbai e Delhi são 'campos de obras' com metrôs, aeroportos e rodovias.
Também tiveram mudanças fiscais e tributárias pró-negócios, uma maior clareza nos processos de aprovação e uma drástica redução dos níveis de corrupção, especialmente ao nível federal. O processo de digitalização faz muitas pessoas que viviam na informalidade, gerando mais consumidores.
Enquanto Brasil e China pararam de crescer ou estão encolhendo demograficamente, a Índia continua crescendo, o que significa maior consumo interno. E lá as pessoas ainda migram de cidades terciárias e quaternárias para cidades secundárias e primárias [do campo para Mumbai, Delhi, Bangalore, por exemplo], impulsionando a demanda interna.
Como a Argentina fica nesse contexto?
Atualmente, os investidores internacionais mantêm uma postura de observação próxima em relação à Argentina.
Nos bastidores, muito se fala de uma importante “janela de oportunidade” se abrirá nos próximos meses, caso o governo de Javier Milei continue com as reformas e a agenda liberal.
A Argentina é vista como uma potência para o futuro próximo, talvez 2026 e 2027, podendo atrair investidores internacionais e competir com o Brasil, possivelmente até mais do que o México, na América Latina.