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Elefante branco? Por que o Jockey Club pode ser desapropriado após 80 anos

A Prefeitura de São Paulo quer transformar o tradicional hipódromo em um parque público. Decisão passa por dívidas e pelo gradual desinteresse pela corrida de cavalos

Jockey: Aquilo que já foi símbolo de requinte e tradição desde os anos 1940 virou um elefante branco de mais de 600 mil metros quadrados às margens do Rio Pinheiros (Leandro Fonseca/EXAME)

Jockey: Aquilo que já foi símbolo de requinte e tradição desde os anos 1940 virou um elefante branco de mais de 600 mil metros quadrados às margens do Rio Pinheiros (Leandro Fonseca/EXAME)

Letícia Furlan
Letícia Furlan

Repórter de Mercado Imobiliário

Publicado em 25 de abril de 2025 às 08h00.

Última atualização em 25 de abril de 2025 às 08h22.

Aquilo que já foi símbolo de requinte e tradição desde os anos 1940 virou um elefante branco de mais de 600 mil metros quadrados às margens do Rio Pinheiros — e periga fechar as portas para dar lugar a um parque público. Pelo menos essa é a vontade da Prefeitura de São Paulo para a atual sede do Jockey Club.

Fundado em 1875, o Jockey administra o Hipódromo de Cidade Jardim, em uma área nobre (e disputada) da zona oeste paulistana. A entidade, uma das mais antigas do Brasil, foi criada inicialmente como Club de Corridas Paulistano e teve sua primeira sede no Hipódromo da Mooca, na Rua Bresser, na zona leste.

Em 1941, o clube inaugurou seu novo espaço numa área doada pela Companhia Cidade Jardim, cujo objetivo era prover aquela região da cidade com um equipamento de lazer, entretenimento, convivência e encontro dos paulistanos. Com 600.000 metros quadrados, o projeto do hipódromo tornou-se um marco não apenas para as corridas de cavalo, mas também como palco de feiras e eventos de grande porte.

“Enquanto se passaram estes 80 anos do início das atividades do Hipódromo — que teve seus momentos de glória no passado a cidade de São Paulo teve um crescimento exponencial, tornando-se o centro da 4ª maior e mais importante metrópole do mundo. A cidade tornou-se complexa, diversa e muito diferente. O Turfe [corrida de cavalo] não é mais algo que desperte interesse nos paulistanos e o espaço construído para o Hipódromo, hoje, é muito mal aproveitado no que se refere a representar um equipamento de lazer para as massas”, afirma a gestão em documento assinado pelo secretário Rubens Rizek Jr. e obtido pela EXAME.

Em nota, o Jockey afirma que a ideia de desapropriação serve “apenas a interesses escusos numa das regiões mais valorizadas de São Paulo”. O clube afirma que não há qualquer decisão judicial definitiva que valide a cobrança do imposto da forma feita pela prefeitura.

O Jockey Club pode ser desapropriado?

A prefeitura quer transformar o terreno do Jockey Club em um parque público. A área de 620 mil metros quadrados foi avaliada em cerca de R$ 90 milhões pela Procuradoria-Geral do Município (PGM). O plano da prefeitura é aceitar o imóvel como parte do abatimento da dívida ativa, processo conhecido como dação em pagamento.

O valor pelo qual o terreno foi avaliado é quase dez vezes inferior aos mais de R$ 860 milhões em impostos que o clube estaria devendo ao município — e que Jockey contesta, argumentando haver inconsistências no cálculo dos débitos tributários.

Apesar da área privilegiada, o valor de avaliação do terreno tem um motivo para ser baixo: a prefeitura considerou a localização do hipódromo em uma Zepam (Zona Especial de Proteção Ambiental).

Por ser uma área destinada à preservação e parques desde a atualização do Plano Diretor, em 2023, há restrições de uso e construção no local. Além da preservação ambiental, o local abriga edificações tombadas, impedindo a construção de novos empreendimentos.

A PGM, então, aplicou um deságio de 90% no comparativo com terrenos vizinhos para mitigar essas limitações.

Qual o argumento da Prefeitura de São Paulo para a desapropriação?

Além da dívida que milionária, a Prefeitura também lembra que a doação foi feita com um encargo vitalício, com a área devendo ser utilizada exclusivamente para corridas de cavalos. Caso o turfe deixasse de ser praticado, afirma, o terreno deveria ser revertido à máquina municipal para ser destinado a outro equipamento de lazer.

O argumento é que, após mais de 80 anos, o turfe deixou de atender ao propósito original, que era o de reunir os paulistanos em um espaço de convivência.

História antiga

Não é a primeira vez que a Prefeitura de São Paulo flerta com a ideia de transformar o Jockey Club em parque.

Em 2016, o então prefeito João Doria afirmou que transformaria o clube em um parque público, sem a cobrança de ingressos. Isso seria feito também em uma proposta de abatimento da dívida de IPTU que o Jockey já tinha com a cidade — de R$ 80 milhões na época. 

A ideia, que incluía também o Campo de Marte, na zona norte da capital, era negociar a abertura de ao menos parte dos espaços à população, paralelamente à realização de corridas de cavalo e à operação de heliponto. Após viabilizada, a gestão de ambos os equipamentos seria repassada à iniciativa privada por meio de concessão.

Apesar de o Jockey Club ser um patrimônio histórico e de interesse público, o terreno é privado, o que exigia negociações complexas para qualquer mudança de uso.

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