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Miami lidera ranking de risco de bolha imobiliária em 2025; São Paulo está segura

Estudo do UBS mede risco de bolha de acordo com ritmo de alta de preço de imóveis; São Paulo está no ranking, mas bem distante do topo

Na cidade com maior risco de bolha imobiliária, os aluguéis ficaram 50% mais altos em cinco anos (Divulgação/Divulgação)

Na cidade com maior risco de bolha imobiliária, os aluguéis ficaram 50% mais altos em cinco anos (Divulgação/Divulgação)

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercados

Publicado em 23 de setembro de 2025 às 15h43.

Última atualização em 29 de setembro de 2025 às 17h13.

São Paulo vive uma bolha imobiliária? De acordo com um novo estudo da UBS, definitivamente não.

O risco médio de bolha imobiliária nas grandes cidades, inclusive, caiu pelo terceiro ano consecutivo, refletindo uma diminuição do entusiasmo no mercado imobiliário, dizem Matthias Holzhey e Maciej Skoczek, os autores do estudo. O aumento das taxas de juros tem sido um fator crucial para a desaceleração.

Mas, nos últimos anos, algumas cidades se destacaram pelo crescimento acelerado de preços. Em Madri, a alta foi de impressionantes 14% no último ano, o maior crescimento entre as cidades analisadas.

Em maio, o governo espanhol ordenou o bloqueio de mais de 65 mil anúncios ilegais de aluguel por temporada, pois muitos não cumpriam exigências de licenciamento ou não informavam se o proprietário era pessoa física ou jurídica. Isso foi só parte de um movimento generalizado que tenta sanar a crise imobiliária no país. “Chega de desculpas. Chega de proteger aqueles que fazem do direito à moradia um negócio em nosso país”, disse ministro espanhol Pablo Bustinduy à época.

Enquanto isso, em lugares como Frankfurt, Paris, Toronto, Hong Kong e Vancouver os preços caíram quase 20% devido ao aumento das taxas de juros.

Dubai e Miami apresentaram um crescimento real de cerca de 50% nos últimos cinco anos — com Miami na dianteira no ranking do risco de bolha imobiliária.

Em São Paulo, o cenário é bem diferente. Na única cidade brasileira mencionada no estudo, os preços reais dos imóveis registraram uma queda de cerca de 25% entre 2014 e 2022. Apesar de um desempenho robusto nas vendas, os preços se mantiveram estáveis desde 2022, impactados pelas altas taxas de financiamento que chegaram a dois dígitos.

Neste cenário, alugar continua sendo uma opção mais acessível do que comprar. Os aluguéis reais aumentaram 5% no último ano, agora cerca de 25% acima dos níveis de 2022, refletindo a forte demanda de locatários e a baixa vacância em regiões bem localizadas da cidade.

Apesar da moderada inflação, o Banco Central do Brasil ainda não indicou uma redução nas taxas de juros, o que tem mantido o custo do financiamento elevado.

Com as taxas altas, o mercado de compras tende a seguir um caminho de estabilidade, dificultando grandes aumentos nos preços. Enquanto esse cenário persistir, grandes valorização de imóveis em São Paulo parece improvável, mantendo o mercado em uma fase de adaptação e cautela.

Desafios de acesso

Um dos maiores desafios para as grandes cidades no cenário atual é a questão da acessibilidade. Hong Kong, por exemplo, é considerada a cidade mais inacessível, com um trabalhador precisando de 14 anos de sua renda anual para adquirir um apartamento de 60 m².

Já Tóquio, Paris e Londres apresentam relações preço/renda que ultrapassam 10 vezes a renda anual média, demonstrando um grande descompasso entre os preços dos imóveis e a realidade financeira da população.

Com a dificuldade crescente para o acesso à moradia, o risco de intervenções regulatórias aumenta. Cidades como Vancouver, Sydney, Amsterdã, Paris, Nova York e Londres já enfrentam a imposição de novas regulamentações como aumento de impostos, restrições à compra e controle de aluguel, para tentar reduzir o impacto da especulação imobiliária.

Maciej Skoczek, coautor do estudo, destaca a tendência crescente de intervenção governamental, afirmando que as novas regulações podem diminuir o apelo de mercados que anteriormente eram altamente procurados. A alta contínua da dívida pública, que mantém os juros artificialmente baixos, pode trazer uma reviravolta para o mercado imobiliário.

