Mercado Imobiliário

Cyrela aposta alto: novo arranha-céu terá a vista mais elevada de São Paulo

Construtora quer seduzir alta renda paulistana com seu quinto lançamento acima de 135 metros de altura

Perspectiva da piscina coberta do On the Sky Bela Cintra: empreendimento da Cyrela terá vista mais alta da cidade (Cyrela/Divulgação)

Perspectiva da piscina coberta do On the Sky Bela Cintra: empreendimento da Cyrela terá vista mais alta da cidade (Cyrela/Divulgação)

Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 25 de novembro de 2024 às 20h07.

Última atualização em 25 de novembro de 2024 às 20h13.

“Nunca existiu nada em São Paulo construído nesta altura”. Assim, Efraim Horn, co-CEO da Cyrela, define o novo lançamento da incorporadora, uma torre com 144 metros de altura que será construída em um dos pontos mais altos da cidade, a três quadras da Avenida Paulista. Quando finalizado, em maio de 2029, On the Sky Bela Cintra estará a 956 metros do nível do mar, e será o edifício com vista mais alta da capital.

“Existe apenas uma coisa mais alta na cidade, que é o Pico do Jaraguá. Mas com Deus não vamos competir”, disse Efraim, durante o lançamento do empreendimento para corretores. O evento foi marcado por referências ao céu e às estrelas – mote de marketing do novo empreendimento – que iam desde dress code azul e branco até a aparição do CEO trajado como um cavaleiro Jedi e usando um sabre de luz.

O local escolhido para o lançamento foi a Roda Rico, na Marginal Pinheiros. Com 91 metros de altura, ela é a maior roda gigante da América Latina. “Quando estamos no topo da roda, ainda não chegamos no piso do On The Sky. Em uma comparação exagerada, seriam como três rodas gigantes empilhadas”, afirmou o CEO em entrevista à EXAME, concedida durante os trinta minutos de duração do passeio. 

Efraim é o filho mais velho de Elie Horn, fundador da Cyrela, e divide a presidência da empresa com o irmão Raphael desde 2014. Ele é responsável pela visão de produtos e marca, enquanto Raphael cuida da gestão. Embora participe de toda a gestão de projetos, Efraim não costuma dar entrevistas à imprensa. Os lançamentos são raras exceções.

No caso do On The Sky Bela Cintra, Efraim conta que a altura de 144 metros ficou muito próxima dos limites de aeronáutica da região, que estão em 150 metros. “Chegamos à altura máxima.”

O lançamento faz parte da corrida de alto luxo em São Paulo que, nos últimos anos, vislumbrou um novo potencial de crescimento com a verticalização. “Em algumas áreas de São Paulo, sempre foi possível construir prédios um pouco mais altos. Mas as construtoras preferiam fazer duas torres, que é um processo mais barato”, argumenta Efraim.

Para o alto luxo, a palavra de ordem é experiência. E para o CEO, os espigões são a tradução desse movimento. “A maioria delas [das experiências] são efêmeras, mas se você pode comprar uma casa que te proporciona isso para todo o sempre, por que não?”, questiona. Prova disso, segundo Efraim, é que ele próprio nunca antes havia comprado um imóvel da Cyrela até o lançamento do On The Sky Pompeia, precursor do Bela Cintra, com 147 metros.

Corrida vertical em São Paulo

Efraim admite que os espigões trazem desafios técnicos e financeiros para as construtoras que, ainda assim, enxergam vantagem no modelo. “É mais difícil de construir, de vender, o fluxo de caixa piora muito – a entrega é um ano e meio depois [de uma convencional]. Ainda assim, existe sim um reforço da verticalização na cidade.” 

Quem deu o pontapé inicial do movimento “para cima” em São Paulo foi a construtora Porte, ao colocar de pé o Platina 220, no Tatuapé. Com 172 metros de altura, o edifício entregue em 2022 tirou o posto de mais alto da cidade do Mirante do Vale, que mantinha o título desde a década de 1960. 

Até 2026, o novo prédio mais alto da cidade será o corporativo Paseo Alto das Nações, na Marginal Pinheiros, com 219 metros de altura – uma parceria do Carrefour Properties com as construtoras WTorres e EzTec. 

Entre os residenciais, a liderança deve ficar com o Vista Cyrela, lançado ainda este ano. Quando finalizado, em julho de 2029, o edifício terá 206 metros de altura – limite máximo permitido por lei na cidade. 

O prédio promete colocar a Cyrela na lista dos 10 edifícios mais altos do Brasil segundo o órgão internacional CTBUH (Conselho de Edifícios Altos e Habitat Urbano), que mantém um ranking dos maiores arranha-céus do mundo. 

“Não vamos ter concorrência para construir 10 prédios nas alturas [diferentes]. São Paulo é tão grande que cada empreendimento vai estar no seu bairro, ter sua marca e seu público”, diz. 

A aposta da Cyrela nas alturas

O primeiro flerte da Cyrela com os espigões veio em 2002, com o lançamento do Mandarim, no Brooklin, com 137 metros de altura. A semente ficou adormecida até o ano passado, quando a construtora lançou o On The Sky Pompeia, com 147 metros de altura, o segundo prédio da família Mandarim, também no Brooklin, com 122 metros de altura, e o Çiragan, nos Jardins, com 125 metros.

Os prédios gigantes  Vista Armani e o On The Sky Bela Cintra fecham o portfólio de seis arranha-céus residenciais. E a construtora vê espaço para mais. “Queremos dar a São Paulo a vista que ela merece”, diz. Para 2025, estão programados dois novos espigões da construtora entre as regiões de Pinheiros e Itaim Bibi: um de 206 metros de altura e outro de 180 metros de altura.

O mais recente lançamento terá 305 unidades com metragens de 56 metros quadrados a 169 m². O preço médio do m² será R$ 20 mil, colocando o apartamento mais barato ao preço de R$ 1,1 milhão e o mais caro em R$ 3,3 milhões. O valor geral de vendas (VGV) esperado para o projeto é de R$ 700 milhões.

Como de praxe, a Cyrela não pretende colocar o preço do m² em seu ponto máximo logo de largada, para permitir a valorização do empreendimento para os primeiros compradores. A expectativa de Efraim é que o projeto chegue a R$ 25 mil/m² – valorização de 25% frente ao lançamento. 

O bom resultado da construtora na alta renda paulistana tem sido um dos diferenciais que colocam as ações da Cyrela entre as favoritas dos analistas. A incorporadora teve um lucro líquido de R$ 473 milhões no terceiro trimestre deste ano, avanço de 88% ante o mesmo período de 2023 – quase 20% acima das expectativas. 

Os analistas do Santander acreditam que a ação da Cyrela está com um ponto de entrada – o papel é negociado a R$ 21,90 segundo o último fechamento, com queda acumulada de 12,42% no ano. Um dos fatores de atenção destacados pelos analistas é o “pipeline de projetos icônicos com forte proposta de valor, que continuam a apoiar um atraente desempenho de vendas.”

O Goldman Sachs também tem recomendação de compra para Cyrela. “O debate atual está focado no impacto do aumento das taxas de juros sobre a demanda pelo produto Cyrela, mas, em nossa opinião, a construtora se beneficia de seu foco na alta renda de São Paulo, que está vendo fundamentos favoráveis ​​de oferta/demanda”, escreveram os analistas.

Para fazer frente ao cenário macroeconômico mais desafiador, Efraim diz apostar em um portfólio “imune” aos ciclos econômicos. “Tentamos fazer um produto que as pessoas comprem, independente do preço”, explica. “Se existe uma Mercedes, que é o sonho de muita gente, custando 20% a menos, todo mundo compra. Temos que fazer produtos especiais com preço ótimo. Não podemos depender da economia.”

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