Mas, com a expectativa de redução das taxas de juros até 2026, a demanda por ativos com retornos reais positivos, como imóveis, tende a crescer.

Ranking de bolha imobiliária em cidades pelo mundo

O estudo analisou os preços de imóveis residenciais em 21 grandes cidades ao redor do mundo para medir o risco de bolha imobiliária em cada uma delas. Os fatores essenciais que impulsionam a metodologia e definem o escore de risco de bolha são baseados na análise da dinâmica de preços, da acessibilidade e do contexto macroeconômico e regulatório de cada mercado.

O risco é considerado alto quando o escore é superior a 1,5, elevado entre 1,0 e 1,5, moderado entre 0,5 e 1,0, e baixo quando inferior a 0,5. Confira:

  1. Miami (Alto) - 1.73

  2. Tóquio (Alto) - 1.59

  3. Zurique (Alto) - 1.55

  4. Los Angeles (Elevado) - 1.11

  5. Dubai (Elevado) - 1.09

  6. Amsterdã (Elevado) - 1.06

  7. Genebra (Elevado) - 1.05

  8. Toronto (Moderado) - 0.80

  9. Sydney (Moderado) - 0.80

  10. Madri (Moderado) - 0.77

  11. Frankfurt (Moderado) - 0.76

  12. Vancouver (Moderado) - 0.76

  13. Munique (Moderado) - 0.64

  14. Singapura (Moderado) - 0.55

  15. Hong Kong (Baixo) - 0.44

  16. Londres (Baixo) - 0.34

  17. São Francisco (Baixo) - 0.28

  18. Nova York (Baixo) - 0.26

  19. Paris (Baixo) - 0.25

  20. Milão (Baixo) - 0.01

  21. São Paulo (Baixo) - -0.10

O que é uma bolha imobiliária e como identificar

Conhecida como efeito de um mal planejamento, uma bolha imobiliária ocorre quando os preços dos imóveis sobem de forma acelerada e desproporcional, distantes de seus valores reais. O fenômeno é alimentado pela especulação e pela alta demanda, mas quando esta "estoura", os preços caem drasticamente, gerando crises econômicas e sociais.

Para identificá-la é preciso ter atenção a indicadores econômicos. Alguns sinais incluem:

  • Crescimento desproporcional nos preços dos imóveis: Os valores aumentam mais rápido que a inflação, a renda da população ou os aluguéis;
  • Excesso de crédito fácil: Bancos oferecem empréstimos com pouca regulação, aumentando o número de compradores;
  • Alta especulação: Investidores compram imóveis apenas esperando valorização, sem considerar a viabilidade de uso ou aluguel;
  • Estagnação na demanda real: Quando muitas unidades ficam desocupadas, mesmo com o crescimento de construções.

O que acontece quando uma bolha imobiliária estoura?

Uma das bolhas mais significativas dos últimos anos foi a de 2008, nos Estados Unidos, que começou com a concessão desenfreada de financiamentos imobiliários no país, incluindo empréstimos subprime, de alto risco e com pouca garantia. O excesso de crédito alimentou a especulação, elevando artificialmente os preços dos imóveis.

Quando os compradores começaram a ter dificuldades para pagar os financiamentos, os bancos acumularam inadimplência e ativos depreciados, o que resultou no colapso de instituições financeiras e na crise econômica global conhecida como a Grande Recessão.

Uma das consequências mais graves foi o fato de milhões de pessoas perderem suas casas pela execução das hipotecas, e da taxa de desemprego atingir níveis recordes, ultrapassando 10% em 2009. Comunidades foram afetadas, com bairros inteiros de imóveis desocupados.

Para mitigar os danos, o governo adotou medidas emergenciais, como a redução agressiva das taxas de juros pelo Fed para estimular a economia e o pacote de resgate financeiro TARP (Troubled Asset Relief Program), que destinou US$ 700 bilhões para salvar bancos e outras instituições financeiras.

As cidades brasileiras têm riscos de bolha imobiliária?

No Brasil, especialistas discutem que o país também viveu uma situação parecida entre 2008 e 2014, quando viu um aumento expressivo nos preços dos imóveis, impulsionado por crédito facilitado e programas como o Minha Casa Minha Vida.

Embora tenha havido uma desaceleração e ajustes nos preços nos últimos anos, o setor imobiliário brasileiro não sofreu um "estouro" clássico, em parte devido à maior regulação do crédito e à menor especulação comparada a outros mercados.

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